segunda-feira, 30 de junho de 2014

Capítulo 6: “Se for para o hospital, tenho medo que chamem os pais”


-Bom dia senhor António. – Respondeu Diogo.

-Bom dia pai. – Mas ao contrário dos rapazes, Sofia nada respondeu.

-Dormiram bem?

-Sim, o colchão até é bastante confortável.

-Também dormi bem, o calor é que me fez demorar a adormecer. – Disse Filipe. –E pai, a Sofia está aqui porque é sonâmbula, é capaz de ter vindo para aqui durante um sonho.

-Por isso é que encostaram a porta, para ela não fugir daqui.

-Sim, foi para te proteger a ti e á mãe.

-Para a próxima então, deixa então a janela aberta para o ar não ficar tão abafado. – Abriu a janela e foi até á porta mais uma vez. –São três pessoas a respirar o ar do mesmo quarto. Mas vá lá meninos, despachem-se que o pequeno-almoço está na mesa. – Saiu do quarto e foi em direção á cozinha.

-Que eu saiba não és sonâmbula.

-Então é porque não sou.

-Então porque dormiste aí? – Sofia podia dizer a verdade, que estava a chorar antes de dormir e Filipe a chamara para se deitar ao pé de si para a animar, mas não queria que ninguém o descobrisse. Apenas Filipe que o descobriu sem querer.

-Porque eu a chamei. Estavas a ocupar a cama praticamente toda e ela quase não tinha espaço para estar deitada. – Respondeu Filipe, mentindo, mas apenas para proteger a amiga.

-É bem capaz, tive sonhos muito estranhos! – Aceitou calmamente Diogo. - Mas vocês aproveitaram para outras coisas não foi?

-Se te disser que não, estou a mentir, por isso prefiro não te responder. – Disse Sofia.

-Se me respondesses que sim, diria que vocês são muito corajosos! Estavam na mesma casa que os pais dele e fizeram! E tiveram coragem para fazer no mesmo quarto que eu! O que vale é que até foram silenciosos. – Sorriram. –Sofia tens o peluche no chão. – Era um dos objetos que tinham mais simbolismo para Sofia, para além do anel presente no dedo anelar da mão direita.

-O peluche chama-se Miguel. – Respondeu friamente.

-Vamos comer? O meu pai já está à nossa espera. – Disse Filipe mudando de assunto.

-Claro! Sofia tens a pulseira no chão. – Afirmou Diogo demonstrando alguma frieza nas palavras, não era pelo simples facto dela ter ou não a pulseira, mas sim porque a irmã e o amigo insistiam em repetir o mesmo erro, mas desta vez, bem próximo do seu “olhar” atento. Ela pegou na pulseira e colocou-a no seu pulso e foram até á cozinha, António estava a preparar as bebidas junto á máquina do café, e Filipe aproximou-se da bancada, para ir preparar torradas. Tinha o corpo despido e estava de costas voltadas para todos, e foi bem visível aos olhos de todos as marcas presentes nos ombros dele. Eram várias arranhadelas, umas mais profundas que outras mas sempre em série de quatro, pareciam ter sido de dois gatos zangados que tinham andado á luta nas costas dele. Mas, mesmo lá no fundo, todos sabiam como tinham surgido aquelas marcas. Mas só poderia ter sido Sofia a fazê-las, apesar de inconsciente. Preferia não acreditar, de certeza que o tinham magoado noutra situação, mas assim como as marcas continuavam presentes, era natural que ainda causassem alguma dor. 
António observou, em simultâneo com Sofia e Diogo,  durante alguns segundos, mas nada disse, simplesmente fingiu não ver. Voltou a virar-se para a bancada e perguntou:

-Alguém quer café? – Diogo e Filipe responderam positivamente e Sofia pelo contrário, optou por beber um copo de leite frio.

-Querem torradas? – Perguntou Filipe ainda de costas para todos, deixando Sofia cada vez mais envergonhada, o irmão olhou para ela que corou e baixou a cabeça. Fingiu levantar-se para procurar açúcar e colocou-se ao lado dele e sussurrou-lhe:

-Vai vestir uma t-shirt, depois explico-te. – Sentou-se á mesa e Filipe foi até ao quarto onde vestiu a t-shirt e rapidamente voltou para a mesa da cozinha, por sorte ninguém lhe perguntou porque o tinha feito. Começaram a comer e algum tempo depois terminaram, Sofia ficou a arrumar a cozinha enquanto António foi embora em direção ao trabalho e enquanto Filipe e Diogo foram-se despachar para ir para o treino. Quando terminaram despediram-se, e Sofia  ficou mais uma vez sozinha.

Tinha de fazer alguma coisa para não começar a pensar demasiado na sua vida, para não chorar com todas as recordações que o coração fazia questão de nunca esquecer, não queria dormir, sentia-se demasiado energética para isso, por isso decidiu fazer algo que não fazia desde que regressara de Espinho, dedicou-se a uma das suas paixões, a escrita.

“Querido Pedro,
Sabes quantas vezes sorri por tua causa? Sabes quantas vezes chorei por não te ter ao meu lado? Deves estar “alapado” no sofá a ver um jogo ou a treinar, feliz, e nem sabes a montanha-russa que se tornou a minha vida, sem ti. Mas deixa-me contar-te tudo o que sinto. Tenho saudades tantas saudades tuas, saudades que nem te passa pela cabeça. Saudades dos nossos momentos, dos nossos beijos e das tuas palavras, saudades do tempo em que viviamos como se fossemos um, porque sem ti, estou incompleta. E por isso mesmo, nem quando estou com outra pessoa te esqueço, meu amor. Tu és a minha vida e a minha única paixão.
E é por te amar como nunca amarei mais ninguém que não desisto de lutar por ti, porque acredito que podemos estar juntos novamente. Podes nunca ler este pequeno desabafo mas serve para mostrar o que sinto por uma das pessoas mais bonitas que conheci até hoje, tu. E nunca me irei esquecer do pequeno ser que desenvolvemos no meu corpo, que aquele homem sem coração, me obrigou a expulsar. E sim, agora estou aqui, em casa, bem próximo de ti, mas ao mesmo tempo tão longe e olho para todos os momentos que passamos juntos, e só com uma palavra que resume tudo o que sinto: saudades! São apenas 7 letras, com 3 sílabas mas muito significado, nunca duvides que eu te amo, como mais nenhuma te ama.
Da mulher que nunca te esquecerá,
Sofia Roch(inh)a “


Perdera já a conta ás vezes que chorou por causa da sua bonita, mas sofrida história de amor, mas era a primeira vez que Pedro a fizera chorar. Nunca duvidara até então que o sentimento era recíproco, mas depois de o ver a beijar aquela rapariga, começou a duvidar dos seus verdadeiros sentimentos. No lugar dele teria esperado, nunca desistiria do verdadeiro amor.

Tinha sido com Pedro o seu primeiro beijo, e foi também com ele que fez pela primeira vez amor, era ele o pai do filho que perdera,  tinha sido ele o seu primeiro e único amor, como poderia simplesmente... Esquecer tudo? Sim, tinha-se relacionado com Filipe, já o assumira a si mesmo e pesara-lhe a consciência, mas nunca esquecera de Pedro, nem por um segundo, enquanto esteve com Filipe.
Limpou as lágrimas que escorriam pelas bochechas e foi tomar banho, para recuperar as forças e sentir “leve” vestiu-se e depois maquilhou-se. Iria lutar por ele e pela felicidade junto de Pedro. Pegou num lápis e começou a desenhar, gostava de o fazer sim, mas não o sabia fazer tão bem quanto Pedro. 
Mais uma vez lembrou-se do sorriso genuíno que ele tinha, um sorriso tímido ao início, mas que começava a revelar-se com o passar dos tempos. Depois de ter o desenho pronto, saiu de casa. Sabia bem o que ia fazer com o desenho, tinha tudo bastante pensado na sua mente. Pedro iria sempre fazer parte do seu coração, iria ser para sempre um exemplo e a história. Ele iria sempre fazer parte do coração de Sofia, e ela iria demonstrá-lo no seu corpo. Tatoou o nome dele. Pagou e regressou a casa.


Esperou pouco tempo em casa pelo irmão que quando chegou lhe pediu para ir até ao carro. Iriam almoçar fora de casa e traziam companhia. Sofia, no seu íntimo, queria que fosse Pedro, queria vê-lo novamente, conversar, mas sabia que o irmão não iria juntar Filipe e Pedro, consigo. Saiu da vivenda enquanto o irmão ficou no seu interior procurando o telemóvel que tinha lá deixado, e olhou para todos os lados, e nem sinal do carro nem de Filipe, nem de Diogo. Voltou mais uma vez a observar a rua e ouviu:

-Soff! – Filipe chamara-a de um carro amarelo que era de todo desconhecido. Ela aproximou-se e olhou para o lugar do condutor, nunca tinha falado com ele, mas sabia quem era. Os dois ambos saíram do carro e Filipe continuou a falar. – Espero que não te importes, mas trouxe companhia para nos ajudar a ver casas. – O rapaz deu uma palmada com pouca força na cabeça de Filipe e disse:

-E apresentares não? – Aproximou-se dela e deu-lhe dois beijos na face. –Bernardo Silva.

-Sofia Rochinha. – Respondeu. – Prazer.

-O prazer é meu e é todo na cama. – Disse Filipe e Sofia corou, claramente dissera aquilo para brincar com o facto de se envolverem, mas ela ficou envergonhada mesmo assim.

-Mas alguém te perguntou alguma coisa Pipinho? – Sofia não conseguiu conter uma gargalhada.

-Pipinho é muito bom! 

-És irmã do Diogo, certo?

-Sim, sou.

-Não são nada parecidos. Mas eu deduzi logo pelo apelido.

-Temos poucas semelhanças fisicamente, isso é verdade.

-Já vi que te deste bem com o meu melhor amigo. – Disse Bernardo.

-Sim, já o conheço há mais de um ano e agora que vivemos juntos ainda nos tornamos mais próximos.

-Pudera... – Disse Filipe em tom de sussurro.

-E como é que consegues viver com este cabeçudo? Só a cabeça dele ocupa meia casa. – Sofia sorriu.

-E partilho quarto com ele, por isso imagina o meu sofrimento! – Sofia começou também a brincar com a situação. – Pelo menos até encontrarmos uma casa para vivermos os três.

-Tem de ser uma casa grande com aquelas duas cabeças. – Filipe limitava-se a não responder.

-E a minha? – Perguntou ela.

-A tua não. A tua é de tamanho normal. – Sorriram. – És mais velha ou mais nova que o Diogo?

-Mais nova, não chega a um ano.

-Então ainda és menor.

-Sim, só faço os dezoito em Março.

-Ele pode ser? – Pronunciou-se Filipe. – Ele é meu melhor amigo, gostava de ter uma opinião dele.

-Pode, mas ele que não conte a ninguém.

-Voltei meninos. – Disse Diogo surgindo e interrompendo a conversa. – Desculpem a demora mas o telemóvel estava bem escondido.

-Não faz mal Diogo, estive aqui a falar com o Bernardo. – Respondeu animada Sofia.

-Nada de tentares nada com a minha irmã, já me basta o Filipe. – Sofia corou, o irmão estava a tentar protegê-la mas também, por vias de facto, a afastar uma das pessoas que a fizeram rir naturalmente, apesar de ter sido durante um curto espaço de tempo. Entraram para o carro sem dizer nada. Começaram o caminho e Diogo perguntou, claramente fugindo a qualquer pergunta indiscreta de Bernardo sobre aquela “relação” de Filipe e Sofia:

-Então e a Clara?

-Clarinha senão te importas. – Respondeu Bernardo sorrindo. –Está no norte. – Respondeu claramente desanimado. – Mas vem cá no fim de semana para matarmos saudades!

-Ela deixou-te mesmo bonito... – Disse Filipe brincando com o amigo.

-Eu já era bonito, mas ela tornou-me ainda mais! Tu estás é com inveja de eu ter alguém que goste mesmo e da nossa relação e tu, parvo não tens porque és parvo e não fazes nada. 

-Mudando de assunto... – Acrescentou Filipe. – Como é que consegues manter uma relação á distância? Quer dizer, não ficas a morrer de saudades dela?

-Sim, óbvio que sim. E não é fácil, é preciso haver muita confiança um no outro e gostarmos ainda mais da outra pessoa. Mas o facto de não estarmos juntos quando queremos, mas sim quando pudemos ainda nos aproxima mais, porque aproveitamos cada segundo como se fosse o último. Claro que preferia tê-la aqui, mas desde que a tenha comigo é o que importa!

-Oh que romântico! – Respondeu Sofia claramente emocionada. – Como é que se conheceram?

-Ela era minha fã, falamos algumas vezes pelo facebook, ela foi ver uns jogos meus, depois conversa puxa conversa e acabou por acontecer. Mas pior foi conversar com o pai dela e explicar tudo, afinal são alguns anos de diferença.

-Há quanto tempo estão juntos? Senão for muito indiscreto perguntar, é claro.

-Sete meses, faz daqui a oito dias. – Respondeu claramente orgulhoso.

-Muitos parabéns Bernardo! – Respondeu claramente feliz por ele. –Se alguma vez precisares de ajuda ou de algum apoio conta comigo!

-Obrigada Sofia! – Respondeu estacionando o carro. – Posso fazer-vos uma pergunta mais indiscreta, Filipe e Sofia?

-Sim... Podes. – Disse Sofia claramente envergonhada.

-Vocês já se envolveram ou estiveram em vias de facto? – Sofia baixou a cabeça sem saber o que responder.

-Depois eu explico-te tudo. – Respondeu Filipe e saíram do carro. –Mas sim, envolvemo-nos.

Foram almoçar juntos a um restaurante conhecido e depois de terminaram, começaram a longa tarde de visitas a potenciais casas. A primeira casa era a ideal para duas pessoas, mas demasiado pequena para três. Tinha apenas uma casa de banho apesar de dois quartos, a renda era bastante acessível, mas não correspondia aos desejos deles. Para além de que, a localização não era a mais agradável, apesar de o centro de Lisboa ser uma boa zona a nível de transportes, era longe da escola de Sofia e do centro de treinos de Filipe e Diogo.

Partiram para a segunda casa, com uma localização mais agradável, bem próxima do Seixal, o que era uma excelente localização para todos. E a casa correspondia aos desejos de todos, não era muito grande, apesar de ter os 3 quartos que desejavam, e as duas casas de banho que pretendiam. Tinha uma agradável sala de estar e a cozinha tinha o espaço suficiente para cozinharem e comerem. Tinha tudo o que precisavam. Mas apenas tinham visto duas casa, tinham de ver mais até tomar a decisão final.

Quando terminaram a visita, todos estavam cansados. Tinha sido um dia muito agitado, principalmente para Sofia e o dia anterior tinha sido igualmente forte tanto a nível físico como psicológico. Que sabia que não se poderia esforçar em demasia, o corpo não conseguia suportar muita exigência. O corpo ainda não tinha acabado de desenvolver, mas também devido ao seu problema de saúde. Começou a sentir uma dor no estômago, que embora fraca começou a aumentar a cada segundo mais e mais. O irmão sabia bem qual era o problema de saúde da irmã e logo que entendeu o seu estado de aflição, segurou-a e perguntou-lhe:

-Sofia os teus medicamentos? – Ela ouvira-o e tentava ao máximo fazer-se de forte, mas as dores tornavam-se agoniantes.

-Eu não os trouxe. – Respondeu com pouca força e coragem.

-Tens em casa? – Perguntou limpado os suores frios que percorriam a testa e as feições de Sofia.

-Não Diogo. Eu não os trouxe... Mesmo. – Respondeu deixando bastante claro que a única possível solução para a sua cura, não era sequer uma opção de momento.

-Como é que eles se chamam, sabes?

-Não.

-Então temos de ir ao hospital. – Disse e pediu a Bernardo para chamar uma ambulância, mas Sofia agarrou na mão do irmão e pediu:

-Não, isto passa. Eu não quero ir para o hospital.

-Sofia temos de ir, senão ainda te acontece alguma coisa mais grave.

-Tu sabes que se for para o hospital, vão chamar os pais. Eu... Não quero. – Depois de dizer estas palavras desmaiou.

Será que Diogo vai fazer o que a irmã lhe pediu?
Ou será que a irá levar até ao hospital? E será que os pais irão descobrir onde ela está?

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Capítulo 05: “Já tinha dito que era a última vez”


Sofia sabia que ia desiludir o irmão, e que não merecia o seu perdão. Traira a sua confiança. Acreditava que, mais cedo ou mais tarde, ele iria acabar por descobrir e tinha de lho dizer. Filipe sabia que o que tinham feito não era o correcto, e o melhor a fazer era assumir o erro.
Estavam sentados lado a lado sob a cama dele enquanto Diogo estava sentado no colchão onde a irmã dormira. O silêncio reinou aquele quarto durante algum tempo, até que Diogo o irrompeu:

-O gato comeu-vos a língua? – Perguntou impaciente Diogo.

-Contas tu ou conto eu? – Perguntou Sofia a olhar para Filipe.

-É melhor contares tu. –Sofia levantou-se da cama e foi fechar a porta do quarto.

-Acredita que nunca pensei que isto acontecesse e penso que a Sofia também não. E não te peço para esqueceres nem para compreenderes, mas antes de tomares uma decisão precipitada ouve-me com atenção. Nenhum de nós planeou, simplesmente aconteceu. Nós envolvemo-nos... Duas vezes.

-Não me digas que simplesmente aconteceu, não é desculpa. Vocês têm idade, maturidade e responsabilidade para controlar os vossos impulsos. Sabiam muito bem o que estavam a fazer e continuaram. E ainda tiveram a lata de repetir! – Diogo demonstrava bastante bem a sua fúria, a sua tristeza, a sua desilusão e a sua magoa. –Eu confiei-te a minha irmã Filipe, pedi-te para tomares conta dela e tu... Levaste-a para a cama, menos de vinte e quatro horas depois de viverem juntos. E tu Sofia... – Olhou para a irmã. – Tu amas o Pedro, lutaste um ano para teres a oportunidade de voltares a estar com ele, deixaste tudo para trás por ele. E fizeste isto. É natural que estejas carente, compreendo, mas não achas que devias ter esperado? Sabes que só com ele serás feliz. Como é que achas que ele vai reagir quando souber?

-O Pedro já não quer saber de mim, senão tinha esperado por mim em vez de arranjar outra pessoa. – Confessou com a voz a tremer e a falhar. – Não tentes arranjar culpados, ambos temos culpa.

-Segundo a tua lógica, então eu também usei a Sofia. – Respondeu Filipe. –Também estou apaixonado e não deixei de ir para a cama com a tua irmã.

-Tu estás apaixonado? – Perguntaram em simultâneo Diogo e Sofia.

-Sim. – Respondeu calmamente. – Estou apaixonado pela Jéssica há dois meses, mas não tenho coragem de assumir. E também estava carente, há 9 meses que não tinha sexo! Nem só de pão e água vive um homem,  Diogo! – Filipe conseguiu acalmar a tensão que existia naquele quarto com aquelas palavras engraçadas.

-Querem mesmo falar sobre isso? – Perguntou Diogo olhando para eles. –Estou há ano e meio! – Filipe e Sofia olharam atentamente para Diogo e ela é que teve coragem para perguntar:

-Como é que sobrevives? – Perguntou divertida.

-Pode ser que arranje uma amizade com benefícios, como vocês.

-E depois quando tivermos a nossa casa levas-a lá para casa.

-Estou é a ver que vai ser mais o tempo que vou estar fora de casa para não ser vela, do que o tempo em que vou estar lá. – Disse Diogo suspirando.

-Pior vou ser eu! – Queixou-se Sofia. – Os meninos vão para estágio, seleção ou outra coisa e eu fico sozinha em casa. Para melhorar nem sequer saber cozinhar!

-Compras um cão, assim já não estás sozinha e já não tens medo! – Sofia olhou para Filipe fingindo não achar piada mas não conseguiu fingir durante muito tempo, sorriu e depois deu-lhe uma cotovelada trocando um olhar cúmplice.

-Mas vamos jantar que os teus pais já estão á nossa espera, além do mais, quero vir deitar-me, estou cansada.

-Porque será... – Sugeriu Diogo.

-Fica sabendo que as coisas são para se serem bem-feitas, ainda não tive queixas até agora.

-Até parece que foram muitas até agora, senhor playboy... – Sofia respondeu-lhe.
Levantaram-se para ir jantar, mas Diogo deixou que um pensamento seu fosse mais alto.

-E como é que vocês vão ficar depois disto? Afinal vamos viver os 3 juntos.

-Sinceramente.. Nem nós sabemos. – Admitiu Sofia.
Saíram do quarto e foram em direção á cozinha, os pais de Filipe já estavam á espera para o jantar. Sentaram-se á mesa e ficou Sofia ao lado do irmão e Filipe ao lado da mãe, enquanto António Nascimento se encontrava na cabeça da mesa. Durante a refeição a televisão encontrava-se sempre desligada para assim falarem melhor e foi Diogo que tomou iniciativa:

-Obrigada por tomarem conta da minha irmã, por a deixarem entrar na vossa casa e por lhe oferecem o que não lhe posso dar, por enquanto. Prometo que farei tudo para ser apenas uma situação breve, e vou-vos pagar toda e qualquer despesa que eu e a minha irmã demos.

-Diogo, não precisas de apressar nada, nós até gostamos de ter a Sofia connosco é boa rapariga e é sossegada. – Quem falou foi a mãe de Filipe, Maria. – E não precisas de pagar nada, aliás ficamos chateados se nos deres dinheiro. Temos é de pedir desculpa á Sofia por tudo. Tem de partilhar o quarto com o Filipe e dormir num colchão, mas vamos tentar melhorar e fazê-la sentir em casa.

-Nós já percebemos que se passou algo. – Disse António Nascimento e tanto os irmãos como Filipe ficaram sem reação possível, como seria possível que tivesse descoberto o que se havia passado entre eles? –Algo com o vosso passado e que envolve a vossa família. E vocês não querem falar, mas talvez fizesse melhor falar, talvez vos pudéssemos ajudar. E talvez precisem, afinal vocês ainda são dois miúdos, a Sofia ainda nem deve ser maior de idade. – Talvez Sofia estivesse a ser procurada pela polícia e o mais certo era já ter sido dada como desaparecida pelos pais, mas não iria voltar para perto do homem que lhe deu a vida, iria lutar pela sua felicidade junto do irmão e do seu amigo Pipo, não iria desistir do que a trouxera de volta. Iria reconquistar Pedro ou pelo menos contar-lhe o que se tinha passado para a obrigar a afastar-se dele.

-Sim, é verdade que se passa algo. – Respondeu Diogo. –É um assunto bastante complicado, para além de envolver a nossa família, envolve o nosso passado e o nosso presente. Agradeço-lhe, mas em relação a este assunto, só nós e os nossos pais podemos resolver.

-Mas diz-me só uma coisa. A Sofia é menor não é?

-Sim, sou. – Desta vez quem respondeu foi a própria.

-Os teus pais sabem que estás aqui? – O silêncio apoderou-se da cozinha, ninguém sabia muito bem o que responder. Não queria mentir mas também não podiam dizer a verdade.

-Nós queremos procurar uma casa para moramos os 3. – Anunciou Filipe, tentando fazer esquecer aquela pergunta que ficou no ar.

-Não estás bem cá em casa filho? – Perguntou Maria.

-Estou mãe, estou muito bem até, mas eles vão viver juntos e eu quero ir também, quero começar a lutar pela minha independência e viver com as responsabilidades de ser um adulto, com a minha casa e pagar as contas, fazer as compras e sustentar-me, e acho que chegou a altura certa e a oportunidade é excelente.

-E tens a certeza que é isso mesmo que queres? – Perguntou António. – Podemos bem fazer umas mudanças cá em casa e dá para vivermos todos.

-Nós só não queremos dar trabalho. – Disse Sofia. – E vão ficar em despesas muito maiores por nossa causa.

-Não pai, sabes que não é a mesma coisa.

-E já andaram a ver casas? – Perguntou Maria, claramente emocionada.

-Eu fui hoje a uma agência imobiliária tratar de tudo e amanhã já tenho agendada visitas a duas casas.

Maria ficou claramente emocionada pelas palavras do filho, por ele querer ir viver para a sua própria casa, por querer ser “independente” dos pais, era o filho mais novo, já não era a primeira vez que ouvira aquelas palavras, mas não estava preparada para ouvi-lo. Queria proteger o filho, queria proteger os irmãos Rochinha como se fossem seus filhos, até porque eles estavam sozinhos, sem contar com o apoio dos pais. Diogo não demonstrava necessidade de afeto, mas Sofia “gritava” que precisava de carinho e só o apoio de um irmão mais velho não era suficiente, faltava-lhe maturidade para poder ajudar a irmã, faltava-lhe um instinto paternal que só conseguia ter depois de ser pai. Maria era uma pessoa atenta e uma mãe carinhosa, apesar de Sofia ter escondido os cortes com todo o cuidado, a mãe de Filipe já tinha visto os cortes mas não sabia como abordar o tema.

-Mas já sabem que a porta da nossa casa estará sempre aberta. – Disse tentando esconder as emoções que sentia. –E Sofia quando eles tiverem fora, para não ficares em casa sozinha, sabes que podes vir á vontade.

-Obrigada dona Maria. – Respondeu Sofia.
Continuaram a conversar durante todo o jantar, Sofia não conseguia parar de pensar nas surpresas que aquele dia lhe trouxera, enquanto Maria tentava dar a entender que o facto de Filipe quer ir viver para a sua própria casa não a afetara. Quando acabaram de jantar, todos arrumaram a cozinha e iam para a sala conversar mais um pouco, mas Sofia estava cansada, além do seu corpo, até a sua mente pedia descanso, por isso despediu-se de todos e foi até ao quarto. Vestiu o pijama e deitou na cama, começou a ouvir música mas o sono não aparecia, embora o corpo e a cabeça sentissem cansaço, todos os pensamentos centravam-se numa pessoa, Pedro.
Sofia sabia que ainda era cedo e no dia seguinte poderia ficar a dormir até mais tarde, mas queria permanecer deitada, queria ouvir as letras das músicas que a animavam, mas também a deixavam triste, não queria incomodar ninguém com os seus problemas, queria apenas chorar sossegada. 

Mas em simultâneo queria sentir que alguém a amava, mas não queria falar, não queria explicar nada, por isso ficava apenas sozinha.
Sofia tentou adormecer e conseguiu durante alguns minutos, mas assim que o irmão e Filipe chegaram ao quarto voltou a acordar. O irmão tirou-lhe os fones dos ouvidos e pousou o telemóvel na mesa de cabeceira, e deitou-se ao seu lado, mas como o colchão não era suficientemente grande, tinham que se tocar. E aquele quente do contacto com o corpo do irmão faziam-na sentir estranhamente protegida, mas mais carente. Pedro era uma pessoa tão quente como o irmão e era aquele toque que ela sentia saudades como de mais nada sentira saudades antes.


Esperou algum tempo, até sentir o silêncio profundo naquela casa, silêncio que revelava que tudo dormia profundamente e deixou cair as lágrimas pela sua face, primeiro mais devagar, até um nível mais rápido e desesperante, queria que os olhos deitassem fora toda a dor que sentia, toda a dor e mágoa que aquele dia lhe tinha dado. Sabia que não conseguia chorar até as forças acabarem, que não conseguia libertar todo o seu sentimento com aquelas pequenas gotas de água, mas quando o fazia sentia-se mais liberta de si mesma e do mundo.

-Sofia. – Aquela voz assustara-a. Pensava que toda a gente naquela casa dormia profundamente mas enganava-se. – Estás a chorar?

Limpou as lágrimas e tentou falar disfarçar o nervosismo que sentia, não queria partilhar com ninguém o que sentia, não queria que ninguém soubesse que chorava sozinha á noite na cama, enquanto todos os outros dormiam.

-Não Filipe, não estou.

-Se estivesses bem tinhas-me chamado Pipo.

-Eu estou bem Pipo, a sério.

-Sofia anda para aqui. – Hesitou, não sabia se deveria aceitar ou não.

-Não sei... É melhor não.

-Anda lá Soff. – Sofia sorriu. – Eu sei que não estás bem que estás apenas a tentar mostrar que estás.

-Estou a ir. – Levantou-se e tentou não incomodar o irmão que dormia pacificamente. Saiu da cama e deitou-se ao pé de Filipe, frente a frente mas tentando que não existisse contacto.

-Que se passou Sofia? Porque choras?

-É tudo Pipo, tudo junto. Eu sei que o meu pai. – Era a primeira vez que o chamava assim desde que ele a obrigara a abortar. – Pode ser cruel, insensível e mau, mas não deixa de ser meu pai, é graças a ele que nasci, ele não deixa de ser sangue do meu sangue. Mas não consigo compreender e aceitar porque é que ele me obrigou a fazer o que fiz. E no fundo tenho medo de me tornar o monstro que ele é. E ao mesmo tempo também é a minha mãe. Porque é que não lutou a meu lado? Ela sabia que o meu sonho sempre foi ser mãe, sabia o quanto amava e amo o Pedro e mesmo assim.. Mas ao mesmo tempo também tenho saudades deles, foram eles que me criaram, são eles os meus pais, foram eles que me deram vida, são eles o sangue do meu sangue e eu limitei-me a desaparecer. Sei que vou ter saudades deles e podia ter feito as coisas de outra forma, mas a forma como a fiz, foi um grito de desespero. E é o Pedro, eu sei que o devo ter magoado imenso, mas também sei que ele me amava e agora... Está com aquela rapariga. Porque é que ele não esperou por mim? Porque é que está com ela? Será que a ama mais do que amou a mim? E o Diogo? Será que ele sabia de tudo e não me disse nada com medo de me magoar? Preferia que me tivesse dito tudo do que ter descoberto desta forma. – Desabafou tudo aquilo que sentia com as lágrimas a atravessarem-lhe o rosto.

-O teu pai... Ele ama-te muito e talvez tenha sido a forma dele te proteger do que achava um erro. Claro que deveria ter agido de outra forma e o que fez não tem perdão, mas secalhar na cabeça dele faz sentido. E a tua mãe talvez não tenha feito nada por receio e talvez porque no fundo concordava com ele e não conseguiu reagir. O Pedro... Bem, ele pode estar com essa rapariga, não porque a ama, mas porque precisava de alguém para amparar a queda. E talvez ela o tenha apoiado quando precisava de ti. Tu desapareceste e vocês andaram durante imenso tempo e ele estava carente. Reagiu como nós reagíamos Sofia. E o Diogo talvez não soubesse de nada, ou se sim, talvez não te tenha conseguido contar, ele também não tem um papel nada fácil no meio desta história toda. Tu és irmã dele, mas também são os pais dele, talvez ele e o Pedro sejam amigos. Porque tu estás mal mas o Diogo também não está bem sabendo como tu estás. E ele tenta ajudar-te no que pode e ainda há pouco tiveste a prova, quando lhe demos a notícia, ele mostrou bem como ficou desiludido connosco.

-Obrigada Pipo! – Como era mais baixa que Filipe deu-lhe um beijo no pescoço que lhe causou um calafrio que ela também sentiu.

-Sofia... – Sussurrou. Ela pousou o dedo indicador sobre os lábios dele.

-Não digas nada Filipe. – Começou a beijar-lhe o pescoço e rapidamente ele ficou arrepiado. Percorreu a delinear linha do pescoço com beijos e chegou até aos lábios, que beijou fugazmente. Pegou nas mãos dele e colocou-as sobre o fundo das suas costas. Ele separou os lábios e disse:

-Já tinha dito que era a última vez.

-Tu disseste, eu não. – Voltou a beijá-lo e colocou as mãos sobre o peito a descoberto de Filipe. Ele agarrou-a e colocou-a deitada sobre si. Beijaram-se fugazente e com desejo bem presente e acesso entre eles. Filipe dormia apenas com uns calções enquanto Sofia tinha vestido um pijama bastante reduzido. Ele despiu-lhe a camisola e percorreu a sua barriga com beijos, massajou-lhe o peito e quando notou que Sofia o desejava, despiu-lhe os já curtos calções. Ela não se deixou ficar para trás, colocou-lhe a mão sobre as nádegas e conseguiu também tirar-lhe os calções.


Estavam apenas em roupa interior e loucos de desejo, mas Sofia lembrou-se que não poderiam ser descuidados, senão poderia mais tarde arrependerem-se, por isso ele colocou o preservativo (por sorte tinha um último na mesa de cabeceira) e fizeram o que o desejo os mandava fazer. Por sorte, Sofia antes de se deitar junto a Filipe tinha ido encostar a porta do quarto e Diogo tinha um sono pesado e não acordava facilmente, e com o ressonar conseguiu “abafar” os sons provocados por aquele “casal”.

Quanto terminaram vestiram-se e Sofia adormeceu, bastante exausta, junto a Filipe e ele com medo que ela acordasse durante a noite e se sentisse sozinha deixou-a ficar e colocou o despertador um pouco mais cedo do que era habitual, de forma a conseguir acordá-la e a fazê-la deitar-se junto ao irmão. Adormeceu pouco depois, também exausto pelo dia que tivera.
No dia seguinte, quem os acordou foi António, que se deparou com aquela situação e ficou tão surpreendido como  Diogo. E fez questão de dizer:

-Bom dia meninos. – Olharam os três. – Sofia que fazes na cama do Filipe?


Porque é que o despertador não tocou?
Irão dizer a verdade? Ou vão arranjar uma desculpa plausível?