sexta-feira, 13 de maio de 2016

Capítulo 24: "Sofia, talvez um dia mas hoje não"


(Pedro)
Parecia que o mundo iria ruir sobre os seus pés, que tudo iria descambar sobre si, a vida dificultara-lhe os planos, os sonhos, roubava-lhe quem mais amava e quem mais queria, a dor era tamanha mas a felicidade também deveria sentir-se, nem que fosse pela rapariga, afinal Sofia ia realizar o seu maior sonho, a vida dera-lhe uma segunda oportunidade de ser mãe e ele devia ficar feliz por ela, mas ele não era o pai daquela criança… Estava certo disso. Ela iria ser mãe e Filipe o pai daquela criança, assim como ele seria pai… De um filho de Matilde. Não a iria abandonar, iria viver uma vida inteira ao lado dela apenas para fazer do filho o ser mais amado do mundo e Sofia iria ficar sempre com Filipe, afinal ele era a única pessoa que a conseguira fazer recuperar a felicidade e mais que isso, era ele o pai do seu filho. Sentou-se no sofá e começou a chorar, sentia uma mão apertar o seu coração e uma aflição para respirar, a vida não podia ser tão madrasta, o destino não poderia ser tão duro para eles. Respirou fundo, voltou a respirar e mais uma vez tentou acalmar-se mas parecia impossível.

-Pedro, eu quero que saibas… - Foram interrompidos pela fechadura a abrir que os assustou, mas mesmo assim a reacção era a mesma, Pedro só chorava e Sofia sentada ao seu lado, sem saber o que fazer, queria falar mas não conseguia.
-O que é que fazes aqui?!
Ficaram ambos assustados com aquela voz... Não, seria demasiada coincidência ela aparecer ali, naquele momento e vê-los.

-Eu não acredito Pedro! Juro que não acredito! - Disse revoltada. -No dia de Natal, Pedro! No próprio dia de Natal tu traiste-me! Traiste-nos, a mim e ao teu filho! Não tens vergonha?!
-Não é nada disso que estás a pensar... - Disse Sofia, tentando defender o seu amado.
-Tu não te metas! A culpa disto é toda tua! Antes de apareceres estava tudo bem! És o meu pior pesadelo, o pior pesadelo de toda a gente, não fazes falta nenhuma, só vens fazer estragos ainda não percebeste?!
-Estás a ser injusta Matilde!
-E tu que não a defendesses, Pedro!
-A Sofia é adotada, simplesmente estou a dar-lhe apoio!
-A menina não podia chorar no ombro do irmãozinho ou do namorado? Tinha de vir chorar para os ombros do meu namorado?

Pedro sentia que tinha de optar por uma das raparigas, ou a mãe do seu filho, ou a mulher que mais amava... Que estava grávida de um filho que não era seu.

-Matilde, ouve-me por favor. - Pediu Pedro tentando acalmar a situação. - Nenhum dos dois sabe o que é ser adotado e o que a Sofia deve estar a passar e, como reagiamos se fossemos nós no lugar dela, entendes isso? Então não pudemos julgá-la, nem apontar o dedo. Além do mais, não tens razão para nada daquilo que estás a dizer, é contigo que estou não é verdade? És tu a mãe do meu filho! - Fez-lhe um pequeno carinho na face. - Já vinha a chegar de Évora quando encontrei a Sofia aqui e dei-lhe apoio, agora vou levá-la para Évora para aproveitar uns dias e depois vai para Manchester passar a passagem de ano, mais que nunca,a Sofia precisa de espaço, tempo e compreensão! Tu tens um coração enorme e no fundo gostas dela mas estás ferida, mas esquece isso por uns tempos e foca-te no bem-estar de uma pessoa a quem já chamaste amiga. - Pedro acabou por "falsificar" uma parte do que disse, mas não valeria a pena enervar e chatear uma grávida por algo que achava desnecessário. - E antes que perguntes, sim, vai para Évora para junto da minha família que a conhece bem e de quem foi muito próxima para tentar recuperar que eu volto para os treinos amanhã e não posso apoiar-te a ti e a ela em simultâneo e com treinos.
-Já falaste com o Filipe e com o Diogo? Eles devem estar preocupados e até ter uma resposta...
-Não... Não quero que falem com o Diogo. Por favor.
-Está descansada. - Respondeu Pedro. - Não te importas de ir buscar umas roupas para a Sofia levar para Évora, enquanto eu fico aqui a tratar da Sofia.
-Estou a ir. Até já e muita força Sofia, és muito forte, mais do que pensas, acredita em mim. - Deu-lhe um beijo na testa e saiu, deixando o ex-casalinho sozinho.
-Não lhe contaste da minha gravidez...
-Ela não precisa de saber, Sofia, não tem nada haver com isso, além do mais é uma opção tua contares a mais alguém que não ao pai da criança. - Sofia calou-se, se ao menos ele soubesse o que dizia. - Queres ir para Évora ou preferes ficar com o Filipe?
-Sinceramente não sei... Eu queroo ir, quero mudar de ambiente, tirar uns dias longe de tudo e todos, pensar e repensar, mas como direi ao Filipe que estou longe... Ao pé da tua família?
-Tenho a certeza que ele vai compreender que vás para longe, que te distraias, além disso, também vais ter com o Rony a Manchester, e vai-te fazer bem.

-Devia falar com ele.
-Convida-o para vir cá almoçar, tenho a certeza que ele vai aceitar.
-Ele vai ficar magoado se perceber que eu liguei-te a ti quando precisei e não a ele.
-Ele não precisa de saber, diz-lhe que fui eu que te liguei, sei que não se deve mentir mas foi é a única forma de não os magoarmos.
-Mas também não é mentira dizer que já não nos amamos?
-Sofia, sabes tão bem quanto eu que só isso não basta.
-Basta sim. Basta juntarmo-nos os dois e deitarmos tudo para trás das costas e focarmo-nos no que apenas nós sentimos e na vontade de estarmos juntos, de nos lembrarmos dos planos que tínhamos e os sonhos em comum.
-Sofia, simplesmente não pudemos, agora não, neste momento, nem num futuro próximo pudemos, as nossas vidas seguem caminhos em separados, ainda não percebeste que a vida está a dar-nos uma lição? Que nos está a tentar ensinar algo e esse algo é que não devemos estar juntos. Tu estás com o Filipe, e estás grávida de um filho dele e eu estou com a Matilde e estamos à espera de um filho. - Para Sofia tudo se tornou claro quanto água, a questão não eram eles, mas sim o melhor para os filhos que mereciam ter os pais juntos e não iriam pagar por um erro deles e ela depois do que ouvira não tivera coragem para lhe contar a verdade.

-Pedro... - Sofia queria contar-lhe mas sentia a voz ficar presa nas cordas vocais e uma nó atravessar-lhe a garganta.
-Sofia, talvez um dia mas hoje não.
A rapariga engoliu em seco e colocou a mão sobre a sua barriga, amava mais o(s) seu(s) filhos que qualquer outra pessoa no mundo e era neles que se inspirava e arranjava força.

-Está descansado que eu ligo ao Filipe e fico com ele para me dar forças, não precisas de me levar para lado nenhum.
-Sofia, sabes que talvez isso não seja o melhor...
-Eu sei o que é melhor para mim e para o meu filho. - Respondeu rudemente e Pedro calou-se. - Leva-me até minha casa apenas e depois podes ir para os braços da Matilde, obrigada mas já estou bem.

As hormonas deixam uma mulher com pensamentos esquisitos, desculpou-se interiormente Pedro e ia fazer-lhe a vontade, afinal nunca se contraria uma grávida não é verdade?
O rapaz fez-lhe a vontade e levou-a até sua casa... E de Filipe. Estacionou o carro e Sofia já ia despedir-se dele.

-Nem penses, vou levar-te até mesmo tua casa e ter a certeza que tu ficas bem... E o bebé.

Sofia queria refilar com ele mas acabou por aceitar e deixar-se ir acompanhada até chegar a casa e enquanto iam para a cozinha acabaram por reparar que não estavam sozinhos. Estava um rapaz deitado sobre o sofá com uma pequena manta a cobrir-lhe o corpo e uma perna dentro da manta e outra fora e com o corpo todo desajeitado no sofá, tinha passado mal a noite, com certeza, e tinha adormecido com roupa de rua, nada confortável para uma noite... Que pena que Sofia sentira de Diogo naquele momento mas fora apenas durante uns segundos, depois decidiu despertá-lo da pior forma possível.

-Podes pegar nas tuas coisas e sair daqui para fora, meu caro. - Tirou a manta do corpo dele e fê-lo cair no chão. Pedro não aguentou e soltou uma gargalhada enquanto Sofia riu-se mas apenas durante um segundo, depois retornou à cara séria e antipática de outrora.
-Não sejas tão agressiva com o teu irmão, Sofia! - Advertiu Pedro.
-Eu não tenho família!
-Tens sim! - Respondeu pela primeira vez Diogo. - Tens família e sempre terás! Não somos família biológica mas somos de coração, não podes limitar-te a esquecer-te disso, Sofia! Foram quase 18 anos!
-Sofia... - Pedro tentou chamar-lhe a atenção para se acalmar por causa do bebé que acarretava no ventre.
-Não me venhas com calmas, nem meio-calmas, desapareçam-me os dois da vista, por amor de uma santa!

Pedro acabou por acarretar o pedido dela e sair de casa, mas apenas porque sabia que os irmãos falassem.

-Porque razão o Pedro te pediu para ter calma? O que se passou Ana Sofia?
-Enfia a Ana num sítio que eu cá sei e não sei se percebeste mas mandei-te desaparecer da minha vista!
-Escuta-me por favor. - Pediu mas Sofia não acatou a ideia e deslocou-se até à porta de saída de casa e abriu-a.
-Sais a bem ou queres que te empurre?
-Não vou sair daqui nem que a vaca tussa, Sofia! Para de ser casmurra!

A rapariga fechou a porta e foi até à sala, Diogo acompanhou-a e ambos sentaram-se no sofá e depois de alguns minutos em silêncio, ela rompeu o silêncio.

-Estou grávida... De quatro semanas. - As feições de Diogo modificaram-se por completo a ouvir o tempo de gestação da irmã.
-Isso quer dizer...?
-Sim. - Baixou a cabeça. - Mas ele não sabe... Deste pequeno pormenor.
-Não lhe vais dizer?
-Não. - Respondeu desanimada. - Só tu e o Pedro é que sabem. O Filipe ainda não sabe de nada.
-Mas ele tem o direito de saber.
-Eu sei, vou dizer-lhe hoje.
-Sofia, sei que é uma pergunta estúpida mas... Vais ficar com o bebé?
-Sim. Neste momento é a única certeza que tenho na minha vida.
O irmão abraçou-a e deu-lhe um beijo na testa.
-Admiro-te por isso e por nunca desistires do que queres.
-É o que amo e quero mesmo fazer, sabes? - Começou a chorar. - Diogo, apesar de tudo gostava que este bebé fosse teu afilhado e tivesse uma parte de ti.
-Eu aceito ser padrinho do teu filho mas apenas se disseres ao pai do teu filho que ele o é.
-Diogo... Sabes que é difícil.
-Tanto um como o outro merecem saber.
-Vou fazê-lo, pode é demorar algum tempo.
-Antes do puto nascer, sim?
-Combinado. - Sorriram. - Porque não me disseste... Que não éramos realmente irmãos?
-Eu não sabia... Juro que não sabia. - Respirou fundo. - Eu fui apanhado tão de surpresa quanto tu foste.
-Diogo, eu sinto-me traída... Sinto-me a viver numa mentira. Sinto-me enganada. Sinto-me acima de tudo sozinha. - A rapariga desde que voltara a Lisboa que não sabia o que era sentir-se realmente sozinha e incompreendida no mundo mas agora sentia-o, sentia-o a redobrar, a única pessoa que ela acreditaria na vida, acima de qualquer coisa e qualquer pessoa, afinal não era seu irmão e mais do que qualquer mentira, aquela dor era mais forte.

-Sofia, nunca estarás sozinha. Tu tens este bebé. - Colocou-lhe a mão sobre a barriga. - O Júnior. - Apontou para o céu. - E sempre estarei aqui para ti! - Deu-lhe um beijo na testa e abraçou-a. - Não somos irmãos de sangue e daí? O amor não mudou, a amizade e a confiança também não, somos e seremos sempre irmãos num sítio mais importante. O coração. - Apontou. - E esse bebé vai nascer e vai dar-te ainda mais força e vai juntar-te ao Pedro e aí do meu afilhado que dê noites mal dormidas!
-Sabes que os bebés mesmo que sejam calminhos acordam a meio da noite para comer ou para mudar a fralda, não sabes?
-Sei, mas prefiro pensar que vou ter umas noites descansado antes de levar o puto ao futebol.
-Como vou explicar ao Filipe que o filho não é dele? Ele não merece, não depois de tudo o que fez por mim e pela nossa relação.
-Detesto dizer-te isto, mas tu podias tê-lo evitado, agora estão todos a sofrer.
-Eu sei, eu juro que sei. - Baixou a cabeça. - Mas como poderia adivinhar que depois de tantas vezes com o Filipe, iria engravidar de uma única vez com o Pedro?
-Tenho de te perguntar... - Diogo hesitou e a rapariga rapidamente entendeu.
-Não o faço com o Filipe desde que o fiz com o Pedro... Então desde que começamos a namorar pior ficou... A esse nível íntimo. A chama apagou, parecemos dois velhos. Dois amigos que dormem juntos.
-Vocês pareciam tão ardentes...
-E éramos, antes de começarmos a namorar. Tentei fazer com ele no dia da gala mas ele não quis, tivemos um desentendimento e desde aí que quase existe o medo do contacto, é tão estranho... Eu desejava aquele corpo mas agora que o conheço e assumimos esta relação que as coisas mudaram.
-Já pensaste que talvez tenha sido o teu coração a mandar-te parar que o que estavas a fazer não era o correto?
-Não... Não de todo. - Admitiu. - Eu acho mais que é a nossa relação a amadurecer, nós a encararmos de forma diferente a relação que temos... Deixou de ser apenas o desejo de carne para ser algo mais... Romântico talvez. Eu já tentei mesmo fazê-lo com ele, mas ele simplesmente não quis, disse-me que só o queria para me mentalizar que já esqueci o Pedro, mas como sei que não o esqueci, o estou a usar para fazê-lo.

-O Filipe sempre soube o que tu sentias pelo Pedro.
-E mesmo assim continuou do meu lado e quis namorar comigo, dormir comigo e estar comigo, sabendo que não era por ele que o meu coração batia... E apesar de estar apaixonado por mim desde o início. - Foi apenas a pensar em voz alta que Sofia percebeu os erros que tinha cometido e a influência que estes tinham na vida das pessoas de quem também gostava e a rodeavam. - Eu acreditei mesmo que estava apaixonada pelo Filipe, sabes mano? - Diogo abraçou-a e a rapariga chorou. - Mas como posso organizar a minha vida se ainda estou tão presa ao passado?
-Se tu tentaste superar o Pedro e não conseguiste e se o amas como tu me dizes, deves lutar por ele e não desistir, não é só o filho da Matilde que precisa de um pai, o teu também precisa.
-E vou enganar o Filipe e dizer que o filho é dele quando sei que é do Pedro?
-Não é nada disso que te estou a dizer, Sofia. - Advertiu. - Primeiro que tudo, vais avisar o Filipe que já estás em Lisboa, mas que não vais dormir a vossa casa, eu falo com a Rita, e podes ir para casa dela em Espinho e passas lá uns dias pelo menos até à passagem de ano, onde vais ter com o Rony, durante esse tempo pensas e logo no que é melhor fazer, pode ser?

-Como deixei que a minha vida chegasse a este ponto, mano?
-Sofia, não te culpabilizes por nada disso, lembra-te que o Júnior está a torcer por ti e que só tens este desafio na tua vida porque Deus e o teu filho mais velho sabem que a vais ultrapassar, lembraste?
-Obrigada por apesar de tudo, estares aqui e nunca desistires de mim.
-Nunca o faria, por nada deste mundo. - Abraçou-a e deu-lhe um beijo na testa.
-Se te disser qual é o meu primeiro desejo, não vais acreditar.
-Sofia, és a minha irmãzinha, conheço-te demasiado bem e não me surpreendia nada, sabes disso, certo?
-Sexo. Eu quis sexo. - Disse levantando a cabeça e olhando para o irmão, e aquele olhar era algo diferente... Era muito mais que uma troca de olhares sem intenção de irmãos. O rapaz aproximou a sua face da dela e tinham os lábios a apenas alguns milímetros e ambos olhavam para os lábios um do outro numa tentativa de ganhar coragem para o que iam fazer. - Um momento louco de prazer, selvagem. - Mordeu o lábio.

-Somos irmãos, Sofia...
-É só para experimentarmos.
-Uma vez, sem exceção, sem ninguém mais saber, prometido?

Será que Diogo e Sofia vão realmente fazê-lo?

Será que isso interfira na relação deles? E será que alguém vai perceber do que aconteceu/poderia ter acontecido?