(Pedro)
Pedro
não sabia muito bem o que sentir... Deveria estar feliz por Sofia,
afinal amar era isso mesmo, colocar a felicidade do amado acima da
própria, mas também destruira-lhe o coração saber que apesar de a
ter realmente marcado, ela já não gostava de si da mesma forma, e
que o tinha-o “substituído” no seu coração... Por um amigo
seu. Ele ainda a amava e apesar de também nutrir algum sentimento
por Matilde, não poderia e nunca deveriam ser comparados. Era um
sentimento agridoce e não saberia ao certo se haveria de chorar ou
de sorrir, sentia-se profundamente abalado e queria saber como
deveria reagir ou não, precisava de apoio, precisava de um amigo,
mas não queria que o criticassem e lhe apontassem o dedo, abraçou
as suas pernas e decidiu olhar para o mar, e esperar que lhe dissesse
algo... Como Sofia lhe havia ensinado, até que sentiu um toque no
seu ombro e alguém sentar-se ao seu lado, e nem precisou de olhar,
percebeu rapidamente quem era.
-Sê
forte meu irmão, ela não te merece.
-Ela
já não me ama... -
Disse escondendo a cabeça entre os seus braços.
-Ela
não te esqueceu, tu marcaste-a por completo, mas agora ela é feliz
e tu também o deverias ser... Mesmo que te doa neste momento, tudo
irá passar.
-E
senão passar?
-Meu
irmão, tudo na vida é efémero, como tu me ensinaste, se a
felicidade não dura para sempre, a dor também não.
-E
se eu nunca amar a Matilde como amei a Sofia?
-Não
precisas de amar nenhuma delas para ser feliz, basta apenas olhares
para a vida de uma forma diferente, pensar de forma positiva, custa,
eu sei que sim, mas é o melhor para ti. Levantares a cabeça e
continuares na luta, os teus irmãos adoram-te e os teus pais têm um
orgulho incrível na pessoa que te tornaste. Podes não ter a Sofia,
de quem ainda gostas muito, mas ela é feliz e tu devias sê-lo
também, não para lhe mostrares que também o és, mas para
ultrapassares esta dificuldade, por muito que pareça impossível,
não te esqueças que não há, de forma alguma impossíveis. Tens
ainda a sorte de ter a teu lado, uma pessoa que te ama mas também
que é a tua melhor amiga e te vai ajudar a ultrapassar toda esta
fase má, tudo o que de mau a vida te trouxer, tens uma rapariga de
quem gostaste muito e ela a ti, mas ela está feliz e tu também o
serás. Esquece a facada nas costas que o Filipe te deu, és superior
a isso. A tua vida tem coisas boas e más, mas tu vais ultrapassar
todas elas, porque todas vêm e vão. Se Deus te pôs estas
dificuldades é porque sabe que irás ultrapassar e aprender com
todas elas.
-Já
a perdi uma vez, não quero voltar a perdê-la.
-Nunca
passei pela tua dor, mas sei o quanto custa irmão, e acredita que eu
estou a teu lado a apoiar-te, a dar-te forças e sempre do teu lado,
como irei estar sempre.
-Raphael,
eu sinto que uma parte de mim morreu hoje. -
Raphael ia interrompê-lo mas Pedro não deixou. -
Escuta-me por favor, antes de me julgar. A Sofia apareceu numa altura
em que me sentia sozinho, em que começava a acreditar que o destino
era algo para os românticos escreverem, que a minha vida seria
apenas o futebol e nada mais, mas a Sofia apareceu e mudou a minha
vida... Com um simples olhar. Todos os sentimentos que estavam
adormecidos até então, despertaram, em simultâneo, com um simples
sorriso me apaixonei por completo, e conforme fomos falando eu fiquei
completamente rendido a ela, e mudar por completo a minha forma de
ser, a minha forma de ver a vida, mudou tudo... Ela tornou-se tudo. A
minha outra metade, a minha essência, a minha chave da felicidade,
garanti a mim mesmo que ela era a mulher da minha vida, a “tal”,
a mãe dos meus filhos... E acabou por ser a mãe do meu filho e
acabou por matá-lo, e ninguém imagina a dor que isto me causa. Ela
poderia não querer ser mãe, pode nunca me ter amado mas e o amor
pelo nosso filho? Eu poderia ter sido o pai para ele, poderia ter-lhe
dado tudo, poderia ter sido o pai e a mãe! -
Já não desabafa apenas como uma lembrança do passado, mas sim com
uma mágoa bastante presente, podiam haver milhões de justificações
para o seu desaparecimento mas nenhuma poderia haver para a morte
daquele inocente bebé. -
E porque me abandonou ela? Do dia para a noite? Sem uma carta, nem
uma chamada, nem um beijo de despedida? Eu teria dado a minha vida
para ser como é que ela estava, para a ter de voltar aos meus
braços... E quando ela voltou fiquei ainda mais devastado. Sei que
amar é colocar a felicidade do amado à frente da nossa mas como
esperam que seja feliz, depois disto? Perdi um amor e um amigo!
Parece que os dois se uniram para me atirarem à cara que não estou
bem! Custa-me pensar que tudo o que passei com a Sofia, foi só uma
ilusão... E que senti tudo na minha mão e agora não tenho nada.
Mas talvez tenha sido culpa minha, tê-la perdido, eu não sei, neste
momento não sei nada. -
Colocou a cabeça sobre as palmas das mãos e começou a chorar.
Raphael por mais que quisesse falar simplesmente não conseguia.
Sabia que Pedro amava Sofia, mas ele sempre conseguira esconder bem o
que sentia, e por isso pensava que estava a aceitar relativamente bem
tudo o que se passara... Nem que fosse por Matilde, de quem o rapaz
também gostava, embora de uma forma muito mais natural e humana.
(Nesse
mesmo dia à noite)
-Preciso
de falar contigo. -
Anunciou Pedro, depois de abrir a porta de sua casa a Matilde. -
Entra, vamos falar para o meu quarto para estarmos mais à vontade.
Sentaram-se
lado a lado sobre a cama do rapaz.
-O
que se passou, amor? Estás a assustar-me!
-Eu
gosto muito de ti, tu sabes que sim...
-Mas...
-Tenho
de ser completamente sincero contigo, tu assim o mereces. Nem sempre
te fui fiel.
-O
quê? -
Perguntou ainda sem reação para o que se passara, não queria
acreditar. - Tu
traíste-me? Com a Sofia? Como foste capaz? -
Levantou-se e começou a chorar. -
Eu amava-te, entreguei-te em corpo, em alma e em coração, dei-te
tudo o que tinha e não tinha, e o que tu me fizeste foi o pior que
me podias ter feito!
-Deixa-me
explicar-te, tudo por favor.
-Enfia
as explicações onde quiseres, esquece o que tivemos, acabou!
-Como
assim acabou?
-Agora
já podes ficar com a Sofia, sem me teres por perto, esquece-me, por
favor! -
Saiu do quarto a chorar, deixando Pedro sem reação possível,
embora amasse Sofia, também gostava de Matilde e ela não merecia
sofrer, era a pessoa que menos merecia sofrer no meio daquela
história. E Pedro não conseguiu conter as lágrimas, deitou-se
sobre a cama e adormeceu a chorar.
(Sofia)
Os
dias passaram-se com uma velocidade surpreendente e Sofia sentia-se
melhor a cada dia que passava. Os sogros já sabiam o parentesco que
os unia e tratavam-na como filha,
A
sua relação com os pais mantinha-se forte, e com o irmão, apesar
de não ter aceite bem inicialmente a possível mudança de casa dela
e de Filipe, acabou por aceitar a mudança como algo natural... Até
porque seriam vizinhos. Juntamente com com Filipe já tinham
arranjado a casa ideal para morarem e até tinham combinado dividir
as despesas. Ela pagava uma pequena parte com a mesada que os pais e
o irmão lhe mandavam e sobrava algum dinheiro para si. Tinha também
feito 3 tatuagens, todas elas com um significado especial.
A
tatuagem tinha sido feita no pulso porque assim estaria ao lado do
nome do pai... A tatuagem era para Júnior, o filho falecido, e
significava a sua perca fisicamente mas a presença forte, eterna e
contínua no coração da mãe. Não precisava de tatuar o seu nome,
um desenho significaria mais, não precisava de demonstrar ao mundo o
nome do seu falecido filho, bastava olhar para ela e sabia que o
filho estaria sempre ao seu lado, e a olhar por si.
No
ombro tinha tatuado uma frase para o seu pai “pai, eu amo-te”,
não precisava de o ter tatuado porque o pai sabia e sentia que ela o
perdoara mas queria fazê-lo, queria mostrar ao mundo, que apesar de
ter sofrido, aquele homem que chamava de pai, era bem mais que um
progenitor, era muito mais que tudo isso, era o verdadeiro homem da
sua vida, por mais homens que a sua vida tivesse, e não lhe tinha
dito que a tinha, preferia fazê-lo pessoalmente.
E
a última tatuagem mas nem por isso deixava de ser importante,
significava a sua vida, tudo o que havia passado e haveria de passar,
era o símbolo do infinito, com as palavras amor e vida, a pena
representava-se a si mesma, considerava-se escritora, escrevia tanto
quanto podia e porque estava nas suas mãos descrever a sua vida e o
amor que entregava ao que a vida lhe trazia. Nesta fase, um nome se
destacava, nome de uma pessoa com os olhos mais bonitos que vira...
Uma pessoa que lhe fez recuperar o sorriso... Filipe.
Sentia
que ainda não esquecera Pedro, mas também nunca iria esquecer, ele
tinha sido alguém demasiado importante na sua vida, mas tinha
ultrapassado, tinha-lhe dado tudo o que tinha e não tinha, tinha
lutado e não tinha conseguido, a vida pregara partidas, mas ela
tinha recuperado e superado, tinha e continuava a lutar pela sua vida
e ela tinha-lhe dado uma nova oportunidade de ser feliz. Todas as
noites fazia questão de rezar com Filipe a agradecer o dia que
tinham dito, e quando o dia parecia menos positivo, rezavam a pedir
algo melhor, mas faziam questão de agradecer por se terem conhecido
e estarem juntos, e Sofia antes de adormecer rezava ao filho, a pedir
que olhasse sempre por si no céu. Além das tatuagens havia pintado
o cabelo de loiro, cor do cabelo que tinha quando era apenas bebé,
altura em que fora feliz como nunca.
E
até Filipe tinha vivido uma pequena mudança na sua vida...
Inspirado em Sofia, tatuou junto ao peito:
Apesar
da frase ser inspirada na força de Sofia e na admiração de Filipe
por ela, havia tatuado aquela frase, a sua primeira tatuagem porque
assim que a lesse iria lembrar-se que por muitas forças que às
vezes parecessem faltar, iriam deixar de ser fraquezas, para se
tornarem forças.
E para
mostrar as suas tatuagens novas, especialmente para mostrar ao pai a
que havia feito dedicada a si, e também para ver o jogo de Filipe e
Diogo que se ia realizar em Braga, iria juntamente com Rita, passar o
fim de semana ao norte. Sabia que era uma boa surpresa que faria ao
namorado e ao irmão, que de certeza iria ficar feliz por vê-la, mas
também podia implicar rever Pedro e embora se sentisse preparada,
sabia que iria ser difícil... E iria enfrentar outra dificuldade, o
pai de Sofia, tinha-lhe dito também que ia juntamente com elas ver o
jogo, e a sua esposa acompanhá-lo-ia, ou seja, era a primeira vez
que iriam conviver com Filipe, depois de saberem que o rapaz era seu
genro...
Como
irá reagir o pai à surpresa?
Será
que Filipe vai gostar da surpresa? Como será o reencontro com Pedro?