sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Capítulo 01 “Vou lutar pela minha felicidade”



“Querido Pedro,

Tu és o meu melhor amigo e namorado, és alguém que eu preciso para ser feliz e foi graças a ti também, que aprendi a amar alguém com esta intensidade. Que preciso dela para viver e não apenas para sobreviver, como me tenho limitado a fazer. Tenho que te agradecer por todas as palavras, por todo o carinho, por todos os beijinhos, todos os gestos de amizade e amor, pelos momentos que vivemos lado a lado, por me fazeres feliz, mesmo sabendo que mereces melhor. Ficar-te-ei grata para o resto da minha vida. 

Desde o começo que senti que eras especial, e aos poucos e poucos comecei a perceber que estava certa. O que começou com uma bonita amizade acabou por se tornar num ainda mais bonito romance. Nunca tive medo que me magoasses, que traisses os meus sentimentos ou simplesmente me abandonasses, apenas queria que fosses feliz com o melhor e eu simplesmente não o sou. Mas tu abdicaste do teu melhor por mim. E eu apenas te posso agradecer do fundo do meu coração, por tudo. 

Esta carta pode nunca te chegar ás mãos, mas escrevo-a com esperança que, algum dia, a leias. Seria incapaz de te abandonar, de te deixar á mercê, mas fui forçada a fazê-lo, fui obrigada a desistir de nós. Pedro, nunca foi a minha vontade. Tive de deixar para trás a vida que vivia, a deixar-te e a desistir de um sonho nosso, em especial uma ambição que sempre tive, desde os meus tempos de infância. Sofri um aborto. Não, matei um filho, matei o nosso filho, uma criança, um bebé que vivia no meu ventre, fruto do nosso amor, e que não tinha culpa do nosso “erro”. Posso culpar o meu pai por tudo, ele forçou-me a matar o Benjamim, que tinha pelo menos a dignidade de ter um nome. Tu perguntas como foi possível ter engravidado, sinceramente não sei, foi obra do destino. Aconteceu.

Peço-te desculpa por te ter magoado, desiludido, abandonado, por ter morto o nosso filho e por ter abdicado de nós, por te ter deixado para trás, sem dizer uma palavra, mas não consegui fazê-lo. Não culpes o Diogo, ele não sabe de nada, nem a ele consegui dizer. Toda a culpa é somente minha e vou viver com esse peso na consciência para o resto da minha vida, a vítima nesta história não sou eu. És tu. E o nosso filho. Tudo o que aconteceu foi por minha culpa e nem um milhão de desculpas, perdões e justificações desculpam o que fiz, mas apenas gostava que soubesses o que verdadeiramente aconteceu. 

Nunca te deixei por minha vontade, por não te amar, ou por cobardia, nunca tive intenção de te magoar, ou deixar, queria apenas que fosses feliz e nem isso consegui fazer, por isso falhei. Mas quero que sigas com a tua vida e que sejas feliz, sem mim. Tenho a certeza que nunca vou esquecer o que sinto por ti, e muito menos te irei esquecer, mas peço-te que me esqueças, que sejas feliz. Encontra alguém que te mereça e não tenha atitudes infantis, que te abandone ou que mate um filho teu. Apenas alguém que te dê o que mereces.

Amo-te, sempre.

Ana Sofia Costa Roch(inh)a”

Esta carta foi escrita há um ano, no dia em que foi forçada a abandonar a vida que vivia e recomeçar, noutro local, com outras pessoas, com outros amigos e dar outro rumo à sua vida, contra a sua vontade. Sem puder defender-se ou fazer uma despedida aos que deixara para trás. Chorou durante dias a fio, sem se alimentar e a involuntariamente vomitar tudo o que tentava comer, sentia-se a pior pessoa do mundo, a mais infeliz e também a mais cobarde. Sentia-se fraca e a pouca auto-estima que nutria por si mesma, desapareceu. Detestava a sua forma de ser, a sua forma de estar na vida, o seu exterior, detestava tudo o que descrevia a Sofia Rocha. A culpa não era sua, fora somente do seu pai, mas ela sentia que era sua, porque tinha sido cobarde. Sentia-se culpada pela volta de 180º graus que a vida dera. 

Abandonou o namorado, matou um filho, desapareceu de perto dos seus amigos e do seu melhor amigo, o irmão Diogo, simplesmente desapareceu... 

O pai forçara-a, mas Sofia sentia que podia se ter defendido melhor. Que podia ter evitado toda aquela situação.

Ana Sofia Rocha nasceu em Espinho, a 3 de Março, 10 meses depois do irmão, Diogo. E sempre foram cúmplices. Os melhores amigos e companheiros em todas as aventuras da vida. Tiveram uma infância feliz e muito irrequieta, com muitas aventuras que viveram lado a lado e por isso, quando ele recebeu o convite para ir viver para o Seixal, ela não hesitou em acompanhá-lo também. 

Para Sofia foi mais difícil a adaptação, deixou para trás amigos de infância, a terra que a viu nascer e a família que era o seu grande suporte. Sempre tivera o hábito de ir todos os dias à praia, ora sozinha, outrora com o irmão, ou por vezes, também com os melhores amigos, mas quando se mudou para o Seixal, viu a sua rotina ser esquecida, ou melhor, alterada. Amava sentir a areia a arrastar-se por entre os seus dedos dos pés e as ondas fortes cheias de sal e bastante frias, a baterem nos tornozelos, mas para ela era uma ótima sensação, tanto durante o Verão como em qualquer outra estação. 

O seu signo era peixes, tudo o que envolvia água, transmitia-lhe uma sensação de confiança e carinho, era como um amigo, que a escutava e nunca a julgava. Por isso mesmo, conseguia ficar horas a fio, sentada na areia apenas a conversar. Quem a observava, julgava que conversava sozinha, mas Sofia desabafava com o mar, e sentia que era este lhe respondia, através das ondas. 

E dois dias depois, do regresso forçado, a Espinho, foi até a uma das praias da cidade e sentiu-se aliciada a ter uma atitude, que mais tarde, classificou como erro. O mar aliciou a fazer algo que nunca antes lhe tinha passado pela mente. Despiu a roupa que cobria o corpo e entrou na água. Mas não era apenas com o objetivo de tomar banho. Sofia tentou matar-se.

Entrou na água e começou a sentir a diferença de temperaturas, a água estava muito fria enquanto o seu corpo estava bastante quente. Foi entrado, pouco a pouco e quando cobriu os cortes que fizera dias antes, nos pulsos, é que sentiu a dor mais uma vez, bem presente no corpo.

Mas mesmo assim, continuou. Tentou sufocar-se com a escassez de ar que existia naquele local. Mas não conseguiu ir adiante e mais uma vez sentiu-se fraca e impotente. Repetiu o acto, mas faltou novamente a coragem, na altura em que o corpo pedia para respirar, a mente acabou por empurrá-la de novo para um sacrifício ainda maior, a vida. Saiu da água, a chorar e voltou a vestir a roupa, os cortes que tinha no pulso doíam-lhe como quando os fizera, mas pior era a dor que sentia na alma. Vestiu-se e regressou a casa, a partir desse momento, nunca mais teve coragem de regressar á praia ou de enfrentar o mar. Sentia que o mar a traira.

Regressou a casa e estava o seu avô á sua espera. Deu-lhe um beijo apenas, sem existir uma troca de palavras e foi até á cozinha, cuidar dos seus cortes, que tinham voltado a sangrar. A dor era agoniante, mas Sofia tentava ao máximo escondê-la. Não queria que ninguém soubesse que se tentara matar. Ao contrário dos cortes, esta atitude podia ser facilmente escondida. 

Facto que nunca contou a ninguém, nunca quis partilhar nem com o irmão o que se passara com a sua cabeça, coração e alma. Queria apenas sofrer em silêncio e durante a noite, antes de dormir, chorava até adormecer, muitas vezes sem saber ao certo com que forças acordava no dia seguinte. Limitava-se a sobreviver, como tinha feito antes de conhecer Pedro.

Mas continuava bem presente na sua cabeça, os pensamentos que a levaram até aos cortes que havia feito no pulso.

“Não sei como consigo simplesmente respirar, como consigo sobreviver, depois de ter perdido o meu universo, depois de sentir que me tiraram os pés do cão. O meu corpo e a minha mente têm uma discussão acessa, a minha mente chora, desfeita com esta atitude e com esta consequência, enquanto o meu corpo não apresenta nenhuma dor física. O problema não sou eu, o problema é tudo o que me envolve, o meu coração bombardeia a cada milésimo de segundo, mas o meu sangue, impuro e de uma cobarde continua a correr-me pelas veias. E só se o tirar de mim é que me consigo purificar.

A faca espetada que havia na cozinha era convidativa e acabei por lhe dar o uso, servi-me dela para cortar um animal. O maior animal que conheço eu,. Ambos os pulsos ficaram com cortes com aproximadamente 3 centímetros e começaram a deitar sangue de uma forma, que Sofia nunca tinha visto. E também não demorou muito para perder os sentidos. E já só os recuperou, quando haviam enfermeiros á sua volta, prestando auxílio. Que também a transportaram para o hospital, de onde só saiu, 3 dias depois. Mas sem alta psicológica, tinha de visitar um psiquiatra regularmente.”

Mas também acabou por ter alta rapidamente, Sofia era uma rapariga bastante inteligente e conseguiu enganar toda a gente, em relação á sua saúde mental. E até a nível físico, porque de outras formas, tentara aleijar-se no corpo, mas escondendo ao máximo, as marcas que ficavam.

No ano que se seguiu, Sofia poupou ao máximo dinheiro com um só objetivo, ter dinheiro suficiente para regressar ao Seixal. E quando finalmente o conseguiu, uns dias antes de fazer um ano da sua despedida, arrumou os pertences mais importantes e escreveu uma carta:

“Querida mãe,

Durante um ano menti-te, dei a conhecer uma parte de mim que morreu, limitei-me a demonstrar um lado bom que não tinha, um sorriso na cara e uma felicidade que não sentia, mas por dentro, o sangue continua a correr-me e a mágoa a atravessar-me o corpo. Nunca te quis abandonar, mas não consigo mais viver com este aperto no meu coração, com este sufoco. 

Quero apenas ser feliz, como tenho direito e aqui não o serei. E também não o serei no Seixal. Não quero que me procurem, apenas que me deixem lutar pela minha vida, tenho a certeza que ficarei bem, feliz e segura. Apenas preciso disto mãe, espero que entendas.. 

Não é uma atitude infantil, antes fosse. É uma atitude matura, estou a lutar pelo meu bem e da minha felicidade, e ao contrário do que sempre sonhei, não é junto da minha família que o serei. Não, depois de tudo o que o pai me fez, de quem nunca ouvi um pedido de desculpas e nunca, nem por um segundo, deu a demonstrar qualquer sinal de arrependimento, por me ter colocado neste poço sem fundo. Ficarei bem, prometo-te mãe.

Quando puder, darei notícias.

Amo-te muito, mãe.

Sofia Rochinha”


Sofia escreveu aquela carta apenas para a mãe, porque sentiu que tinha de lhe dar alguma justificação, por mais pequena que fosse. Em relação ao pai, preferia simplesmente pensar, que fora ele que lhe dera vida, e não tinha influência na mulher que era. E era impossível que tivesse influência na pessoa que Diogo era.

Despediu-se da sua casa e olhou, de soslaio para a praia, nunca mais tinha ido á praia desde o dia em que se tentara matar, e pegou nas malas que possuia, eram 7 no total e não poderia contar com qualquer ajuda, mas conseguiu transportá-las até á estação de comboios em Espinho que a levaria até ao Porto, onde mais tarde, apanharia o comboio até Lisboa. Já tinha decidido qual era o local que a iria receber de abraços abertos e esse local, era o Seixal, apenas aquele local fazia sentido. Estaria junto do irmão Diogo, é que iria ser feliz.

E quando chegou á estação de Santa Apolónia, em Lisboa, depois de respirar e admirar a capital portuguesa, agarrou no telemóvel e telefonou ao irmão. Que depois de ouvir o segundo toque, atendeu:

-Olá maninha!

-Olá Diogo! – Respondeu sorrindo, como quase nunca tinha feito no último ano. – É tão bom regressar a Lisboa. – Desabafou.

-Estás em Lisboa? A fazer?

-Em passeio não é de certeza. Vou regressar Diogo, vou lutar pela minha felicidade, aqui. 


Qual será a reação de Diogo?
Será que vai aceitar a irmã de braços abertos? Como irão reagir os pais dela?

3 comentários:

  1. Olá. Amei este capitulo e esta fic vai ser mesmo boa *.*
    Adorei a maneira como está escrita e digo-te que já me agarrei a ela ;)
    Espero que o Diogo reaja bem ao regresso da irmã, ou seja, espero que a receba de braços abertos :)
    Também espero que a mãe pelo menos, reaja bem...já que o pai...pronto...nem comento -.-
    Espero pelo próximo sff
    Bjs

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  2. Olá!
    Gostei imenso deste primeiro capitulo!
    A forma como escreves é fantástica e a história também :)
    Fiquei bastante curiosa quanto à reacção do Diogo e do resto da família à chegada da Sofia.
    Espero pelo próximo ;D
    Beijinhos
    Rita

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  3. Olá

    Começei agora a ler a tua fic e tenho-te a dizer que ADOREI e vou já ler o próximo *_* Espero que o Diogo ajude a Sofia no seu regresso a Lisboa, o pai da Sofia para mim foi um verdadeiro mostro , era um ser vivo que não tinha culpa de nada, que homem frio , acho que a Sofia faz bem lutar por aquilo que quer.


    Beijinhos


    Catarina

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