domingo, 3 de agosto de 2014

Capítulo 07: “Amo-te tanto pai”


Depois do regresso forçado a Espinho, da despedida forçada que havia feito ao filho e da sua tentativa falhada de pôr um termo á vida, começou também a recusar comer e a pouca comida que conseguia comer, acabava por involuntariamente ou não, expulsá-la do corpo. Pouco depois, descobriu que todas as suas atitudes lhe causaram problemas de saúde. Devido ás circunstâncias da vida, começou a sofrer de distúrbios a nível de alimentação e a nível psicológico. Tornou-se bulémica com uma depressão nervosa.
Quando vivia em Espinho, frequentava assiduamente um psiquiatra e grupos de apoio, para curar os seus problemas, estava disposta a lutar contra eles, mas sozinha todo o percurso tornar-se-ia mais duro e instável. A depressão estava já na recta final da cura, mas quando abandonou Espinho, deixou cair por terra todo o esforço daquele último ano, quanto á bulimia, seria um problema para o resto da sua vida. Diogo sabia quais os problemas de saúde da irmã e faria tudo para ajudar a curá-los, queria apenas o seu melhor. Sabia que a irmã merecia ser feliz e iria fazer de tudo para a deixar feliz, e iria lutar com todas as forças para ajudar a irmã a vencer os problemas de saúde. Tinha visto a irmã a alimentar-se. A única justificação possível era que havia tido uma recaída e que expulsara, mais uma vez, os alimentos do corpo.
Pousou a irmã sobre o banco daquela rua, verificou a pulsação dela e pediu:

-Bernardo, chama uma ambulância. – Pediu, e ele obedeceu afastando-se deles.

-Espera que a tua irmã acorde, Diogo. Tu sabes perfeitamente que vão chamar os teus pais, e ela não quer.

-Os meus pais sabem que a Sofia cá está. Além do mais, a minha irmã é bulémica e tem uma depressão.

-O quê? – Perguntou Filipe dando um grito de surpresa. Como é que lhe poderiam ter escondido algo tão grave como aqueles problemas de saúde?

-Sim, Filipe. A minha irmã não está bem e tudo o que está a acontecer é demais. Ela ainda não é uma mulher, ela ainda nem dezoito anos tem. – Disse apertando com força a mão da irmã, tentando assim dar-lhe força para despertar daquele desmaio.

-A Sofia é uma verdadeira guerreira. – Deu-lhe um beijo sobre a testa. –A tua irmã não está a ser acompanhada? E que é muito provável que seja uma recaída.

-Ela estava a ser seguida em Espinho, mas cá, ainda não consegui tratar disso. Ela deve ter vomitado tudo o que comeu, e o corpo não aguentou tanto tempo sem energia. Mas será que o Bernardo demora muito tempo? E a porra da ambulância? A minha irmã não está nada bem, ninguém entende isso?

-Tem calma, o Bernardo já ligou para o 112, e a ambulância já deve vir a caminho. – O mais velho aproximou-se dele e trouxe uma garrafa de água que passou pela cara da ainda desmaiada rapariga.

-Vai aquela pastelaria e compra um bolo ou um doce se faz favor. – Pediu Diogo a Bernardo. –Eu já te pago! – Ele obedeceu e passado pouco tempo trouxe um bolo, deu ao amigo que partiu o bolo em bocadinhos e começou a colocar bocadinho a bocadinho a comida na boca da irmã, que começou a reagir aos poucos, mastigando e pouco depois a abrir os olhos.

-Sofia. – Diogo quando viu a irmã a abrir os olhos, abraçou-a e sorriu. –Não voltes a fazer-me isto!

-Que se passou? – Perguntou sentando-se na cadeira.

-Desmaiaste. Mas a ambulância já vêm a caminho.

-Eu estou bem, não quero ir para o hospital, isto passa.

-Não Sofia, tu não estás bem! Tu tens uma depressão, tu és bulémica, tu desmaiaste porque tiveste uma recaída, e vais para o hospital, quer queiras quer não. Neste momento sou responsável por ti e é nesses termos que vou tomar conta de ti! – Respondeu rudemente, apanhando desprevenida a irmã, que ficou calada e acabou por comer o resto do bolo, sem dizer mais uma palavra.

Esperaram alguns minutos, e a ambulância apareceu, levando Sofia e Diogo acompanhou-a. Filipe e Bernardo seguiram atrás da ambulância, de carro.

-Desculpa, Diogo. – Pediu Sofia, ainda fraca, deitada na maca e com o enfermeiro constantemente a averiguar o seu estado de saúde.

-Promete-me apenas que aconteça o que acontecer, vais cuidar de ti. – Respondeu apertando a mão da irmã. – A tua saúde acima de tudo, a partir daí vem tudo por acréscimo.

Sofia chegou ao hospital juntamente com o irmão e depois de alguns exames e dos médicos verificarem o seu historial clínico, acharam por bem deixá-la em repouso absoluto no hospital, por alguns dias. Queriam apenas assegurar-se que se alimentava. Colocaram-lhe soro e deixaram-na num quarto onde iria ficar nos próximos dias. Depois de instalada, Sofia fechou os olhos, tentando adormecer e Diogo permaneceu sentado á sua cabeceira. Esperou alguns minutos, com esperança que a irmã adormecesse e acabou por começar a falar baixinho, como se de uma confissão se tratasse:

-Não, não podias ter feito isto, Sofia. – Disse enquanto duas lágrimas rolavam-lhe as maçãs do rosto. –Amas o Pedro, sei disso. Mas já paraste para pensar que ele pode não te amar da  mesma forma, compulsiva e desumana como tu amas? – Escutar aquelas palavras com atenção, faziam-na abrir cada vez mais uma ferida no peito que teimava em não fechar. –Ele poderia ter esperado por ti, poderia ter lutado mais, e ele limitou-se a ... Desistir. Porque acima de poder ou não amar-te, ama-se a ele próprio, e o melhor que poderia fazer era reencontrar a felicidade. E conseguiu. E tu podias tentar fazer o mesmo! – Disse Diogo com as lágrimas a percorrem-lhe o rosto de forma cada vez mais veloz. –Podias esquecê-lo. Para teu bem. E para bem dos que te rodeiam. Porque eu amo-te mais do que alguma vez, o Pedro te amará e tu só me demonstras que não me amas, que te estás nas tintas para o que sinto. Parece que como estive sempre aqui, que sou teu irmão e sangue do teu sangue, que já sou um dado adquirido na tua vida. Estarei sempre aqui, tu sabes, mas cada vez que pioras é como um golpe que me dás no peito. Como se me provasses que não me amas, e que vives só por causa dele. Perdeste um filho, tentaste-te matar, cortaste-te, fugiste, tatuaste o nome dele, e eu, Sofia? É só por ele que vives? É só por ele que vale a pena viver? E eu? Fui apanhado no meio de uma história que não é a minha, que pode mudar a minha vida para sempre e fui obrigado a aceitar e não dizer mais nada. De um lado a minha família, do outro os meus amigos. Todos me perguntaram por ti, inclusivé o Pedro, e eu não sabia o que dizer. Perguntei ao pai, mas era claro que ele me mentia com todos os dentes que tem na boca. E a mãe nada podia dizer. E eu tive de mentir, tive de representar e inventar uma história para tudo. Uma história que justificasse tudo, quando no fundo toda a gente queria o mesmo que eu. A verdade. – O tom e o timbre de voz denunciavam a sinceridade daquelas palavras.  –Sim, o pai pode não ter tido as melhores atitudes e pode não ter demonstrado da forma mais correta o que sente por ti, mas acredita que ele é das pessoas que mais te ama no mundo, e só quer o teu bem. A mãe tem sido a pessoa uma lutadora, de um lado, a filha e do outro o marido. Sabes quantas noites eu e a mãe passamos em branco? Quantas vezes não rezamos para ficar tudo bem, para tu e o pai fazerem as pazes e ficar tudo bem, ou quantas vezes não pedimos com todas as forças para acordar deste pesadelo. – Beijou o rosto da irmã. –Tenta, por favor, fazer um esforço, para ser feliz. Para ficares bem, com o Pedro, ou sem ele. – Limpou as lágrimas que lhe escorriam o rosto e saiu do quarto. Sofia, escutou todas as palavras que ele dissera com toda a atenção, nunca tinha pensado no outro ponto de vista daquela história. Tinha sido egoísta e tinha pensado apenas em si mesma, e em Pedro. Deveria ter pensado mais na família, no quanto a mãe e o irmão sofreram por uma história que não era deles mas que os afetara e os deixara de rastos psicologicamente. Também Pipo, tinha sido um mero “achado” naquela história, Sofia não o tinha “usado” para se esquecer de Pedro, mas talvez ele o sentisse. Tinha de mudar de atitude, tinha de demonstrar a todos o quanto os amava. E foi com estes pensamentos que adormeceu...

-Como é que ela está? – Sofia despertou com aquela voz, conhecia mas não queria acreditar que pudesse ser ele.

-Está a ser seguida por um médico, puseram-na a soro para se certificarem que come e não vomita. – Sentiu um beijo na sua testa, era claramente da mãe.

-Oh minha filha, porque fizeste isto? Nós amamos-te muito, tudo se vai recompor prometo.

-Não, não podes cumprir uma coisa que não vais conseguir cumprir. – O pai nunca mudaria, seria sempre o mesmo homem frio e sem escrúpulos. Pensou Sofia. –Ela está assim por minha causa, tudo o que lhe aconteceu é apenas por minha causa. E não dá para passar uma borracha sobre o passado, não dá para ela recuperar um filho que eu a forcei a matar, fui eu que a obriguei a afastar-se do Pedro, o primeiro homem que a minha vida amou, apenas porque não gostava dele. Fui tão egoísta e para piorar, ainda a obriguei a afastar-se do irmão, não fui eu que lhe fiz os cortes, mas fui eu o culpado de tudo. E viverei para sempre com este peso na consciência, mas fiquem sabendo que farei tudo para a Sofia se curar dos problemas de saúde e para ser feliz, como merece! – Ela abriu os olhos e olhou para o pai. Tinha esperado aquele momento durante muito tempo e não sabia ao certo o que responder...

-Pai... – Foi a primeira vez desde que tudo aconteceu que lhe chamara por este nome.

-Filha. – Respondeu abraçando-a e mais tarde beijando-a. – Desculpa, desculpa pelo que te fiz sofrer, por tudo o que te fiz. Desculpa. Só te quis proteger, só queria que o teu bem, e nem pensei no que tu sentias. Desculpa, desculpa. –Tanto pai como filha derramavam lágrimas pela face.

-Eu desculpo pai. – Abraçaram-se com todo a força e sentimento. –Amo-te tanto pai! – Disse dando-lhe um beijo.

-Eu amo-te mais, minha filha! Minha mulher da minha vida! – O pai afastou-se e apertou a mão de Sofia. Olharam para Diogo e a mãe e eles também choravam emocionados.

-Vocês não imaginam o quanto esperei por este momento! – Toda a família se abraçou, como há anos não acontecia. Foi, sem sombra de dúvida, um dos momentos mais bonitos da vida de Sofia. E para sempre lembrar-se-ia daquele abraço. Sabia que até então e para o resto da vida cometeriam erros, e ela iria perdoar, faziam-no apenas porque queriam o seu bem. Por muito que amasse Pedro, eram os Roch(inh)a que a faziam feliz por completo.

-Já não faz sentido estar aqui. Tenho o Diogo, mas talvez seja em Espinho, e junto do resto da minha família que esteja melhor.

-Faz o que achares melhor para ti filha, nós apenas queremos que sejas feliz. – Respondeu calmamente a mãe, claramente feliz e emocionada por aquele momento de família.

-Faz o que achares melhor, mana. – Sorriu Diogo.

-Sofia, se fugiste para cá é porque é ao pé do teu irmão que te sentes bem e que achas que serás feliz. E tu precisas de estabilidade e de amor, precisas de te pôr boa. E é agora que eu digo, que ficas melhor aqui. Mas seja qual for a tua decisão, farei tudo para não te voltar a desiludir. Prometo. – Apertou a mão da filha. –Por muito que não goste do Pedro, farei tudo para tentar aceitá-lo na minha família!

Qual será a escolha de Sofia?

Será que vai optar pelo regresso a Espinho? Ou irá continuar a lutar por Pedro?

3 comentários:

  1. Olá, guapa!
    Eu já tinha lido porque me deste um presente de aniversário muito bom <3
    Adorei como é óbvio e já espero o próximo porque cheira-me que vêm aí grandes emoções!!

    Besito
    Ana Santos

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  2. Olá :)
    Ahhh...finalmente o capitulo que tanto queria...o capitulo das pazes entre a filha e o pai *.*
    Espero que a Sofia fique ao pé do irmão, dos pais e do Pipo :)
    E pensando bem...ela que esqueça o Pedro e fique com o Pipo :)
    Próximo bjs :*

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  3. Olá

    Espero que a Sofia fique ...


    Beijinhos


    Catarina

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