(Pedro)
Desde
o final do dia anterior que um estranho pressentimento aprisionava Pedro. Sentia
que algo não estava bem. Não sabia explicar porque o sentia, nem porque a
sensação teimava em não desaparecer. Já o tivera antes, mas nunca durante tanto
tempo. Certificou-se que estava tudo bem com os que mais amava. Com a sua
família estava tudo bem, com os amigos mais próximos também, e a namorada
também estava de perfeita saúde. O único senão que podia haver, era a estranha
fase que o seu namoro atravessava. Pedro gostava da sua namorada, embora não a
amasse. Mas o sentimento crescia, embora Matilde não acreditasse realmente no
que ele sentia por ela. Sofia era e sempre seria uma “inimiga” ao futuro
daquela relação.
Pedro
continuava a gostar de Sofia, embora não o admitisse, e Matilde sabia-o.
Conhecia-o muito bem. Mas amava-o demasiado para acabar aquela relação e se
afastar dele.
Todos
os dias da semana, Pedro acordava mais cedo e ia buscar a namorada a casa e
levava-a até á escola, e apesar de tudo, aquele dia não era excepção. A sair de
casa, enviou uma mensagem a Matilde:
“Amor, estou a sair de casa”
Foi
até ao carro e depois de o ligar, o telemóvel apitou uma mensagem, mas não a
abriu. Continuou caminho, até casa da sua namorada. Depois de alguns minutos de
viagem, chegou ao destinatário. Matilde aproximou-se do carro, ele abriu o
vidro:
-Olá amor! – Disse Pedro esperando um beijo de cumprimento da
namorada.
-Olá Pedro! – Respondeu friamente e não o beijando. – Não viste a minha mensagem, está claro.
-Não, já vinha a caminho. Mas porquê? – Entretanto um carro parou atrás de Pedro e ele foi
obrigado a estacionar o carro e Matilde sentou-se no lugar ao lado do namorado.
-Porque disse que não precisavas de me
vir buscar, vou bem de autocarro, ou a pé.
-Qual é a necessidade? Sempre te vim
buscar e levar á escola, não percebo porque hoje seria excepção.
-Qual é a necessidade? Não precisas de
me exibir só para dizer que já esqueceste a Sofia.
-Se não gostasse de ti não namorava
contigo, e não estaríamos juntos há já 4 meses.
-Isso não quer dizer nada Pedro! – Disse entristecida. – Podes perfeitamente estar a usar-me para a esquecê-la e para
demonstrares aos outros que já a ultrapassaste. Quantos casos não vimos de
pessoas que se casam até por interesse, ou por dinheiro!
-Mas tu conheces-me bem, sabes que não
faria isso.
-É por te conhecer bem que sei que ainda
a amas.
-Matilde, eu gosto de ti. Não percebo
esta tua indecisão de repente, passou-se alguma coisa?
-Sim Pedro, eu conheço-te bem e sei que
ainda a amas. – Pedro não sabia o que mais
responder. Gostava de Matilde, mas ainda não esquecera Sofia, e não queria
mentir-lhe. Beijou-a com amor e depois sussurrou:
-Gosto muito, muito de ti! – Deu-lhe as mãos e ela sentiu-se amada, talvez ele
estivesse mesmo a gostar dela. Pedro conduziu até á escola da amada e deixou-a
lá, depois seguiu o caminho até ao Caixa Futebol Campus, onde teria treino.
Pedro
era sempre o primeiro a chegar ao balneário e volvido alguns minutos começavam
a chegar outros colegas, sendo que todos os dias variavam. Aos poucos e poucos
começaram a chegar, e reparou que duas pessoas que não se costumavam atrasar,
ainda não tinham chegado. Diogo tinha ido passar a noite a casa de Filipe e
ainda nenhum tinha chegado. Já muito próximo da hora do treino, chegou o segundo.
Aproximou-se e perguntou:
-Então puto porque é que só chegaste
agora? E que é feito do minorca?
-O Diogo hoje não vem, a Sofia, a irmã
do Diogo, está internada no hospital. –
Depois de ouvir aquelas palavras, Pedro sentiu como que o mundo a sair-lhe dos
pés. Filipe continuou a falar, mas ele já não o ouvira. – Pedro estás a ouvir-me? Estás bem?
-Sim, sim. Ele foi até ao norte para a
ver?
-Não. A Sofia está cá. – Pedro não queria acreditar no que estava a ouvir, ela
tinha regressado e nem tentara entrar em contacto consigo? E Diogo era
cúmplice, tinha-se limitado a não lhe dizer? Como era possível continuar a amar
Sofia depois de tudo o que acontecera? –
Mas agora vou vestir-me para não chegar ainda mais atrasado.
Pedro
saiu do balneário e deixou Filipe a preparar-se para o treino, não sabia muito bem
como pensar ou como reagir. Gostava de Matilde, mas não conseguia esquecer
Sofia, apesar de tudo o que ele lhe fizera, de tudo o que lhe sofrera, depois
de um ano de desaparecimento e depois de reaparecer e nem ter tentado falar
consigo. Mas sabia que como profissional não podia deixar transparecer o que
sentia. Aplicou-se no treino e acabou por sair mais cansado do que era
habitual.
-Que se passou hoje contigo Pedro?
Estavas possuído. – Perguntou Filipe,
que passara o treino distraído, também pelo mesmo motivo que Pedro.
-Hoje falei com a Matilde, e conseguimos
resolver as coisas. – Nunca assumira a
ninguém que continuava a amar Sofia, demonstrava sempre que estava entregue de
alma e coração á relação com Matilde.
-Ainda bem! Mas que é que se tinha passado
entre vocês?
-Um mal entendido, mas já está tudo bem.
Tudo se resolve a falar não é verdade?
-Claro
que sim, gostava de ficar a conversar mas não posso, tenho de ir visitar a
Sofia ao hospital.
-Em que hospital é que ela está
internada? Gostava de ir lá ver o Diogo e dar o meu apoio.
-Está no Dona Estefânia. Mas se quiseres
podes ir agora comigo, eu dou-te boleia.
-Não, hoje á tarde vou passear com a
Matilde, não posso mesmo. Mas amanhã ou assim vou lá. Mas não digas nada ao
Diogo se faz favor, ainda não tenho a certeza se vou.
-Está bem, eu digo ao Diogo que mandaste
cumprimentos e que mandaste um beijinho á Sofia.
-Não, não faças isso! – Pediu claramente preocupado.
-Porque não?
-Porque prefiro surpreende-los. – Inventou Pedro. –
Mas é melhor ires andado, para não os deixares preocupados. Vai lá! –
Filipe saiu a correr tão rápido como tinha chegado e Pedro acabou por sair
também dos balneários e do centro de estágios, em direcção á escola da
namorada. Iriam almoçar e passar a tarde juntos, mas ele não conseguira
esquecer o que Filipe lhe dissera. Estava preocupado com Sofia, continuava a
amá-la apesar de namorar com Matilde, queria saber do estado de saúde dela,
queria poder conversar com ela, mas continuava sem saber se era ou não má ideia
ir visitá-la ao hospital.
-Pedro que se passa contigo? – Perguntou Matilde já a meio do almoço que estava a ser
feito em silêncio absoluto, num bar junto á praia.
-Estou cansado só isso.
-Tiveste um treino muito exigente amor?
-Sim, e estou preocupado com o Diogo e
com o Filipe e acabei por descarregar no treino.
-Que é que se passou com eles?
-O Filipe chegou atrasado ao treino, e o
Diogo não foi, estava dispensado.
-Tens medo que seja por causa da Sofia?
-Sim. –
Assumiu com o medo bem presente na voz. –
O Filipe disse-me que ela está em Lisboa. – Para Matilde aquelas palavras
magoaram-na mais que qualquer outro gesto ou atitude de Pedro. Sabia que mais
cedo ou mais tarde, iria acabar por sofrer e sair magoada, e só queria ser
feliz. Podia magoá-la no início mas acabou por fazer o que lhe pareceu melhor.
Respirou fundo, levantou-se da mesa e disse:
-Acabou Pedro. – Disse ainda com os olhos fechados. – É o melhor para os dois, desculpa. – Não conseguiu controlar as
lágrimas e começou a chorar, saiu dali o mais depressa possível e ele ficou a
vê-la partir, sem saber o que fazer, ou como reagir. Gostava dela, mas porque
tinha terminado a relação? Continuava a amar Sofia, mas gostava imenso de
Matilde e não iria abandonar esta para ir ao encontro de quem tanto o magoara.
Deixou
algum dinheiro em cima da mesa e saiu daquele restaurante depressa, não queria
acabar o almoço nem queria falar com ninguém, queria sair daquele local o mais
depressa possível. Não tinha sorte no amor, Sofia abandonara-o sem dizer nada,
como do dia para a noite, Matilde tinha terminado a relação sem ele conseguir
entender a verdadeira razão. Correu até á praia e conseguiu encontrar o local
mais escondido e recatado daquele local, sentou-se e começou a chorar.
“Porquê? Será que mereço tudo aquilo que
sofro? Será que sim? Eu amo a Sofia e ela abandonou-me, ela desapareceu sem
dizer nada, como do dia para a noite. Regressou a Lisboa e nem tentou falar
comigo, ela desistiu de mim, de nós. E nem teve coragem de me dizer, eu só
queria entender isto. Ela não é assim, a Sofia que conheci não é assim, a Sofia
com quem eu namorei um ano não me tinha feito isto. Não me teria tirado o
coração pelas costas e pisado. Ela devia ter-me explicado tudo, por muito que
não exista desculpa, era sempre bom haver alguma explicação. É por a amar tanto
que não a consigo esquecer, por não saber tudo o que se passou que não consigo
apaga-la da minha vida, e foi graças a tudo isto que perdi também a Matilde.
Alguém de quem eu gosto e começava a gostar cada vez mais. Nunca lhe menti, eu
sei, mas também nunca lhe disse a verdade. Que amo a Sofia, porque sei que a
iria magoar, e ela não merece sofrer. Mas ela conhece-me, melhor do que eu a
conheço e sabe que nunca a deixarei de amar até falar com ela. Mas porquê?
Porquê este medo de me perder? Não ia desistir dela, ia lutar até ao fim pela
Matilde, porque gosto dela. Seria incapaz de ter uma relação com a Sofia,
depois de tudo.”
Pedro
era como o mais comum dos homens, não conseguia chorar junto a ninguém, sentia
a sua masculinidade em perigo. Mas quando se encontrava sozinho chorava. Quantas
vezes não chorou sozinho depois de Sofia o ter abandonado. Desta vez não era
excepção, chorava não só por Sofia… Como por Matilde. Sempre que estava
acompanhado e sentia-se demasiado próximo do desespero e de começar a chorar,
pegava numa caneta e começava a escrever, mas desta vez, decidiu seguir um
conselho de uma velha amiga. Alguém que lhe tinha ensinado muito, que era mais
que uma namorada, fora uma amiga e uma companheira, Sofia. O que ela lhe tinha
ensinado era que o mar era um dos melhores conselheiros, podia ser mais
educado, menos educado, podia chorar ou sorrir, o mar ouvia-o e respondia-lhe
com a força das ondas. E desta vez falou muito com o mar, e sentiu que o melhor
que podia fazer era visitar Sofia. Estava magoado com ela mas ia saber qual era
o seu estado de saúde, estava deveras preocupado. E iria ser amigo de Diogo,
que naquele momento precisava demasiado do seu apoio. Mas primeiro tentou ligar
a Matilde, ela não atendeu e ele não insistiu, por isso mandou-lhe uma
mensagem:
“Não sei o que te levou a fazer isto
amor mas eu não vou desistir de ti porque é isto que o amor verdadeiro me
ensinou a fazer! Sabes que te adoro! Beijos do teu alentejano”
Uma
mensagem com imenso significado, gostava imenso de Matilde e não queria
perdê-la, iria lutar por ela apesar do regresso de Sofia. Foi até ao carro e
conduziu até Lisboa, mas pelo caminho telefonou a Filipe:
-Olá Filipe, achas que posso ir visitar
agora a Sofia?
-Ela agora está a dormir, mas já está a
dormir há um bom bocado, até cá chegares acorda. Queres que avise o Diogo?
-Não. Quando aí chegar falo com ele.
-Então que te aconteceu para vires hoje?
Não ias estar com a Matilde?
-Sim, mas aconteceu um imprevisto. – Não queria contar a ninguém que Matilde tinha colocado
um ponto final na relação.- Diz-me uma
coisa, estão aí os pais deles?
-Estão. O pai está aqui ao pé de mim, a mãe
está lá dentro ao pé dela. – Pedro já tinha tido
a oportunidade de conhecer os pais de Sofia, e sabia bem que o pai não gostava
de si. Mas decidiu arriscar na mesma, queria ver a amada, queria saber qual era
o seu estado de saúde, queria verificar com os seus próprios olhos.
Assim
que chegou ao hospital, perguntou onde era a ala dos internados e um
responsável acompanhou-o até ao local, de seguida teve de pedir informações
para o quarto onde Sofia estava internada e caminhou em direcção ao mesmo.
Respirou fundo, ia enfrentar a família toda dela, mas era o melhor que podia
fazer, queria saber qual era o seu estado de saúde.
Enquanto
percorria o corredor, conseguiu ver o pai e o irmão dela, juntamente com
Filipe, parou e respirou fundo. Iria enfrentá-lo, mas não sabia se estava
preparado. Continuou o seu percurso e em pouco tempo chegou até á porta do
quarto.
-Boa tarde. – Disse ao chegar próximo de todos. – Por muitas coisas que tenham acontecido no passado, o mais importante
é a Sofia e eu quero ver como é que ela está. Preciso disso. – Diogo nada
respondeu, deixou que o pai tomasse iniciativa.
-Pedro. – Respondeu aproximando-se do seu antigo genro. – Desde o início que não fui correto para
ti. E que merecias uma hipótese de provar que estava errado e eu não ta dei. Eu
sei. E por isso lamento. Sei que não é desculpa, mas ela é minha filha. Minha
filha mais nova, a única menina que tive a sorte de ter, e assusta-me só a
ideia de partilhá-la com outro homem! Porque tinha medo que a magoasses, que a
desiludisses, que te aproveitasses dela, e que não a fizesses feliz. E eu tenho
medo do que sou capaz de fazer se alguém lhe fizesse isso! Sei que era capaz de
matar, se fosse preciso, por quem a magoasse! E foi este medo de alguém a
magoar, que acabei por ser eu a fazê-lo. E acabei por te magoar também.
Desculpa-me por isso. E o mínimo que posso fazer por vocês, é dar-vos a
oportunidade de falarem. Devo isso não só á Sofia, como também a ti.
Qual será a reacção de Pedro?
Como
correrá a conversa? Como será o reencontro do antigo casal?
Olá!
ResponderEliminarBem isto agora sim vai aquecer.
O Pedro que esqueça a Matilde. Não se merecem. Ele não a ama e por isso nunca poderá dar lhe o amor que ela merece porque amar é muitoooo diferente de gostar/adorar. E ela também não o merece, merece alguém melhor no sentido em que merece alguém que a ame da mesma forma que ela ama! Ou gostam os dois, ou adoram os dois ou amam os dois. Um a gostar e outro a amar tem tudo para dar errado! É injusto para estes dois!
Mas este reencontro... Ai isto eu quero ver!!! Ai vai ser tao estranho e emocionante! Ele ama-a por isso é que está ali porque esta preocupado com ela, mas esta muito magoado. E ela também o ama mas carrega o peso de ações que a sufocam como foi o caso do aborto e das escapadelas com o Filipe! Estou mesmo curiosa para saber no que dá!
Venha o próximo!!
Beso
Ana Santos
Olá :)
ResponderEliminarFinalmente arranjo tempo para ler os capítulos das fic's q tenho em atraso e este é um deles :)
Adorei o capitulo e ainda bem que a Matilde acabou com o Pedro porque ela gosta dela...mas não a ama...como ama a Sofia :)
Gostei do seu acto de coragem em ir ao hospital ver a amada e enfrentar o todo poderoso pai dela :)
Gostei do arrependimento do pai dela e espero que o Pedro reaja bem ao arrependimento do antigo "sogro".
Espero que a conversa corra bem e que o antigo casal faça as pazes :)
Próximo sff :)
Bjs :*
Adoreiiiiiiiiiiiiii *_*
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