Recusar
um beijo de Filipe, fora algo que nunca lhe passara pela cabeça,
cada vez mais tornara-se um hábito sentir os seus lábios a tocarem
nos seus, talvez fosse uma forma de calar o que sentiam, ou, pelo
contrário, fosse uma forma de demonstrarem o que sentiam, sem ser
por palavras. E apesar de tudo, deixaram o beijo calmo mas sentido,
terminar apenas quando o ar começava a escassear, e ao contrário do
que ele pensava, Sofia saiu do quarto a correr em direção ao seu,
sentou-se na sua cama e começou a pensar:
“Tudo
na minha vida parece uma telenovela brasileira de mau gosto. Por um
lado, Pedro, com quem fiz amor louco e prazeroso, mas que me
desprezou logo depois, e que me disse que a dor que lhe deixei era
superior ao amor que sentia por mim, e Filipe, que era um amigo, mas
desde que começamos a envolver-nos, sejamos sinceros para ter uns
bons momentos de prazer, que os meus sentimentos pareciam ter-se
modificado. Já nos havíamos envolvido mais que uma vez, e repetimos
e cada vez que o fazíamos parecia mudar, já não era mais sexo, mas
também não era amor, era um misto. Sinto-me a trair os dois, embora
verdadeiramente não o faça.”
-Soff.
- Disse Filipe sentando-se
ao lado da amiga e tocou-lhe no ombro. -
Precisamos de falar.
-A
minha vida já está uma confusão, porque tens de a tornar ainda
mais complicada, Filipe? -
Filipe não respondeu, deixou-se ficar em silêncio, consentindo as
palavras que ela havia dito, e acenou com a cabeça, dando-lhe razão.
-Já não sei o que sou, o
que pensar e o que sentir. -
O rapaz colocou a mão sobre a perna dela.
-Sofia
tudo acontece por um motivo e talvez a resposta esteja mesmo à
nossa frente, nós é que ainda não descobrimos. -
Levantou-se da cama e foi em direção ao corredor.
-Logo
à tarde vai-me buscar à escola e falamos.
Filipe
abanou a cabeça, concordando e foi para o seu quarto.
Sofia sentia-se afundar em
si mesma, precisava de sair daquele ambiente, precisava de não
pensar nos seus problemas, quando a rapariga com que ele se
envolvera, acabou de tomar banho, enfiou-se na banheira e tomou um
banho, depois vestiu-se e foi a pé até à sua escola, avisou apenas
o irmão e a cunhada que não precisava de boleia. Pelo caminho
aproveitou para parar numa pastelaria e tomar o seu pequeno-almoço.
Quando chegou à escola, era cedo, aproveitou para colocar os fones
nos ouvidos e assim ficar até ser hora da aula. No decorrer das
aulas, Matilde respeitou o seu espaço e decidiu apenas falar o
essencial. Quando as aulas terminaram Sofia saiu pacificamente para a
porta da escola e encontrou Filipe sentando no seu carro, à sua
espera. Sentou-se no lugar do pendura e bastou apenas uns segundos
para ele falar.
-Estou
de castigo do Benfica.
-Eu
sei. - Respondeu
calmamente. - Mas fiquei
desiludida por só me teres dito hoje.
-Não
sabia como te dizer, eu nunca tinha andado à porrada com ninguém...
E sempre fui contra, sinto-me a pior pessoa do mundo.
-Não
tens de te sentir assim. -
Passou-lhe a mão pela face. -
Não foste tu que começaste, tu limitaste-te a defender-te e a
defender-me.
-Mas
podia ter feito tantas outras coisas antes de responder, a violência
não se paga com a violência.
-Pipo,
tu foste apanhado no meio desta história, o Pedro veio ter contigo e
começou logo a agredir-te, a culpa não é tua.
-O
que é que tu sentes por mim, Soff? -
A rapariga foi apanhada de surpresa, sabia bem demais o que ele
queria perguntar, mas não lhe queria responder.
-O
quê?
-Perguntei-te
o que sentes por mim.
-Porque
queres saber isso?
-Preciso
de saber. - Era um momento
crítico para Sofia. Era o momento da verdade, ou da mentira.
Poderia mentir e dizer que ele lhe era indiferente, e que eram apenas
amigos, ou dizer que sentia algo mais por ele, mas não sabia o que
era, e que a fazia sentir-se ainda mais confusa, afinal continuava a
amar Pedro, para si era impossível gostar de duas pessoas, mesmo que
de formas diferentes.
-Somos
amigos, mas amigos que fazem sexo, amor, o que tu quiseres chamar. -
Mentiu, não era “apenas” amigos, nem era indiferente chamar amor
ou sexo, mas não lhe poderia contar a verdade, com medo de se deixar
envolver ainda mais e ele quisesse algo mais, e depois do que havia
vivido com Pedro, no dia anterior, não poderia deitar tudo a perder,
mas mesmo assim queria certificar-se que Filipe não sentia nada.
- E tu?
-Também
não... É apenas isso. -
Mentiu, também.
O
momento tornou-se constrangedor, tinham “tocado” num ponto
importante, e não sabiam o que haviam de dizer.
-Até
quando vai o teu castigo?
-Inicialmente
eram duas semanas, sem jogar, nem treinar, mas hoje recebi uma
chamada do mister, a dizer que passou apenas para uma.
-Talvez
o mister tenha percebido que não mereciam estar tanto tempo de
castigo
-Talvez,
vai-me custar muito estar longe dos relvados, o futebol é a minha
vida.
-Eu
sei, mas pode ser que este fim-de-semana fora daqui faça bem.
-Queres
que vá contigo a Espinho?
-Sim,
ontem falei com o meu pai, e ele convidou para irmos lá passar o fim
de semana.
-Pode
não agradar ao teu pai a ideia de ir contigo.
-Acredita
que o meu pai aceita toda e qualquer decisão e escolha da minha
vida, e tu és a minha escolha e a minha decisão, não só nestes
dias, como neste fim de semana, como por muito tempo, assim espero.
(Uns
dias depois, nesse fim-de-semana)
Filipe,
Rita e Sofia haviam feito a viagem até Espinho onde iriam passar o
fim-de-semana, Diogo havia ficado em Lisboa porque teria jogo sábado
mas assim que o jogo terminasse iria ter com eles. Depois de deixarem
Rita na sua casa de família, que era à beira da praia, Sofia pediu:
-Pipo,
gostava de ir até ao areal, não te importas?
-Mas
os teus pais já devem estar à nossa espera...
-Tu
já conheces os meus pais, não precisas de ficar tão nervoso.
-Não
quero que desconfiem que nós, bem como dizer isto?
-Que
já dormimos juntos? -
Perguntou tranquilamente e como se falando de um assunto
completamente natural para falar com os pais. -
Eles sabem que não sou virgem, por isso não tem mal nenhum.
-Mas
é sempre estranho. -
Confessou. - Nós dormimos
juntos e não namoramos, isso não é definitivamente algo que um pai
ambicione para uma filha.
-Que
eu saiba, eu é que sou mulher, eu é que devia pensar nisso, por
isso anda para a praia. -
Deu-lhe a mão e levou-o até ao areal, sentaram-se lado a lado. -
É a primeira vez que volto a esta praia desde há um ano.
-Nós
já estivemos numa praia... Onde nos envolvemos. -
Filipe preferiu usar esta expressão em vez de fazer amor ou sexo,
talvez porque nenhum deles sabia o que chamar.
-Sim,
mas foi nesta praia que me tentei matar, há mais ou menos um ano.
-Ainda
bem que não o fizeste, já não imagino a minha vida sem ti. -
Sofia sorriu e deu-lhe um pequeno beijo nos lábios. Ergueu-se e
deu-lhe a mão para ele se levantar também e foram a correr até ao
mar. - Despe-te.
-Sofia,
estão a passar pessoas ali. -
Apontou para o percurso que havia próximo da praia. -
Não vamos fazê-lo. - Sofia
não se deixou ficar sossegada, despiu-se até ficar de lingerie e
Filipe imitou-a, entraram para dentro de água. -
Quero fazer isto, aqui e agora. -
Beijou-o. - Eu preciso
disto, Pipo. -
Ele entendeu e deixou-se levar.
-Já
alguém te disse que fazes isto cada vez melhor? -
Perguntou enquanto se vestiam no areal, depois de se envolverem.
-A outra ensinou-te algumas coisitas, não haja dúvida.
-Ela
chama-se Jéssica, Sofia.
-Não
estou muito interessada em saber isso na verdade. Ela foi só caso de
uma noite, certo?
-Sim,
está descansada. - Sorriu.
- A próxima pessoa com quem
me vou envolver és tu.
-Hoje
à noite?
-Tu
gostas de brincar com o fogo, não gostas?
-Nada
que tu não saibas. -
Sorriram e foram até ao carro onde partiram até casa dela. -A
Jéssica é a tua Jéssica? -
Perguntou com uma série de dúvidas metendo-se na sua cabeça e o
coração a temer perder o que tinham mas também com medo de
perdê-lo.
-Era
a Jéssica que estava na minha vida antes de apareceres sim.
-E o
que sentiste quando estiveram juntos?
-Isso
é tudo insegurança?
-Diz-me.
- Pediu em tom de súplica.
-Foi
sexo, apenas isso. - Sofia
suspirou de alívio. - Ela
gosta de mim.
-Tu
gostas dela?
-Não
mais, ela faz parte do meu passado. Talvez tenha confundido tudo e
nunca tenha realmente gostado dela.
-Porque
dizes isso?
-Sentiu-o
quando nos envolvemos, para mim foi apenas sexo.
-Pipo,
eu apoio-te em qualquer decisão e escolha que fizeres, tu sabes bem
disso.
-A
minha decisão neste momento é ir para tua casa, quero tomar banho e
descansar depois desta sessão de sexo.
-Intensa.
- Acrescentou Sofia.
-Sim.
Muito intensa.
Saíram
do areal da praia e foram até ao carro, e bastaram apenas alguns
minutos para chegarem à casa da família Roch(inh)a, onde os pais
dela já os esperavam para almoçar, tiveram apenas tempo de ir
pousar as malas aos quartos, Filipe pousou a sua bagagem no quarto de
hóspedes, embora tanto ele como Sofia soubessem que iriam passar a
noite juntos, no quarto dela. Almoçaram entre muita conversa e
animação, Filipe até provará uma especialidade de Sofia, e
tipicamente da cidade do Porto, francesinha e adorou. Quando
terminaram, o pai dera-lhe a carta e Sofia foi juntamente com o seu
“amigo” para o quarto lê-la. Estava ansiosa por lê-la desde que
soubera da existência dela.
Querida
Sofia,
Como
tu sabes nunca me soube expressar através da escrita como tu o fazes
tão bem, sempre preferi tratar a bola como minha guia e tu sempre
foste o meu refúgio, a minha ilha paradisíaca e a minha musa, e se
assim o sou a ti o devo, porque é a ti que amo, quero, desejo e
ambiciono. Foste tu que me ensinaste tudo o que sei e se esta carta
expressar tudo o que eu conseguir a razão és tu.
Quando
os nossos olhares se cruzaram pela primeira vez senti algo que nunca
tinha sentido bater no meu coração, senti algo que não foi amor à
primeira vista, foi algo muito forte a unir-nos, algo que não
conseguia explicar por palavras... Soube logo que irias ser alguém
demasiado importante na minha vida e irias marcá-la para sempre.
Desde
que te conheci que a minha vida ganhou um novo rumo: Ensinaste-me a
viver a vida, a saboreá-la e a valorizá-la, aprendi a viver melhor,
nada é certo na vida, por isso devemos amar todos os dias com toda a
intensidade, acreditar nos nossos sonhos, nunca desistir deles porque
se podem tornar realidade. E tu eras o meu sonho tornado realidade,
era o único “para sempre” que poderia ter, mas enganei-me. Sinto
saudades de quando me abraçavas e me fazias sentir um príncipe, tu
eras o meu mundo e eu com os meus braços conseguia segurar-te,
fazias sentir-me incrivelmente feliz. Beijavas-me e fazias-me sentir
como nunca achei ser possível e agora que estou na minha pior fase
da minha vida, onde estás tu? Abandonaste-me quando mais precisava.
Não sei onde estás, porque me deixaste e porque não me dizes nada,
nada na minha cabeça parece explicar tudo o que se passa e o porquê
da tua ausência, mas fazes-me falta de uma forma incrível e eu
daria a minha vida nem que fosse para te ver uma última vez.
Já
procurei em todos os sítios que mais gostavas de estar, nos locais
que eram apenas nossos, já perguntei aos teus amigos onde estás, e
já desesperei ao pé do teu irmão na tentativa de saber de ti. A
minha necessidade é apenas de saber que estás bem para eu puder
também ser feliz e não o serei até ter a certeza que seguiste com
a tua vida para eu poder fazer o mesmo com a minha, porque amar-te
faz-me pôr a tua felicidade à frente da minha. Nunca desistirei de
procurar-te, mas esta carta foi o meu grito de desespero, talvez
nunca a leias, mas saberei que fiz tudo o que estava ao meu alcance
para saber de ti.
Acho
que mesmo depois de tudo o que já passamos que tu não sabes o amor
que sinto por ti, talvez nem eu mesmo saiba de tão grande que é.
Mas queres saber Sofia? Eu tinha a certeza que serias o amor da minha
vida, aquele que ia durar para sempre, que ias ser a minha mulher, a
mãe dos meus filhos. Acreditava que íamos ser daquelas histórias
de amor verdadeiro que acontecem raramente mas que são maravilhosas.
Achei que eras a tal, aquela que me fez perceber que o amor existe e
que é fantástico e por isso no nosso aniversário de namoro eu
ia-te pedir para casares comigo pois não imaginava a minha vida sem
ti. E agora? Passei de uma certeza inabalável para uma dúvida
constante.
Amo-te,
Para
sempre.
Pedro
Rebocho
Sofia
leu a carta em voz alta no colo de Filipe e começara a chorar desde
o início do segundo parágrafo, era difícil acreditar que aquela
carta tinha um ano e tudo havia mudado desde então, mas também pela
forma como ele a amava de forma tão desmedida e louca, o sentimento
era correspondido, mas apesar disso, era difícil aceitar que ele
apesar de merecer melhor do que ela optara por ficar com ela,
abdicando de quem o faria feliz e o merecia na sua totalidade.
-Soff.
– Disse Filipe depois de
terminar de ler a carta e de dar um minuto para ela digerir tudo o
que havia lido. – Queres
namorar comigo? – Foi
apanhada completamente de surpresa, não entendera o porquê daquele
pedido e porquê naquele timing, logo depois dela ler uma carta de
Pedro. – Este pedido é
pensado, e se vires bem tem lógica. O Pedro ama-te e não te
esqueceu neste espaço de tempo, é impossível. Por isso se nós
estivermos juntos, vais-lhe fazer ciúmes e ele vai perceber que te
quer é a ti, e podem voltar a estar juntos, mais uma vez. –
Filipe queria o melhor para Sofia, mas também queria ser feliz,
embora aquele namoro fosse uma fachada, era uma oportunidade para
provar que também gostava dela e lhe poderia fazer feliz, e se ela
acabasse por perceber que realmente quem queria era Pedro, o rapaz
ficaria feliz na mesma, afinal ela também estaria feliz, mesmo que
lhe doesse e ficasse magoado.
-Aceito.
– Deu-lhe um beijo nos
lábios. – Mas não vamos
noticiar aos meus pais está bem?
-Acho
que é melhor assim, para eles ainda estou a tentar recuperar o
Pedro.
-E
não estás?
-Sim,
mas não da forma como eles pensam. –
Respondeu vagamente e Filipe acabou por ficar ainda mais curioso,
queria saber o que ela queria dizer mas optou por ficar calado.
-O
que vais fazer em relação a isto? -
Retirou o anel de noivado do interior do envelope e colocou-o sobre
a palma da sua mão.
-A
carta vou guardar juntamente com as outras, que está numa caixa
debaixo desta cama. -
Baixou-se e tirou-a, colou-a juntamente com as outras, que estavam
guardadas por ordem cronológica e Filipe ficou surpreendido.
-Tu
não levaste isso para Lisboa contigo?
-Não,
seria estar presa a um passado que é isso mesmo, passado, eu queria
era investir num presente e num futuro, com ele.
-E
vais usar esta aliança de noivado?
-Não.
-
Tirou-a da palma de mão de Filipe e retirou também a aliança de
namoro que tinha no dedo anelar da mão direita. -
É passado, são memórias para mim, quero é investir no meu
presente e futuro. Vou guardar na minha caixinha das recordações. -
Levantou-se e guardou tudo onde era devido, sentou-se entre as pernas
de Filipe e ambos pegaram nos telemóveis. -
Quero primeiro enviar-te duas fotografias.
-Duas?
-Sim,
uma nossa e uma minha.
Enviou
primeiro a fotografia mais antiga e roubou um sorriso a Filipe.
-Já
tens uma fotografia minha no meu telemóvel, nos bons velhos tempos
em que era linda e maravilhosa!
-Soff,
tu ainda o és! -
Desta vez fora a vez de Filipe de lhe roubar um sorriso. -
Tu e o teu irmão são tão diferentes...
-Em
termos físicos somos o oposto. Ele parece um cigano com aquele tom
de pele e os olhos bem escuros, e eu sou branquinha de olho azul e
quando era pequena era loirinha e tudo.
-Mas
em termos físicos têm uma parecença única. -
Piscou-lhe o olho.
-Temos?
-
Perguntou confusa.
-São
os dois muito altos. -
Sofia deu-lhe uma palmada no braço, brincando com ele.
-E
agora roubaste-me a dica para a próxima foto!
-Estou
calado, envia-me que estou curioso!
-Quando
é que esta foto foi tirada?
-Há
pouco, deixei o telemóvel ao pé da minha mala e dos nossos casacos,
deixei o temporizador ligado e fui beijar-te.
-Então
foi por isso que ainda demoraste algum tempo para vires ter comigo
depois de me chamares.
-Sim.
-
Sorriu-lhe. -Queria
uma foto nossa e confesso que ficou bastante bonita.
-Pois
ficou. Queres publicá-la no facebook e no IG?
-Quero,
mas não da forma como estás a pensar. -
Filipe ficou confuso. -
Quero publicar uma foto nossa mas é para demonstrar que estou feliz
ao teu lado, somos namorados e amigos e é certo que não gostamos um
do outro da forma como o meu irmão acredita, mas gostamos demasiado
um do outro e eu quero que o mundo saiba.
-Não
queres que saibas que namoramos mas que sou importante na tua vida?
-Sim.
-Então
publica a que me mandaste que eu vou publicar outra nossa.
-Tens
outra foto nossa?
-Claro,
vou-te enviar. -
Demorou alguns segundos mas assim que Sofia viu a fotografia sorriu.
-Quando
é que tiraste esta fotografia, Filipe Guterres Nascimento?
-Lembraste
quando acordaste mais cedo e eu acordei também e com vontade de
fazer sexo?
-E
tu me chateaste tanto até o teres, mesmo com os teus pais a dormirem
no quarto ao lado da cozinha? E insististe que querias fazer no
balcão?
-E
tu aceitaste sem pensar duas vezes?
-Importaste
de parar de ter resposta na ponta da língua?
-Calei-me.
Vamos mas é publicar as fotos.
Publicaram as fotos no Instagram e no
Facebook, inclusivé Sofia fê-lo no Twitter. E como legenda puseram
apenas “SR4” e “FN4”, não identificando-se. Quatro era o dia
que viviam, o dia que começaram a namorar e quem sabe outrora que
poderia marcar o resto da vida de ambos, as letras eram as iniciais
de cada um.
Abandonaram o quarto e foram até à
sala onde o pai dela já estava sentada no sofá em frente à
televisão, e onde se sabia o 11 inicial do jogo de Diogo, e para
ocultar a ausência de Filipe e Pedro acabaram por dizer que ambos
haviam disputado uma jogada complicada e falhavam este jogo por
lesão, se o departamento médico os permitisse começariam novamente
os treinos segunda-feira. E Diogo? Era titular e capitão de equipa,
e isso deixava toda a família babada, inclusivé a mãe que deixou
as lidas domésticas para assistir ao jogo do filho, mas os
comentadores acabaram por noticiar que Pedro aparecia nas bancadas,
de mão dada com uma rapariga, talvez a sua namorada, e tanto a mãe,
como o pai olharam para Sofia, talvez à espera de uma reação ou de
algum comentário.
-Eu
sei que ele tem namorada. -
Respondeu calmamente. -
Mas a relação deles também já teve dias melhores.
-E
como é que estás a recuperar da lesão, rapaz?
-Que
lesão? -
Filipe havia-se esquecido e Sofia deu-lhe um toque no cotovelo, e
olhou-o, tentando fazendo-lhe relembrar do que os comentadores haviam
dito. -
Foi só um toquezinho, mas o departamento médico recomendou-nos a
ficar de fora neste jogo para estarmos aptos para o próximo jogo.
-A
vossa equipa está bastante desfalcada hoje, vamos ver como corre.
Além de ti e do meu ex-genro, o vosso capitão também está de fora
e têm outro colega de fora porque foi expulso no último jogo.
-Sim,
infelizmente não andamos com sorte, mas haverá de passar, para a
semana já voltaremos todos se Deus quiser, mas vou ligar ao João,
no último treino estava tudo bem, fiquei preocupado, se me dão
licença. -
Os pais acenaram, Filipe levantou-se e foi para o quarto de hóspedes
e iniciou a chamada, enquanto isso o telemóvel de Sofia tocou e ela
acabou por seguir o exemplo mas foi para o seu quarto.
-Matilde?
-Houve
um dia desta semana que ias bastante em baixo e agora já tens
namorado, que é que me anda a escapar? E FN? O único que conheço é
o Filipe Nascimento.
-Pois...
-
Respondeu, sem dando uma resposta concreta. -
Não queria contar a ninguém mas hoje comecei a namorar.
-E
não achas que as pessoas iriam desconfiar depois da foto que
publicaste? Ainda por cima ele também publicou.
-Nós
começamos a namorar há uma hora, se tanto, queríamos dar mais
tempo antes de confirmarmos, agora era só uma forma de dizermos que
gostamos um do outro e estamos felizes.
-Fiquei
super surpreendida, não fazia ideia que conhecias o Filipe, até
comentei com o Pedro, e mostrei-lhe a foto e ele ficou tão
surpreendido que teve de ir à casa de banho e tudo, imagina!
-A
sério? -
Sofia tinha o seu objetivo cumprido mas não se sentira bem a
fazê-lo, não queria que Filipe senti-se que o estava a usar para
fazer ciúmes e muito menos que continuava a amar Pedro loucamente,
amava-o sim, mas a sua vida não se baseava apenas nele e era tão
verdadeiro que já ponderara tapar a sua tatuagem no pulso para fazer
algo que honrasse a família e os amigos, a sua vida era muito mais
que Pedro e queria provar a si própria e a todos. -
Não fazia ideia que iria surpreender assim tanto as pessoas.
-Mas
surpreendeste! Digo-te já que tens bom gosto. -
Sofia sorriu para si mesma, afinal as escolhas eram as mesmas em
relação a Pedro.
-Se
tu imaginasses o quanto. -
Disse baixinho.
-Que
é que disseste?
-Nada,
nada, pensei em voz alta.
-Bem,
só te posso desejar boa sorte e temos de combinar um jantar os
quatro, sim, porque tu não conheces o Pedro e eu quero conhecer o
Filipe!
-Depois
combinamos isso, está bem?
-Sim,
mas não me vou esquecer. Agora vou desligar que o jogo está a
começar e ainda não soube nada do Pedro. Beijinhos.
-Beijinhos.
-
Desligou a chamada e sentiu umas mãos apoderarem-se da sua barriga.
-O
João não atendeu e aproveitei para ouvir a conversa, desculpa.
-Não
tem mal, somos amigos e namorados, não temos segredos. -
Deu-lhe um rápido beijo nos lábios. -Vamos
ver o jogo antes que o meu pai dê pela nossa falta. Tenho já a
avisar-te que a minha mãe a ver futebol é muito engraçada, o meu
pai resmunga com tudo e eu discuto com ele.
-Está
visto que isto é de família. -
Ia virar-se para voltar à sala, mas Sofia impediu-o, agarrando-o na
mão. -É
o último beijo pelo menos até ao final do jogo!
Trocaram um beijo, bastante demorado,
por sua vez e voltaram para a sala e as horas passaram a voar, e o
jogo terminou com um 3-1, uma vitória confortável mas renhida até
ao final do jogo, assim que o jogo terminou decidiram dar a conhecer
o melhor da cidade onde Sofia havia nascido e também o melhor da
cidade do Porto e Filipe que embora já conhecesse ficou ainda mais
impressionado, e prometeu que sempre que pudesse lá voltaria com
Sofia.
Voltaram para casa e enquanto a mãe
começou a preparar o jantar, o pai decidiu ir até ao seu escritório
para trabalhar e Sofia e Filipe foram até ao quarto dela para
arrumarem mais alguns pertences para levar para Lisboa.
-O
meu carro não é nenhum autocarro, Sofia.
-Eu
sei, por isso estou só a arrumar o suficiente.
-As
mulheres têm uma definição muito diferente de “apenas o
suficiente”.
-Senão
levar mais roupa, fico sem ela, e depois tenho de andar despida pela
casa.
-Não
me parece nada má ideia. -
Beijou-a no pescoço.
-Está
sossegado que ainda entram os meus pais por ai.
-Sentei-me.
-
Dito isto sentou-se sobre a cama e deixou-a terminar de arrumar os
seus pertences. -
Vou ver os comentários e os gostos nas fotos. -
Assim que ligou o facebook e foi ao Instagram assustou-se com a
quantidade de informação que assistiu de uma só vez. Os gostos
eram difíceis de contabilizar e os comentários eram bem superiores
ao que estava à espera, mas decidiu não comentar nada com Sofia,
ela iria acabar por saber por si mesma.
-São
assim tantos comentários e gostos?
-Logo
verás.
Quando terminou de arrumar os seus
pertences, ambos decidiram ir ter a casa de Rita e chamá-la para ir
até casa da família Rochinha, afinal não faltara assim tanto para
Diogo chegar a Espinho, mas Rita estava nervosa, bastante nervosa.
Iria conhecer os seus sogros e não sabia o que vestir, o que dizer e
muito menos como se comportar, mas Sofia acabou por ajudá-la a
escolher o que vestir e Filipe conseguiu, pelo menos, acalmar os
nervos da rapariga, no fundo tinha o típico medo: que não gostassem
de si, mas também tinha medo que os seus sogros não acreditassem
que tinha mudado desde que fizera tantas maldades a Sofia... Mas ela
acabou por conseguir afastar tais pensamentos com o apoio da cunhada,
e Filipe olhava admirado para a sua namorada a pensar como era
possível ela ser tão encantadora e maravilhosa e para ele não
havia dúvidas, ela era a pessoa mais encantadora que ele já
conhecera em toda a vida.
-Rita,
não tens motivos para estar assim, os nossos sogros são fantásticos
e vão gostar imenso de ti. -
Sofia olhou para Filipe quase fuzilando-o com o olhar. -
Quer dizer, os teus sogros.
-Os
nossos sogros? -
Rita era atenta e bastou o olhar de Sofia para Filipe para obter a
informação que ele havia falado de mais. -
Por isso é que vocês publicaram aquela foto no facebook e no
Instagram, vocês namoram! E eu a pensar que o Filipe estava
apaixonado pelo Sérgio Ramos, e o 4 até tinha confirmado a minha
teoria, pelos vistos estava enganada...
-Não
acredito que me confundiste com esse ser vivo! -
Disse Sofia.
-Posso
ter muitos defeitos mas nunca andei há porrada e seria incapaz de
ser tão caceteira como ele!
-Obrigada
às pessoas que já andaram à porrada, sim?
-Desculpa...
Não era isto que queria dizer, tu sabes que não.
-Mas
disseste. Além do mais, ele é um excelente central!
-Muito
bom não haja dúvida... -
Desabafou Rita e rapidamente foi olhada em tom de dúvida pelo casal.
-
Querem ver que só por namorar que sou cega? O rapaz é mesmo bom
central.
-E
caceteiro! -
Acrescentou Sofia. -
Além de ter de partilhar as iniciais do meu nome com esse sujeito,
ainda tenho de partilhar o número, que bonito! -
Disse sarcasticamente.
-Podes
sempre usar o “A” de Ana!
-Claro
que sim, Ana Rita! -
A rapariga calou-se. -
Com tantos bons dias para começarmos a namorar no mês de Dezembro,
tu tinhas mesmo que escolher hoje, exatamente dia 4!
-Como
imaginas, não foi algo planeado há meses, aliás muito pelo
contrário.
Acabaram por terminar a conversa e ir
até casa da família Rochinha, Diogo já havia chegado e apesar do
jantar já estar pronto, pediu para Sofia e Filipe chegarem até ao
seu quarto, e pediu para Rita o acompanhar, precisava de ter uma
conversa com o casal, mas não queria que os pais o entendessem, por
isso fechou a porta e trancou-a. Respirou fundo e não foi preciso
mais para a sua irmã perceber que ele estava furioso.
-Sofia
e Filipe, não sou vosso pai, mas sou vosso amigo e preocupo-me.
Vocês não me deram ouvidos quando vos aconselhei, por isso agora
vou ser o mais franco e direto que conseguir, pode magoar-vos mas eu
não consigo continuar calado. -
Olhou para Rita. -
Sabem porque é que sempre fui contra a vossa relação à base de
sexo? Além de saber que iam começar a namorar, o que hoje se
confirmou, sabia que os sentimentos não iriam ser completamente
esclarecidos e que iam sofrer. O Filipe não sabe o que é amor, só
soube o que era ter umas relaçõezinhas, secalhar nem isso lhe
pudemos chamar, foram quantas, Filipe? Quantas beijaste e com quantas
foste para a cama? Tu nunca te apaixonaste na tua vida, e ias acabar
por magoar a minha irmã, não queria que ela fosse mais uma para a
tua lista. Sofia, tu és a minha irmãzinha, a minha pequena, tu amas
o Pedro, ele ama-te, está à vista de todos, mas agora tu já nem
tens a certeza se o amas, tu estás com o Filipe, tu gostas dele,
vê-se no teu olhar e nas tuas atitudes. Vocês estão loucamente
apaixonados um pelo outro mas não assumem, sabes porquê? Porque têm
medo, porque o vosso passado não deixa, porque têm medo de
apostarem num presente e num futuro só vosso, mas eu sabia no início
que isto ia acontecer? Vocês namoram para quê? Para fazer ciúmes
ao Pedro? Então e o sexo? E só para uns momentos de prazer? Não
acham que é brincar com o fogo? Já pararam um bocadinho para pensar
em todas as vossas atitudes e tudo o que se está a passar à vossa
volta? -
Sofia ia responder mas o irmão não deixou. -
Tu andaste à porrada Filipe, à porrada! Com um colega de equipa e
com um dos teus melhores amigos há meses, dito pela tua boca a mim,
ninguém mo disse! Tu, passo a expressão, comeste a ex-namorada
dele, e sabias bastante bem a história dele? Não achas que isso
provou que nunca foste amigo dele? E tu Sofia? Tu ias-te matando por
estares longe do Pedro, por teres abortado do vosso filho, tu
abandonaste os teus pais e a tua terra para ires atrás dele! E
agora? Estás na tua terra e trouxeste o Filipe contigo! Tu és amiga
da atual namorada do Pedro, nunca pensei dizer isto mas não te
reconheço, tu tentaste-te aproximar da rapariga para a afastares do
Pedro e agora estás com um grande amigo dele. Expliquem-me tudo
isto, mais importante expliquem a vocês mesmos e sejam sinceros, não
quero saber da cabeça, quero ouvir os vossos corações!
O
que irá responder Sofia?
E
Filipe? Como irá ser o futuro desta relação e será que Diogo vai
aceitar a relação dos dois?
Olá
ResponderEliminarAdoreiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii *_*
Beijinhos´
Catarina