(Sofia)
Sofia
acordou naquele dia de Natal bem disposta e feliz, iria reunir a
família toda e festejarem aquele dia tão especial, e parecia uma
criança com as prendas, apalpava e remexia, separava as suas prendas
de todas as outras e e abanava-as na tentativa de descobrir o que
era, e os seus olhos brilhavam sempre que as abria. Naquele dia de
Natal não era exceção, acordou com o toque da mãe no seu ombro e
o sorriso diário que a mãe lhe disponibilizara sempre que a
acordara, mas desta vez também o pai ali estava, e deu-lhe um beijo
na testa. Ao seu lado na cama estava o irmão, sentou-se e sorriu:
-Bom
dia família, não poderia ter melhor acordar.
-Precisamos
de falar, filha.
Sofia
engoliu em seco, sabia que não poderia ser boa notícia mas que
espécie de má notícia seria assim tão má para lhe dar no dia de
Natal?! Despiu o pijama e vestiu a roupa que havia decidido usar para
aquela ocasião e sentou-se junto à família, olhou para o irmão
mas ele não descodificava, nem ajudava, parecia estar tão surpreso
quanto ela.
-Que
se passou? Estão a assustar-me.
-Não
sei como te dizer isto... -
Disse a mãe.
-Não
se ponham com rodeios por favor, sabem que eu detesto isso.
-Decidimos
dar-te esta notícia hoje porque sabemos que é um dia muito
importante para ti e talvez te ajudasse a ultrapassar melhor a dor e
que possas compreender o nosso lado, que também não é fácil.
-Deixem-se
de rodeios, o que se passa?!
-Tu
és adotada, Sofia. -
Sofia sorriu. Era uma partida, era impossível ser verdade.
-Agora
a sério por favor.
-Estamos
a falar a sério, filha. -
Disse a mãe pousando a mão sobre a sua.
Sofia
gelou com o que ouvira, como assim não era filha biológica das
pessoas que toda uma vida chamou pais? Como não era irmã de sangue
de Diogo? Como lhe haviam escondido este segredo durante quase
dezoito anos? Sentou-se no chão sem energias e a digerir o que tinha
ouvido.
-Sei
que neste momento te deve estar a passar por um turbilhão de
sentimentos e perguntas pela cabeça, mas ouve-nos por favor.
Sofia
não queria ouvir mais nada, nem mais uma única palavra, nunca mais
queria ver nenhum deles ao pé de si, nem queria estar ali. Pegou no
telemóvel e saiu a correr, sem rumo ou destino, apenas para longe,
mesmo quando as lágrimas inundavam-lhe os olhos e não a deixavam
ver o que a rodeava. Andou durante algum tempo até sentir a areia
tocar-lhe nos pés, e o vento que corria do mar bater-lhe na cara,
sentia o cheiro a maresia e fazia-a sentir melhor mas em simultâneo
pior, sentou-se à beira de água com as pernas erguidas e abraçou-as
e chorou durante longos minutos... O telemóvel fartava-se de fazer
barulho, de tocar e tocar, mas ela nem olhava, nem queria saber,
apenas queria chorar e relembrava-se sempre das palavras do seu pai:
“-Tu
és adotada, filha.” -
Mas como é que ele se atrevia a chamar-lhe filha? Mentiram-lhe toda
a vida! Tinham-na feito acreditar em tudo o que lhe diziam, talvez
nunca a tivessem sequer amado. Só queria esquecer tudo e recuperar a
boa fase que vivia anteriormente, queria poder arrancar do seu ombro
a tatuagem que havia feito para o seu pai, queria poder dizer a todos
que os odiava e não os queria mais ver à frente. E Diogo? Como é
que Diogo lhe havia escondido isto? Eles eram irmãos! Talvez não o
fossem na verdade, mas ele não poderia ter escondido nada assim...
O
mar falava consigo, as ondas molhavam-lhe o corpo e vinham baixinhas
e fracas, e por isso diziam apenas um nome, mesmo sem dizer,
refletiam uma personalidade e ela sabia bem quem era, a única pessoa
que conseguia dar luz ao seu dia, mesmo num dia de trovoada. Pegou no
telemóvel, ignorando todas e quaisquer chamadas, limpou as lágrimas
e telefonou. Não precisou de ouvir mais de dois toques para o seu
dia ganhar luz.
-Sofia.
-
Não conseguiu segurar mais o desespero e a mágoa e rompeu em
lágrimas. -
Onde estás? Que se passou?
-Pedro...
Pedro... Eu preciso de ti.
-Onde
estás?
-Em
Espinho... Na nossa praia.
-Vou-me
já fazer ao caminho.
-Desculpa.
Desculpa de coração. -
Sabia que era dia de Natal e iria estragar um dos poucos dias que
Pedro conseguia estar com a família e por isso pedia apenas
desculpa.
-Sofia,
tu precisas de mim é apenas isso que preciso de ouvir.
Ouviu
o motor do carro ligar.
-Amo-te.
-Também
te amo.
Por
muito que sentisse gostar de Filipe, e de se sentir-se feliz com ele,
a verdadeira felicidade e por quem dava a vida era apenas e só,
Pedro. Era ele quem ela amava e amaria sempre.
Passado
pouco mais de duas horas, Pedro chegou a Espinho, o que era pouco
para quem teve de percorrer o país de sul a norte, desde Évora até
Espinho. Estacionou o carro e foi a correr até à praia onde estava
a sua amada, e pegou-a ao colo e levou-a até ao carro, onde abriu a
porta do banco traseiro e sentou-se e pousou Sofia no seu colo. Toda
ela tremia de frio, deveria estar ali há horas e estava cansada,
terrivelmente cansada, Pedro conseguia percebê-lo, deveria ter
chorado todo aquele tempo desde que lhe telefonara e quem saberia
quanto tempo tinha chorado sozinha antes de lhe ligar, provavelmente
também ainda não teria nada no estômago e isso ainda a
enfraqueceria mais. Ligou o aquecimento do carro e colocou-lhe uma
manta no redor do seu corpo e fê-la colar-se ao seu corpo, a sua
cabeça no peito e sussurrou-lhe:
-Sofia?- A
rapariga não tinha forças para lhe responder apenas teve força
para pousar a mão sobre o peito dele e sentir pela primeira vez amor
naquele dia.- Precisas
de comer alguma coisa. - Sofia
não queria, sentia-se indisposta e apenas queria continuar sentada
no colo de Pedro e assim permanecer até se sentir melhor, mas também
sabia que ele não iria desistir, por isso abanou a cabeça
devagarinho. Ele pegou num pequeno pacote de bolachas e tirou a
primeira, e partindo pedaço a pedaço deu-lhe à boca. -Eu
sei que te custa, mas tens mesmo de acabar estas bolachas. -Sofia
terminou as bolachas e aconchegou-se ainda mais nos braços de Pedro,
era exatamente daquilo que precisava, e foi sem pensar em nada mais e
apenas a desfrutar daquele momento que adormeceu... Mas não tardou
para acordar aos berros e a chorar. -
Meu amor, eu estou aqui. -
Agarrou-a e deu-lhe um beijo na testa e outro na ponta do nariz que a
fez despertar e sorrir.
-Obrigada.
-
Pedro deu-lhe um beijo na testa e ambos sorriram. -
Por nunca teres desistido de mim e por me amares.
-Nunca
vou desistir de ti, nem deixar de te amar, sabes? -
Deu-lhe um beijo na ponta do nariz. .
Já me podes contar o que se passou?
-Eu
sou adotada... Os meus pais não são realmente meus pais.
Assim
que o disse rompeu-se em lágrimas e encostou-se ao peito de Pedro e
agarrou a camisola enquanto chorava, ele passou o dedo indicador pela
sua face e limpou-lhe as
lágrimas que corriam na sua bochecha
esquerda.
-Eu
sei que custa, mas tens de ser mais forte que tudo isto.
-Eles
mentiram-me toda uma vida, o meu irmão mentiu-me.
Pedro
abraçou-a mais uma vez e deu-lhe mais um beijo na ponta do nariz,
que sempre a fazia sorrir e sentiu-se um pouco melhor, mas mesmo
assim a dor reinava o seu coração.
-Leva-me
daqui por favor.
-Os
teus pais... -
Rapidamente entendeu que tinha errado. -
Os Rochinha estão preocupados contigo.
-Não
quero saber, de verdade.
-Vou
mandar uma mensagem ao Diogo a avisar que estás bem.
-Não
quero saber. -
Disse aproximando-se e aproximando-se ainda mais do peito de Pedro. -
Só quero sair daqui Pedro.
O
rapaz pegou no telemóvel e mandou a mensagem a Diogo.
-Vamos
para minha casa, em Lisboa?
-Sim,
senão te importares.
Pedro
pegou em Sofia ao colo e colocou-a no banco ao lado do condutor,
depois colocou-se ao lado dela e seguiu caminho em direção a
Lisboa.
-Ou
preferes ir para tua casa?
-Quero
ir para a tua, a minha trás-me demasiadas recordações.
-Assim
será. -
Sofia encostou a sua cabeça na perna de Pedro e endireitou a manta
que cobria o seu corpo. -
Não te faz impressão estar aqui?
-Não,
deixa-te estar. Vou ligar o aquecimento para ficares mais quente.
-Obrigada,
meu amor. -
Pousou a mão sobre a mão sobre a perna dele e não demorou até
adormecer.
Quando
chegaram a Lisboa, e depois de estacionar o carro, Pedro passou a mão
pela face de Sofia e despertou-a. Ela abriu os olhos e olhou
diretamente para ele.
-Não
te queria acordar, desculpa.
-Não
tem mal, também temos de ir andado não é verdade?
-Ia
pegar-te ao colo e ia levar-te. Já não seria a primeira vez.
-Mas
os tempos eram outros... -
Olharam um para o outro e não precisaram de dizer mais nada, ambos
se lembraram dos tempos em que namoravam.
-Ia
relembra-los sozinho.
Aproximaram-se
e ele abriu a porta e puderam sentir o frio que assolava a casa
inabitada naquela noite, ela gemeu de frio e ele percebeu.
-Sempre
foste muito friorenta.
-Tornei-me
ainda mais... Depois da gravidez.
-Ainda
tenho umas roupas tuas de Inverno guardadas, vou lá buscá-las para
usares, e vou preparar alguma coisa para comeres e vou tratar de
aquecer o gelo desta casa. -
Pedro ia virar costas mas ela agarrou-o no braço.
-Obrigada
por abdicares de um dia com a tua família... Por mim.
-Sofia,
tu precisavas de mim, teria abdicado de tudo para te deixar bem. -
Ela corou, ele fazia-a sempre feliz com simples palavras mas tão
boas. -
Fico contente por ainda te fazer corar, sabes? Deixa-me estupidamente
feliz.
-Tu
abdicaste do dia de Natal com a tua família... Por minha causa. É
algo que nunca vou esquecer.
-Sofia,
tu não estavas bem e não iria aproveitar o dia só de pensar que
não estarias bem.
-E
a tua família? Como reagiu?
-Os
meus pais adoram-te, sempre te adoram... Mesmo apesar de tudo.
Compreenderam perfeitamente e disseram-me para ir.
-Agradece-lhes
e manda um beijinho meu.
-Eles
agradecem e devolvem-te, de certeza.
-Obrigada.
-Amanhã
preciso de falar contigo.
-Não
tenho forças Pedro... De verdade que não tenho. Eu estou em pé
porque estás ao meu lado sinto-me demasiado fraca para aguentar
sozinha.
-Amanhã
Sofia. Amanhã conversamos mas é algo que não posso adiar muito
tempo. -
Pegou nela ao colo e levou-a até ao sofá da sala de estar. -
Vou acender a lareira e pôr um aquecedor no meu quarto onde vais
dormir e pôr uma bolsinha para te aquecer os pés e umas mantas a
mais na cama.
-Podes
dormir comigo por favor, Pedro? -
Ele hesitou e Sofia percebeu. -
Não se vai passar nada... Eu é que não consigo dormir sozinha. -
Dito isto rompeu-se em lágrimas. Ele aproximou-se dela e limpou-lhe
as lágrimas e deu-lhe um beijo na testa.
-Eu
durmo. -
Sofia sorriu agradecida. -
Mas vais ter de comer umas torradas e um leite quente, combinado?
-Sim.
-
Disse aconchegando-se nas mantas que a embrulhavam, junto à lareira
já preparada por Pedro.
-Ficas
bem aqui? Eu não demoro.
-Sim.
Não te preocupes.
Ele
deu-lhe mais um beijo na testa onde preparou algo para ele e Sofia
comerem. De seguida foi preparar a cama para receber Sofia, colocando
mais mantas e mais rigorosas,tirou
as roupas dela do armário onde guardava todas as memórias dela e
levou-a até aos pés do sofá.
-Estas
roupas eram tuas... Não sei se ainda te servem.
-Com
certeza que ficam bem.
Ele
fez-lhe uma pequena festa sobre a face e foi preparar algo para Sofia
e ele comerem... Afinal ele pouco ou nada tinha comido e ela... Ela
estava demasiado frágil. Depois de ter as torradas e os leites
quentes, levou-os até à sala e deu-lhe vagarosamente à boca,
aguardando que ela terminasse o que tinha na boca para lhe dar mais e
fê-la beber o leite devagarinho, como se fazia às crianças para
não se engasgar. Sofia... Ela tentava comer e beber por si mesma,
mas assim que levantava os braços, eles caiam. E Pedro... Ele já
sabia dos problemas de saúde que ela tinha tido. Já sabia da
bulimia, das tentativas de suicídio, ele sabia e por isso não
poderia facilitar. Quando terminou de lhe dar a comida suficiente,
comeu também ele e depois, sem nada dizer, pegou em Sofia ao colo e
levou-a até à cama onde a pousou e tapou-a com as mantas da cama.
-Não
te importas? -
Disse apontando para a roupa. Ela abanou com a cabeça negativamente
e ele despiu a roupa que tinha no corpo e vestiu o pijama, sempre os
olhos atentos de Sofia... Que não podia negar que aquele corpo havia
desperto em si toda a atenção e até havia captado instintos que o
corpo de Filipe já lhe havia adormecido, mas tinha de negá-los,
tinha de recusá-los, dissera a Pedro que nada se iria passar e iria
cumprir. Ele deitou-se na cama junto a ela, encostou-se e ela começou
a chorar... A dor corroía, e iria sempre corroer. Vivera uma mentira
por quase dezoito anos. Adormeceu cansada de chorar, e Pedro... Pedro
sabia que não iria dormir. Há anos que não dormia assim junto a
Sofia, queria admirá-la, queira beijá-la, queria tocar-lhe, queria
desfrutar de todos aqueles momentos ao máximo, e decidiu fazer-lhe
uma confidência:
-Sofia.
-
Respirou fundo. -
Durante uns tempos odiei-te. Por me teres abandonado sem dizeres
nada, do dia para a noite, por tanto te amar e por não conseguir
esquecer-te. Que pensei em desistir da minha vida, foram tempos em
que sofri. Sofri muito e pensei que não iria conseguir superar, mas
tive de levantar a cabeça.
Arranjei
forças no teu sorriso e em ti para continuar, porque te amo e quis
acreditar que iria voltar a ver-te, e porque te amo mais que a mim,
que arranjei forças em ti. E a Matilde apareceu na minha vida... E
acabou por acontecer. Ela apaixonou-se por mim e eu deixei-me levar.
Sei que não é desculpa mas eu estava fraco e acabei por também
sentir algo por ela. Eu jurei, jurei a mim mesmo e ao mundo que
sentia verdadeiramente algo, mas hoje... Hoje não sei. Mas não a
quero magoar, ela não merece... Não depois de tudo o que fez por
mim, por nós. Porque agora estou certo que vamos estar juntos até
ao final das nossas vidas. Ela deu-me um filho. Que não foi pensado,
nem desejado, ele simplesmente aconteceu... E eu vou ser o pai dele.
Nunca o irei negar e ele será amado como foi, e é amado o Júnior,
o nosso filho. -
Limpou as lágrimas. -
E acredita que quando soube dele jurei nunca te perdoar por tudo. Mas
hoje... Hoje eu já sei de tudo. Sei
que não me abandonaste, mas que foste obrigada a fazê-lo. Que o teu
pai te obrigou e por muito que me amasses, amas-o também e não
querias desiludi-lo. Que por me teres deixado que sofreste tanto ou
mais que eu, que vomitavas tudo o que comias, e que por isso te
tornaste bolémica, que te tentaste matar... Eu não viveria sem ti,
sabias? -
Deu-lhe um beijo na testa. -
Dava a minha vida só para garantir que estavas bem e feliz. E agora
estás feliz e por muito que te tenha garantido que era o que mais me
importa, mas também me causa um misto de emoções contraditórias.
Quero e gosto que sejas feliz, mais que ninguém, mereces, mas também
me magoa muito o facto de seres feliz... Sem mim. Mas não posso ser
tão egoísta. -
Limpou as lágrimas. -
Sofia, eu descobri o teu blogue e mais que nunca conheço-te e amo-te
mais do que nunca. -
Dito isto deu-lhe um beijo na testa e adormeceu agarrado à dona do
seu coração.
-Não.
Por favor não... Diz-me que é mentira, por favor. -
Sofia chorou e gritou ao pedir para ser mentira. Pedro despertou
segundos antes e abraçou-a.
-Meu
amor, já passou. Eu garanto-te que já passou. - Deu-lhe um beijo na testa. Sofia
limpou as lágrimas que lhe corriam pelo rosto e pousou a cabeça no
peito dele. -Sonhei
que era adotada, diz-me, por favor, que era só um pesadelo. -
Pedro olhou para ela e não teve coragem de lhe dizer a verdade, ela
percebeu e encostou-se ao peito dele a chorar de uma forma
descontrolava e ele abraçou-a. Sabia bem que quando chorava não
deveria dizer nada, deveria sim dar-lhe os braços para abraçá-la e
o peito para ela encostar e chorar, deveria deixá-la ficar assim até
ela ganhar força para falar, ou até adormecer, o que acontecia na
maioria das vezes.
-Porque
me amas, Pedro? Porque continuas a amar-me e a estar ao meu lado...
Depois de tudo? Porquê, Pedro?
-Prometi
que iria sempre apoiar-te e iria amar-te sempre e para sempre e não
vou quebrar essa promessa.
Sofia
sorriu, era incrível a forma como ele a fazia sentir depois de tanto
e tudo o que se tinha passado, quando vivera em Espinho pensara que
ele já a tinha esquecido, que o magoara demasiado para ainda a amar,
mas quando regressara e com o passar do tempo havia percebido que ele
ainda a amava mais e estava ainda mais certa que ele sempre a amaria.
-Estavas
a pensar em algo...
-Não
te conseguia enganar, nem mesmo se tentasse.
-E
posso saber no que estavas a pensar?
-No
que fiz para te merecer.
Pedro
corou e sorriu. Aquela havia sido a resposta mais genuína e intensa
que ela lhe poderia ter dado, não havia pensado sobre ela, apenas
lhe tinha dito, sem medos ou hesitações.
-Sofia...
Nós não pudemos. Simplesmente não pudemos. Tu tens o Filipe, eu a
Matilde, tu estás frágil e eu não posso aproveitar-me disso.
-Estou
demasiado fraca, Pedro, preciso de ti mais do que nunca.
-Sofia,
dorme, por favor. Não tornes as coisas mais difíceis do que elas já
são.
-Tu
sempre estarás aqui para mim, eu sei, mas promete-me que tudo isto é
apenas um mau momento e amanhã quando acordar estarás aqui.
-Não
te vou deixar sozinha Sofia, prometo. -
Deu-lhe um beijo na testa. -
Mas agora vamos dormir.
Fechou
os olhos e deitou-se de barriga para cima, Sofia deu-lhe um beijo na
testa e encostou a cabeça ao peito dele e fechou os olhos, sabia que
Pedro não iria dormir e que estava apenas a tentar evitar o que
poderia acontecer e ela também sabia que não podia ceder, que era
apenas a fraqueza a falar, mas precisava dele... E ele pensava com a
cabeça e ela precisava de todo o seu coração, mas não o podia
condenar por mais, afinal já ele estava ali e dera-lhe tanto naquele
dia sem o dever e foi com este pensamento que adormeceu.
Pedro
apenas dormiu uma hora, passara horas a olhar para ela, a admirá-la,
a senti-la bem junto de si, a admirar a perfeição que ela era e a
admiração e o amor que nutria por ela, queria estar assim junto a
ela para sempre mas não podiam... Queria acreditar que estavam
destinados a ficar juntos, mas a vida parecia querer dificultar tudo,
parecia querer juntá-los mas sempre com impedimentos e acabar por
separá-los. Pedro iria ser pai, Sofia vivia com Filipe.
Olhou para
os lábios dela, os lábios que já tinha beijado milhares, ou
milhões de vezes, os lábios irresistíveis que ela possuía e
queria beijá-los mais uma vez, mas sabia que não o podia fazer,
seria aproveitar-se dela enquanto dormia. Sofia arrepiou-se e Pedro
pode sentir todo o corpo dela embater contra o seu e cativara-lhe
todos os movimentos, sensações, todo o corpo "despertou"
e ele embora já o conhecesse, queria sempre reconhecê-lo, e voltar
a conhecê-lo. Queria mostrar-lhe fisicamente o que sentia por ela,
mas não o iria fazer, iria esperar. Iriam fazer tudo bem, desta vez
iriam fazer tudo para não magoar ninguém mas ele primeiro tinha que
lhe dizer que já sabia de toda a verdade... Adormeceu já passava
das 6h a muito custo mas vencido pelo cansaço. Acordou uma hora
depois com um toque no ombro.
-Bom
dia meu bem.
-Bom
dia minha vida.
Sorriram.
-Fiz-te
o pequeno-almoço, mas se bem te conheço mal dormiste.
-Acertaste.
Mal consegui pregar olho preocupado contigo, só adormeci às 6h,
vencido pelo cansaço.
-Então
dorme, pouco faltam para as 8h.
-Sempre
foste pessoa de acordar cedo, existem coisas que não mudam nunca,
não é verdade?
-Pedro,
talvez devas mesmo dormir, ontem foi um dia muito cansativo para os
dois.
-Sofia,
achas que irei pregar olho sabendo que estás acordada e podes
precisar de mim?
-Então
vamos os dois tentar voltar a dormir, pode ser?
-E o
pequeno-almoço?
-Quando
acordarmos, comemos.
Sofia
pousou o tabuleiro na mesa de cabeceira e pousou a cabeça no peito
dele e a mão ao lado. Esperou durante uns minutos e ainda outros.
-Não
consegues dormir mais, pois não?
-Só
queria que descansasses mais um tempo.
-Sabes
bem que basta-me 10 minutos a dormir e acordo como novo.
-Mas
devias descansar mais... Aproveitar enquanto não nasce o teu filho.
-Sofia,
não vamos falar sobre isso.
Ela
assentiu com a cabeça, iria acatar o pedido dele.
-Como
estás? - Perguntou
Pedro impedindo-a de pensar em algo mais.
-Acho
que nunca vou recuperar, sabes?
-Claro
que vais, és a pessoa mais forte que conheço.
-Obrigada.
-
Olhou-o nos olhos onde o azul dos seus olhos cor de mar se confundia
com o castanho escuro dos olhos de Pedro. - Ontem
nem rezei ao meu filho, deve estar a chamar-me mãe foleira.
-Tu
rezas ao Júnior?
-Todos
os dias, e falo muito com ele, ainda mais desde...
-Desde?
-Que
eu e o Filipe moramos juntos.
-Sabes
eu também falo com o Júnior todas as noites, além de meu filho, é
meu amigo.
-Pelos
vistos é mais um sinal do destino.
-Ou
da vida. Somos uns bons pais para o nosso filho... Para o teu filho
mais velho.
-Precisamos
de falar sobre uma coisa. -
Sofia sabia que ele só iria abordar o tema da adoção se ela
quisesse, não o iria "puxar" e por isso só poderia ser
outro tema e fazia receá-lo.
-Deixa-me
falar primeiro, por favor. -
Pedro calou-se. -
Estou grávida.
Como
irá Pedro reagir à notícia?
De
quanto tempo estará ela? Será que ele vai ter coragem de lhe contar
que já sabe de toda a verdade depois disto?
Olá outra vez :)
ResponderEliminarEpah!...a Sofia adoptada?...SHÉ...Nunca imaginei tal cena :O
Opah!...ela e o Pedro...amooooo *.*
Epah!...a Sofia grávida?...epah!...acho que o filho é do Pedro, é um felling que tenho...hum
Ansiosa para saber o resto ;)
Bjs :*