segunda-feira, 20 de abril de 2015

Capítulo 15 “O Filipe mexe comigo”


Sofia prometera a si mesma que não iria contar a ninguém o que se passara entre si e Pedro, iria defendê-lo, iria impedir que as pessoas fizessem juízos de valor sobre a traição que eles fizeram a Matilde. Conhecia-o melhor do que conhecia a si mesma, sabia todos os traços do seu corpo, conhecia-o interiormente como conhecia a palma das suas mãos.
E por isso sabia que, ele não iria ficar bem com o que havia feito, que iria ficar com remorsos e iria querer contar a Matilde mesmo que isso lhe custasse a relação, só para viver melhor com a sua consciência. E isso doía-lhe, apesar de ter sido a melhor “noite” da sua vida, tudo o que havia sido resultado não eram boas sensações, amava-o e aquilo havia sido o mais próximo de amor que havia tido da parte dele nos últimos tempos, mas não poderia perdoar a si mesma. Não sabia se ele (ainda) a amava, não sabia se gostava de Matilde como já havia gostado de si, aquele dia havia sido demasiado confuso para tirar as suas primeiras conclusões.

-Então Sofia? Podes-me explicar o que se passou?

-Rita, não te consigo explicar o inexplicável.

-Conta-me tudo o que se passou e o que sentiste.

Sofia respirou fundo. Talvez Rita não a fosse julgar, nem a Pedro, talvez o melhor mesmo fosse desabafar e a opinião de um terceiro a ajuda-se a descodificar e a lidar com todos os sentimentos.

-Toquei à porta e ele abriu-me, e começou logo a dizer que se era para pedir desculpa podia voltar para a beira do Filipe, eu pedi para entrar e fomos até à sala e ele disse que não precisava de explicar nada, que nós não éramos nada e eu defendi-me, eu amo-o e depois de tudo, recuso-me pensar que agora tudo desapareceu, e ele disse-me que sofreu muito por me perder, por eu o ter abandonado, e que o que mais lhe doeu foi a minha carta, e o meu coração desfez-se por completo, Rita. Falou-me do que sentiu quando soube que eu e o Filipe nos envolvemos e do nosso filho e da morte dele, acusou-me de o ter enganado e disse que me amava e acusou-me de nunca o ter feito...

-E tu?

-Defendi-me. Disse uma asneira e disse que o amava, no presente, agora e aí voltei a ver no olhar do Pedro algo que vejo no olhar do Filipe, eu vi desejo, pode parecer estranho mas foi isso mesmo, e eu disse-lhe que também o desejava. Ele aproximou-se de mim e beijou-me com desejo e vontade, e eu só conseguia pensar na Matilde e perguntei-lhe, e ele disse que só queria saber de nós. Sofia, aquilo, foi a melhor noite de amor que alguém alguma vez me deu, eu fui multiorgásmica, aquilo foi “a” noite, se alguma vez terei filhos será de algo assim!

-Tu usaste preservativo certo?

-Não, mas não têm problema que não estou no período fértil.

-Diz-me que tomas a pílula.

-Não, nem nunca a tomei.

-Tu tens noção que pode neste momento estar a formar-se um bebé dentro de ti não tens?

-Não estou grávida, confia em mim, mas continuando... A Matilde mandou mensagem preocupada e percebeu que não estava bem e... E …

-E?

-Acabamos por ir almoçar juntas.

-Tu foste almoçar com a rapariga a quem tinhas acabado de meter um valente par de cornos?

-Não punha a situação nesses termos...

-Sofia, isso foi o golpe mais baixo que te vi dar até hoje.

-Esqueceste-te que fui para a cama com um grande amigo do meu ex-namorado.

-Mas isso é diferente! Isso aconteceu e quando olhas para o Filipe é fácil perceber!

-O que queres dizer com isso?

-O Filipe não é um deus grego porque é português!

Sofia não conseguiu conter o riso, realmente Filipe era realmente bonito, mas aos seus olhos nada era mais bonito que Pedro.

-O Pedro é melhor!

-São opiniões, meu amor, para mim o melhor é mesmo o teu irmão, mas tu tens olho para a coisa não haja dúvida!

-A minha cunhada é uma tola! - Sorriram. - Mas a visita da Matilde não durou muito, eu não sabia como lidar com ela e como não poderia desabafar combinado juntarmo-nos outro dia, mas eu vou atrasá-lo o quanto mais puder melhor. E o mais estranho de tudo e me fez sentir tão estranha foi que depois de fazermos amor adormecemos e quando acordei ele estava a vestir-se e disse-me tal e qual assim “a tua roupa está na casa de banho, podes tomar banho mas despacha-te que o Raphael deve chegar daqui a pouco tempo”, e sabes como eu me senti? Senti-me usada, inútil e burra.

-O Pedro disse-te isso?

-Sim.

-Bem... - Rita ia começar a falar mas Sofia lembrou-se que não havia contado tudo.

-Espera, ainda há algo que não te contei. Eu estava na praia onde eu e o Pedro começamos a namorar e ele apareceu vindo não sei de onde, e sentou-se à minha beira, ficamos em silêncio durante algum tempo e ele perguntou-me porque me tinha envolvido com o Filipe e eu não respondi, não sabia o que lhe dizer e ele insistiu e eu disse que estava carente, tinha acontecido e disse que o amo e ele disse que também me amava mas a dor que lhe deixei era maior que o amor que sentia por mim. Eu devia ter morrido Rita, eu devia ter morrido quando me tentei matar na praia em Espinho, quando me tentei matar a cortar-me.

-Tu não ouses voltar a dizer um disparate desses ouviste Ana Sofia? - Ergueu o tom de voz e utilizou os dois nomes. -Achas que não fazes falta? O teu irmão ama-te, tu és a mulher da vida dele, a menina dos olhos dele, mesmo que ele não o demonstre muito. Tu e o teu irmão são a vida dos teus pais e ias levar a vida deles contigo se partisses, eu sei que fiz muita porcaria contigo mas és alguém importante para mim, és a minha cunhada, és uma amiga, uma confidente, quanto aos teus rapazes, eu não queria dizer-te isto mas tu obrigaste-me. O Filipe gosta de ti, de uma forma que nem imaginas, e o Pedro? O Pedro pode dizer o que quiser, mas as atitudes dele vão sempre provar o óbvio, que te ama.

Aquelas palavras atravessaram que nem uma flecha no coração de Sofia. Ela era muito mais importante para aquelas pessoas do que pensava.

-O Pedro ainda me ama? - Foi a única coisa que conseguiu dizer.

-Sofia eu não o conheço bem, não sei dizer, nem justificar tudo aquilo que ele fez e faz, mas posso ver tudo de uma perspetiva diferente, tentei evitar dizer-te isto para não te alimentar falsas esperanças, mas tu tens e mereces saber. O Pedro gosta da Matilde, acredito que uma pessoa para estar com outra, tem de gostar o mínimo que seja, mas é necessário haver algum sentimento, mas ele ama-te é a ti, senão porque a teria traído? Logo aí prova que não a ama, e a tê-lo feito contigo significa que nunca te esqueceu.

-Já não sei o que pensar. Eu amo o Pedro, como nunca amarei ninguém, ele está para sempre comigo, no meu coração, mente e até no meu corpo. - Apontou para a tatuagem com o nome do rapaz no pulso. -E não acreditas o quanto me vai magoar dizer isto, e que isto mexe com todo o meu interior, sinto-me a trair o Pedro, e serás a primeira e única pessoa a saber isto. O Filipe mexe comigo. Não te sei explicar bem, nem como o dizer, mas ele mexe comigo.

-Não te vou dar na cabeça, descansa. - Sorriram. -Basta e bem o teu irmão. Mas já sabes o que vai fazer em relação... - Não sabia como o pronunciar. - A isso?

-Nada. Sei o que sinto pelo Pedro e quero voltar a ter uma oportunidade com ele, hoje tive a prova que ele não está verdadeiramente feliz com a Matilde e eu sou a chave para a felicidade dele, vou sempre preferi-lo ao Filipe. E antes de fazer o que quer que seja, vou passar-me por água e esvaziar a banheira que já está a ficar frio e quero ajudar a fazer o jantar.

Rita saiu da casa de banho e começou a ir preparar o jantar enquanto a cunhada vestia-se, mal terminou foi ajudá-la.

-Falaste com o Pipo hoje?

-Sim, um pouco antes de vir para casa, ele disse que não vinha jantar e não sabia a que horas chegava.

-Acreditas que ficamos de almoçar juntos e ele mandou-me uma mensagem a cancelar e não disse nada até agora? Supostamente eu não sei que ele está castigado.

-Não compreendo o Filipe.

-Eu não compreendo os rapazes, que é bem pior.

Ambas sorriram e passado alguns minutos chegou Diogo e juntos jantaram.

-Eu levanto a mesa, vão lá ver um filme.

-Tens a certeza? - Perguntou a cunhada.

-Claro! Depois vou-me deitar e escrever alguma coisa.

-Obrigada Sofia! - Deu-lhe um beijo na bochecha.

-E está descansada que já preparo as pipocas e uns sumos para vocês, por isso não comecem já a treinar os meus sobrinhos! - Rita limitou-se a sorrir e a ir até à sala onde o seu namorado já a esperava.

Sofia colocou os fones nos ouvidos e começou a dançar ao som da música enquanto arrumava a cozinha e preparava os petiscos para o casalinho, quando terminou foi levar-lhos e interrompeu um beijo entre eles com o fingir de tosse, deu-lhes o que havia prometido e foi até ao quarto onde não tardou a vestir o pijama e começar a escrever.

Querido Pedro,
Amar alguém é quando somos capazes de dar uma vida pela outra pessoa, quando colocamos a felicidade da outra à frente da nossa, quando nos tornamos transparentes aos olhos de quem amamos. É estar presente na mente da outra pessoa, passe o tempo que passar, e continuar a amar, mesmo que nos tenham magoado profundamente. Foste tu que me ensinaste isto, foste tu que me ensinaste o que era amar-te, foi por tua causa que o vivi e sinto-o a arder no peito, todos os dias, em todos os momentos.
Estás com a Matilde e queria acreditar que estavas feliz, queria provar a mim mesma que estavas feliz, sem mim, mas hoje provaste-me que não é realidade. Mesmo que já não me ames, não amas a Matilde como me amaste a mim, sempre me disseste que quando amamos somos incapazes de trair e tu fizeste-o. Comigo. E digo-o e repito, se houve momento em que não tive dúvida absoluta do que sentia por ti e queria lutar por nós, foi quando o fizemos. Não foi apenas amor, nem sexo, foi a união de dois corações que estavam separados, foi o momento em que deixou de existir um passado e um futuro, para haver um esquecimento da razão e da lógica, para afastarmos os passados do presente, que damos pelos nomes de Filipe e Matilde para apenas nos concentrarmos no presente, no momento em que deixou de haver uma Sofia e um Pedro, mas um nós.
Sempre foste um livro aberto para mim, sempre conheci todos os traços da tua personalidade e do teu corpo e depois do dia de hoje sinto que tudo mudou, nunca acreditei que eras capaz de fazer isto, não apenas a mim, mas à Matilde, e ao fim ao cabo, magoares-te, porque a dor dos remorsos irá atormentar-te até ao último segundo e irá prosseguir-me sempre. Sei que foi um erro teres traído a Matilde, mas será que foi um erro envolvermo-nos, esquecendo tudo o resto?

Amo-te para sempre,
Sofia Roch(inh)a”

Pousou a carta sobre a sua mesa de cabeceira e olhou para as duas molduras que ali estavam presentes. Uma com Filipe e outra com Pedro.

Aquela fotografia havia sido tirada recentemente por ela e Filipe havia-lhe dado e emoldurado, na parte de trás da fotografia podia ler-se o que ele tinha escrito:


A amizade é um amor que nunca morre”

Filipe escolheu aquela frase como poderia ter escolhido tantas outras, mas porque optara por aquela? Era uma pergunta para a qual Sofia não tinha resposta. E pode reparar na outra fotografia emoldurada que tinha ao lado da anterior:


Aquela havia sido uma surpresa que Pedro lhe havia feito. Tinham-se desentendido porque ele tinha feito uma crise de ciúmes por causa de Filipe, e passado um ano, eles haviam-se envolvido, a vida era demasiado curiosa por vezes. E Pedro preparara-lhe esta surpresa para lhe pedir desculpa e foi a partir daquele dia que a relação dele tornara-se magnífica e mágica.

E na parte de trás da fotografia e da moldura que Pedro lhe havia dado, poderia ler-se:

It's not a bird,
Not a plane,
It's my heart and it's going gone away”

Aquela música descrevia o que era amar, porque deste o início que gostavam muito um do outro, mas foi com o tempo que descobriram e começaram a amar-se, mesmo que a tenra idade fizesse muitos duvidar do que sentiam, até mesmo os que viam que existia algo único entre ambos. Não conseguiu deixar de deitar uma lágrima teimosa, abraçou-me à moldura que Pedro lhe havia dado e adormeceu abraçada a ela.

Acordou de manhã antes do seu despertador tocar, e espreguiçou-se, sentia-se feliz e bem-disposta, estava disposta a lutar pelo que queria e ao contrário de outros dia sentia uma nova esperança apoderar-se de si, a sua história de amor não tinha acabado, estava longe de ter terminado. Levantou-se da cama e foi em direção à casa de banho quando viu uma rapariga sair do quarto de Filipe com uma camisola dele vestida, caminhava até à casa de banho e apenas queria dizer algo. Eles tinham dormido juntos. Assim que a rapariga fechou a porta da casa de banho correu até ao quarto de Filipe, onde ele estava sentado de lado na cama e empurrou-o com os braços, extremamente enervada e revoltada, mas acima de tudo magoada e desiludida, depois do que haviam falado na noite anterior, ele atrevera-se a ir para a cama com a primeira rapariga que lhe aparecera à frente.

-Como foste capaz de me magoar desta maneira sabendo melhor do que ninguém por tudo o que tenho passado?

Dito isto Filipe puxou-a para si e beijou-a.

Porque terá Filipe beijado-a?
Como irá reagir Sofia? Como ficará a história da rapariga com os seus “dois rapazes”? 

3 comentários:

  1. Olá

    Adorei, Adorei, Adorei *-*


    Beijinhos


    Catarina

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  2. Hello!
    Gostei mt deste capitulo e quero mais :)
    Ainda bem que a Sofia contou tudo á Rita pq assim pode desabafar e n ser julgada pelo que fez
    Esta parte final...ai...aí *.*
    Não o pq de o Pipo ter beijado a Sofia, mas aposto q foi por amor e n por ciúmes
    Acho q a Sofia vai reagir bem e essa história...n sei como irá acabar
    bjs

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  3. Olá!
    Ora bem nem sei muito bem o que pensar! Foi um capítulo de...balanços, balanços emocionais com a conclusão de que anda aqui uma enorme confusão de sentimentos neste..."quadrado amoroso". Eu continuo dividida entre Pedro e Filipe, mas estes beijos repentinos e inesperados conquistam o meu apoio xD
    Fico à espera do próximo!

    Beso
    Ana Santos

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