(Sofia)
-Às
vezes tenho dificuldade em perceber se queres o melhor para mim ou se
queres à força que lute pelo Pedro, mesmo que ele não seja a minha
felicidade. Eu namoro com o Filipe, e se não gostássemos, nem que
fosse um pouco, um do outro, não estaríamos juntos, não achas? Ele
não é um erro, e mesmo se fosse, é com os erros que aprendemos e
crescemos e tu tens de aprender a deixar-me cair e crescer, não me
podes proteger para sempre. Avisaste-nos que íamo-nos apaixonar e
aconteceu, mas provavelmente se não estivesse com o Filipe, estaria
ainda por aí a chorar por causa do Pedro, e foi graças a ele que
aprendi que o passado já lá vai, que não passa disso mesmo, de uma
altura que já foi, por muito que me marque. O meu passado tem o
Pedro, o do Filipe foi com várias raparigas mas eu nem quero saber,
provavelmente se eu fosse a ele, e sabendo que é muito giro, faria o
mesmo, mas sabes o que nós pensamos? Que estamos juntos e felizes,
somos namorados e queremos aproveitar ao máximo!
-E
o Filipe está disposto a lutar e a estar ao teu lado mesmo sabendo
que amas e provavelmente amarás sempre o Pedro? E se ele algum dia
ele quiser voltar para ti, tu vais acabar por magoá-lo?
-Tu
tens todas as razões do mundo para estares chateado e magoado
connosco, sei bem disso, Diogo. -
Disse Filipe surpreendendo todos. -
Sei que errei ao envolver-me com essas raparigas, e é normal e
compreensível que tivesses medo que o fizesse à tua irmã, mas eu
não o faria. Sou amigo dela, ela é a minha Soff. Conheço bem o
passado dela, e poderia ter recusado envolvermo-nos, no início, mas
não o fiz, ambos estávamos livres, queríamos uns momentos de
prazer e não queríamos misturar sentimentos, afinal eu também
tinha a Jéssica ou já te esqueceste? Sei que esta minha escolha de
me deixar envolver, e depois de nos termos apaixonado, me vai trazer
coisas negativas. Que me vai fazer perder algumas amizades
importantes e que me deu um castigo pelo Benfica, que provavelmente
me irá custar caro, mas valerá a pena, porque corri riscos e vou
magoar pessoas, mas vou fazer a tua irmã feliz e é o que mais me
importa! A tua irmã pode dar-me mágoas, mas também me pode dar
felicidade, assim como eu lhe posso fazer, mas estamos a confiar um
no outro para nos entregarmos a sério a esta relação, antes de
fazermos o que quer que seja, vamos sentar-nos e discutir o assunto
como qualquer adulto, ou pessoa matura faria. A nossa relação
também não tem assim tanta diferença da tua relação com a Rita.
Ela fez mal à Sofia e a tua irmã perdoou-a, aceitou-a na tua vida e
deu-lhe mais uma oportunidade, não achas que também me havias de
dar?
-Promete
que vais fazer tudo para não a magoar.
-Seria
incapaz de magoar quem tanto gosto.
-Também
não o vou magoar, está descansado, Diogo Filipe! -
Respondeu a irmã.
-Então
vamos lá jantar. -
Disse Rita que havia sido espetadora durante toda a conversa.
-Primeiro
quero levar o Filipe a um sítio. Diz à mãe que demoro uma hora no
máximo, vão comendo.
-Onde
vais? -
Perguntou o irmão, depois de Sofia agarrar na mão de Filipe e de o
querer levar para fora do quarto.
-Depois
explico-te! -
Sofia deu-lhe a mão e sentou-se no lugar do pendura e Filipe no
lugar do condutor, e ela começou a dar-lhe as indicações para um
local desconhecido, apenas afirmando que iriam a um local que era
importante, e que queria que ele conhecesse. Estacionou o carro e
foram até à porta do local e o rapaz ficou chocado, não estava
nada à espera.
-Quero
que conheças a campa onde está o meu filho. -
Deu-lhe a mão e levou-o até à pequena campa que existia num
pequeno espaço daquele deserto cemitério. -
Depois de ter abortado, pedi apenas para darem dignidade ao meu filho
e sepultá-lo, o meu pai assim o fez. Pedi também para ficar em
Espinho, porque assim sentia-me mais perto do meu filho e também do
Pedro, mas saber que o Júnior estava tão próximo e ao mesmo tempo
tão longe ainda me fez sentir pior, foi-me matando por dentro. -
Filipe abraçou-a e deixou-a chorar nos seus braços.
-Tenho
a certeza que o teu filho estará muito orgulhoso e a olhar por ti no
céu!
-Espero
mesmo que sim. -
Filipe limpou-lhe as lágrimas e deu-lhe um curto beijo nos lábios.
-Só
espero que o teu filho esteja orgulhoso do padrasto que sou.
-Padrasto
é uma palavra tão feia Pipo, tenho a certeza que irá ter tanto
orgulho em ti como tem no pai.
-Posso
perguntar-te uma coisa?
-Diz-me.
-Porque
escolheste Júnior Filipe da Rocha Rebocho?
-Eu
e o Pedro nunca tínhamos falado de um nome para os nossos filhos e
como ele era o nosso júnior, decidi que era o nome indicado. -
Respirou fundo e limpou a última lágrima que lhe estava na cara. -
Filipe porque é o segundo nome do meu irmão e seria naturalmente o
padrinho e tu eras o amigo de quem estava mais próxima enquanto
estive grávida, por isso honrava duas pessoas de quem tanto gosto.
-O
Pedro não irá gostar de saber que terá um filho com o meu nome.
-Talvez
um dia ele me procure para saber mais do filho, até lá nada mais
irei dizer.
-E
se ele nunca quiser saber?
-É
sinal que não me amava como sempre pensei.
-Sofia,
eu gosto realmente de ti, acredita em mim. -
Disse-lhe estas palavras olhando-a nos olhos e ela pode ver que era
realmente verdade o que ele dizia. -
Sei que não é o sítio mais indicado para uma declaração de amor,
mas assim aquilo que farei será pelos olhos apenas e só do Júnior.
-
Sofia sorriu orgulhosa. -
Tu és o meu ídolo, a única rapariga que alguma vez admirei, a tua
força... Não tenho palavras. Incomoda-me só pela sua existência
de tão grande e um dia espero ter uma ínfima parte dela, e da tua
capacidade de perdoar, incomoda-me pensar como é que és capaz de
perdoar quem tanto mal te fez? De pôr tudo para trás das costas a
pensar que essa pessoa está arrependida e pensares que nada mais
importa. Quando tu gostas é assustador a forma como gostas e o único
pedido que me faço em relação a ti é não ouvir-te dizer que
gostas de mim, nem o demonstrares, apenas e só preciso de ver-te a
falar de mim com o mesmo brilho nos olhos que tens quando falas do
Pedro. -
Ela abraçou-o.
-Não
consigo dizer que te amo, porque seria enganar-te e enganar-me a mim,
continuo com o Pedro gravado no meu coração. -
Filipe desviou o olhar magoado. -
Mas sei que ele é passado. Que hoje, não me faria feliz como alguma
vez me fez, que tu me vais fazer e eu aceitei namorar contigo, não
para fazer ciúmes ao Pedro, mas para te provar que te estou a dar
uma oportunidade e que sinto algo por ti, mas não sei bem dizer o
que é, nem consigo sequer explicar, por isso quis, de certa forma
apresentar-te ao meu filho para entenderes, um pouco do que sinto. -
Ele abraçou-a e beijaram-se.
(Nesse
mesmo dia, depois do jantar)
-Vou-me
deitar. -
Anunciou Sofia depois dos pais irem para o café e de se sentar com o
irmão, cunhada e namorado no sofá da sala.
-Já?
Mas ainda é tão cedo.
-Eu
sei, mas o dia foi repleto de emoções.
-Queres
que vá contigo? -
Perguntou Filipe.
-Estava
à espera que te convidasses, preciso de alguém me aqueça com este
frio.
-Encostem
a porta do quarto dos visitantes e já agora a do teu quarto também,
mana!
-O
que é que estás a insinuar?
-Nada
que não seja verdade!
-E
tu vê lá se também não deixas a minha cunhada a pão e água!
-Eu
já jantei mas obrigada pela preocupação, cunhada! -
Respondeu Rita.
-A
Rita vai dormir a casa dela.
-Deve
ir deve. -
Respondeu Filipe, encostando já a porta do quarto onde
(supostamente) iria dormir e indo para o quarto com a namorada.
-Vamos
dormir então meu amor? -
Perguntou Filipe abraçando-se a Sofia.
-Estava
a pensar noutras coisas...
-Sabes
que demasiado sexo prejudica a vida de um atleta não sabes?
-Acho
que não falei em sexo.
-Falaste
em aquecer os pés. -
Esta expressão fazia-o sorrir. -
Não quero que a nossa relação seja apenas e só à base disso.
-Não
é, sabes melhor que ninguém que é bem mais que isso. -
Dito isto beijou-o. -
Quero mostrar-te uma coisa. -
Sentou-se em cima da cama e afastou as calças do seu tornozelo e
pode ver-se uma tatuagem no tornozelo com uma peça de puzzle com um
coração no centro e dois pedaços que o faziam completar-se com
outra peça.
-Tu
fizeste esta tatuagem com o Pedro?
-Sim.
-
Respondeu calmamente, falando tranquilamente sobre o seu passado,
surpreendendo Filipe, todo aquele dia havia sido uma total surpresa
para si. -Nós
acreditávamos que éramos almas gémeas e não fazia sentido viver
um sem o outro, que éramos como puzzles. O coração no centro
significa o amor que sentíamos um pelo outro, e os quatro encaixes
simbolizam os quatro vértices essenciais, na nossa opinião, para
uma relação: amor, confiança, amizade e respeito. E sabes porque
escolhemos fazer neste sítio? Porque é próximo do tendão de
Aquiles e segundo a lenda era o único ponto fraco do quase
invencível Aquiles, conheces a história?
-Não.
-Então
eu conto-te. Aquiles era um herói da Grécia, que participou na
Guerra de Troia e o maior guerreiro da Ilíada de Homero e segundo a
lenda era invencível em todo o seu corpo à exceção do seu
calcanhar e foi atingindo exatamente aí por uma seta envenenada e
morreu.
-Tu
e o Pedro estão para sempre marcados na vida um do outro... -
Anunciou chocado e com dor, não era apenas a tatuagem, mas o facto
deles terem tanto em comum e de uma pequena parte de Pedro (mais uma)
estar marcada no corpo dela.-Nunca
conseguirei fazer-te feliz, fazer-te amar-me ou completar-te como ele
te fez.
-Filipe,
não precisas de me completar ou amar, tu já me fazes feliz apenas
por estares na minha vida e eu gosto de ti assim, não peço mais
nada, o passado é o Pedro, mas eu quero olhar para o meu futuro e
presente e esse está aqui à minha frente. -
Dito isto beijou-o e quando separaram os lábios, passou-lhe a mão
pela face. -
Tu és tão bonito. És lindo por dentro, com essa tua coragem e com
essa tua determinação, por fora és um verdadeiro deus grego. -
Beijou-o com intensidade e com uma carga de sentimentos à mistura,
despertados nos beijos que depositavam. -Sabes
que és muito importante para mim não sabes? -
Filipe murmurou positivamente e acabou por levar as suas mãos até
ao interior da blusa da sua namorada, e só ele sabia o quanto lhe
agradava chamá-la por este nome... Por muito que Pedro a tivesse
marcado, ele também estava a marcá-la e ela sentia algo por ela.
Despiu-lhe a
camisola e ela levou as suas mãos até ao interior da t-shirt dele e
só ele sabia o quão bem aquilo lhe soubera, com o ritmo do momento
acabaram por ficar apenas em roupa interior e não tiveram medo de
admirar o corpo um do outro. Apesar de já o conhecerem e de já não
ser a primeira vez que se envolviam aquele nível, era a primeira vez
que existia uma carga emocional tão forte. Filipe encheu-lhe o corpo
de beijos em todas as partes e quando terminou voltou para os seus
lábios onde não se importava de beijá-los quantas vezes quisesse,
de todos, era o seu sabor preferido. E ela acabou por fazê-lo sofrer
um pouco, danço-lhe apenas em lingerie, de forma a deixá-lo
completamente perdido de amores e desejoso de fazê-la sua, na
primeira altura em que ela se distraiu, ele agarrou nela e despiu-a,
despiu-se também de forma desajeitada e começou a explorar o seu
corpo de uma forma que só ele sabia fazer e o que começara com algo
tão habitual entre eles, fê-los conhecer algo novo... Em conjunto.
Já não era apenas sexo, não era um momento de orgasmo, era amor e
era um misto de emoções que os deixava surrealmente felizes e
entregues um ao outro.
(Matilde)
Matilde conhecia
a história de Pedro quase desde que o conhecera, e, desde o primeiro
momento que oferecera toda a sua ajuda para ultrapassar. Nunca quis
que ele a esquecesse, apenas poderia partir dele essa decisão, mas
queria pelo menos que ele lutasse pela sua felicidade e recuperasse
do sofrimento que havia vivido. Com todo o apoio e ajuda que lhe
prestou, tornou-se num dos principais, senão o mais importante
pilar, para ele recuperar, e da “simples” amizade que os uniu,
nasceu um amor e cresceu embora que de proporções completamente
distintas.
-Matilde?
-
Perguntou Pedro enquanto caminhavam de mãos dadas. -
Estavas a pensar em quê, meu bem?
-No
jogo de há pouco. Foi importante esta vitória na véspera de um
jogo tão importante.
-Não
precisas de me mentir, eu conheço-te.
-Vamos
para minha casa falar, é melhor. -
Tinha acabado há poucos minutos o jogo da equipa de Pedro e haviam
saído do Caixa Futebol Campus em direção ao carro dele, onde
entraram e foram em direção à casa dela.
-Quando
voltam os teus pais?
-Amanhã
à noite, hoje vais dormir comigo, amor!
-Mas
nem trouxe roupa para dormir, nem para vestir amanhã.
-Para
que precisas de roupa? Eu tenho uma desculpa para não a teres.
-Não
tenhas pressa em fazeres nada, só quando tu tiveres preparada e que
o vamos fazer, Matilde, eu não me importo de esperar.
-Eu
estou preparada e quero fazê-lo contigo. Mas antes de me entregar a
ti, como nunca o fiz precisamos de ter uma conversa franca e honesta.
Passado
alguns minutos, Pedro estacionou o carro na garagem do prédio e
foram de mãos dadas até casa dela. -Vamos
para o meu quarto. -
Sentaram sobre a cama dela e Pedro respirou fundo, sabia que era
altura de ser completamente sincero com a sua namorada, mas também
que o iria magoar e gostava dela, não o queria fazer. -
Eu sei que a tua ex-namorada é da minha turma. -
Pedro ficou chocado. -
Fiquei desiludida por nem tu, nem a Sofia me terem dito.
-Não
era fácil dizer-te que estavas tão perto de uma pessoa que me foi
tão importante.
-A
Sofia ainda é uma pessoa importante para ti, não precisas de o
negar.
-É
verdade, mas já a esqueci, agora estou contigo e é contigo que
quero estar.
-Também
gosto mesmo muito de ti, mas conheço-te a ti e ao teu passado,
conheço a Sofia e não sou burra para saber que vocês ainda gostam
um do outro.
-Sofri
muito por causa dela, ainda hoje sofro por tudo o que me fez passar,
mas não me posso esquecer que a amei, que cresci muito ao lado dela
e que fomos muito felizes, ela marcou-me isso não o posso negar.
-Conta-me
por favor tudo, desde o início.
-Mas
eu estou feliz contigo Matilde, eu gosto realmente de ti, acredita.
-Quero
saber mais do teu passado, quero que me contes tudo, eu preciso de
saber e acho que me deves isso.
-Tens
a certeza?
-Mais
do que a certeza.
-Lembro-me
muito bem daquele dia. -
Sorriu ao pensar. -Era
1 de Setembro, estava um calor infernal e estávamos de folga porque
na véspera tínhamos chegado de um torneio que tivemos no
estrangeiro e eu, o Diogo e o Filipe, decidimos passar o dia à
praia, mas só no próprio dia é que o Diogo nos avisou que ia levar
a irmã, e desde o primeiro olhar que trocamos que havia algo nela
muito especial. Houve uma atração entre os dois instantânea. Os
olhos dela cativaram-me, o corpo chamava-me a atenção e ela parecia
prender-me ainda mais com cada palavra que dizia, não tiramos os
olhos um do outro e quando tivemos de nos separar, trocamos contactos
e ficamos dias e noites a falar, a conversa flui-a tão naturalmente
que nem dávamos conta das horas passarem. Acreditas que bastou
apenas uma semana para nos apaixonarmos perdidamente? Mas só alguns
dias depois de ambos termos assumido é que lhe pedi em namoro,
bastaram apenas 3 semanas para começarmos a namorar desde que nos
conhecemos, o que para a cabeça de muita gente fazia confusão mas
para nós não, o que eles diziam pouco importava. E não foi preciso
muito até nos entregarmos a outro tipo de nível... Mais físico. Na
verdade bastaram apenas alguns dias para o fazermos. Havia medos,
receios e todo um misto de sentimentos que queriam contrariar o que
fazíamos, mas entregamo-nos, apenas a confiar um no outro e foi bom,
não porque o fizemos, mas porque nunca o tínhamos feito e foi uma
entrega única e especial, foi algo só nosso. Mas nem tudo foram
rosas, os ciúmes começaram a dominar a nossa relação, a
degradá-la e o que começou por ser especial, tornou-se rodeado
pelos ciúmes. Ela tinha demasiado medo de me perder, tinha medo de
perceber que era apenas mais uma para mim, e eu tinha um medo de
morte de a perder para o Filipe, ainda por cima eles eram os melhores
amigos. E ele é bonito, consegue as raparigas que quer, tinha medo
que ela se fartasse de mim e acabássemos, estivemos a um passo que
isso acontecesse, nenhum de nós queria, mas para nós, era
inevitável, só não queríamos assumir, mas um dia decidi
preparar-lhe uma surpresa. Convidei-a para irmos à praia e jantarmos
por lá e fiz com um conjunto de letras “Fica Comigo”, apesar de
simples, foi o que nos fez reacreditar no nosso amor e na nossa
relação e foi a partir daí tu já sabes...
-Continua
Pedro.
-Tens
a certeza?
-Quero
saber tudo, até ao pormenor que parecer mais desinteressante.
-A
nossa relação começou a mudar. Começamos a acreditar um no outro,
a falar sobre tudo, a confiar tanto em nós mesmos, como um no outro,
e foi a partir desse momento que mencionamos o que para nós eram as
quatro bases para um romance: amor, confiança, amizade e respeito, e
por isso tatuamos isto. -
Ergueu a perna e afastou as calças da zona do seu tornozelo. -
As peças do Puzzle porque acreditávamos que éramos almas gémeas e
não fazia sentido viver um sem o outro.
-Nunca
pensaste esconder a tatuagem?
-Sinceramente
queria fazê-lo bem no início, mas é algo que faz parte do meu
passado, alguém que me marcou muito mesmo e me mudou e me fez
crescer de uma forma brutal, com quem vivi momento realmente
realmente bonitos e felizes, mas também sofri, por isso não
tenciono apagar, remover ou até esconder, seria estar a esconder
algo que realmente significa para mim por algo que não significaria
nada.
-Vou-te
fazer uma pergunta e quero que sejas completamente sincero comigo.
-A
Sofia marcou-me muito, mas estou magoado, desfeito, ferido e mutilado
de sentimentos por ela, agora ela é um vazio no meu coração, ela
encheu-me de carinho e paixão, mas depois deixou-me um buraco maior
e tu encheste-o com toda a tua essência, amor e ternura, com tudo
aquilo que és, e significas para mim. Tu nunca foste a outra, tu és
“a” rapariga.
-Sabes
que gosto muito de ti, não sabes? -
Sentou-se ao colo dele e deu-lhe um rápido beijo nos lábios.
-Sei,
porque esse sentimento é completamente recíproco.
-Escondi-te
uma coisa importante, e quero que o saibas.
-Estás-me
a assustar, Pedro.
-A
Sofia escreveu uma carta e deixou-ma na caixa de correio, apesar de
não ter remetente, logo no inicio entendi que era ela. Sabes o que
dizia?! -
Disse já com as lágrimas nos olhos. -
Que quando me deixou estava grávida, e que ela se limitou a matá-lo.
-
As lágrimas já lhe corriam pelo rosto sem conseguir contê-las e
Matilde limpava-lhe as gotas de água que escorriam pelo rosto e
apertava-lhe a mão. -Ela
matou-o, como matou o nosso amor, decidiu apagar-me da vida dela do
dia para a noite sem nada me dizer. E sabes o que me custa mais? Eu
dava a minha vida por ela, fazia-a tudo o que ela me pedisse, beijava
o chão que ela pisava se quisesse, e a minha recompensa foi esta...
Eu pensava que a conhecia, mas ela revelou-se. O nosso maior sonho
era sermos pais e ela quis abdicar dele... Sem me consultar? E não
teve sequer a dignidade de mo dizer na cara, escreveu numa puta de
uma carta. -
Disse já não magoado, mas revoltado. -
E ainda me culpa! -
Deu um sorriso sarcástico. -
Diz que quando voltou ao Seixal queria vir ter comigo, mas como me
viu contigo, envolveu-se com um amigo nosso. Só prova que ele não é
meu amigo, nem dela, mas sim um verdadeiro playboy! Como é que ele
conseguiu ir para a cama com ela, sabendo de tudo? Eles metem-me
nojo! Mas continua sempre a dizer que não me esqueceu, e o maluco
sou eu? E eu não consegui simplesmente não reagir, peguei no meu
carro, procurei-os durante algum tempo, estacionei o carro à pressa
e espetei um soco naquele gajo, e disse-lhe que ela me metia nojo, só
podia ser ele, eu sabia ! Mas o sacana respondeu-me e ela tentou
separar-nos mas não conseguiu, eu pouco depois é que decidi ir
embora a pensar em ti, meu bem. Sei que provavelmente não deveria
ter respondido com a violência, mas reagi a quente. Eu sou contra a
violência, mas não pensei, o meu coração estava demasiado
despedaçado, e o mister acabou por descobrir e pôs-nos de castigo.
Começou por ser duas semanas sem jogar ou treinar, mas o mister
acabou por mudar de ideias e reduzir o nosso castigo para metade, só
que para não mancharem a minha reputação e do Filipe e com a
necessidade de justificar o injustificável inventaram esta lesão.
-Provavelmente
no teu lugar faria o mesmo. -
Pedro olhou para Matilde completamente surpreendido, esperava tudo
menos aquelas palavras. -
Não sei se o Filipe é realmente teu amigo ou não, prefiro não me
meter, mas esta atitude não foi de amigo. Ele sabia que ela ainda
mexia contigo e mesmo assim não parou para pensar que aqueles
momentos de orgasmo lhe iriam custar caro, e ela contou-me, não sei
se foi por te amar ou não, não faço ideia, no lugar dela não o
faria, por isso no teu lugar faria exatamente o mesmo, acho que lhe
espetava bem mais que um soco e era bem merecido!
-Não
me estás a censurar por o ter agredido?
-Claro
que não. Aliás até te dou razão, o que ele fez não foi de amigo
e tu tinhas de te defender e reagiste a quente, não pensaste! O que
ele te fez é a pior traição que se pode fazer a um amigo, e ela
também não é nenhuma santa, mas não fez tanto mal, afinal ela é
teu passado, tua ex, mas ele é teu amigo. E acho que no teu lugar
faria o mesmo, deixava-o ainda em pior estado e a ela, acredita que o
que tu disseste, parece simpático. -
Pedro ficou completamente surpreendido com o que acabara de ouvir.
-Tu
aceitas e compreendes o que fiz?
-Na
totalidade meu bem. -
Passou a mão sobre a face dele. -
Não sei se ele realmente é teu amigo, e nem sei se ela também te
ama, mas compreendo o teu lugar perfeitamente, o lugar de quem
realmente gosta e o que tu fizeste foi incrível. -
Pedro abraçou-a, completamente emocionado com o que ela havia dito.
-Não
estava nada à espera que dissesses isso... Acredita que me deixou
completamente feliz.
-Pedro,
meu amor. -
Pousou a sua mão sobre a dele. -
Somos amigos, lembraste? Prefiro que sejas totalmente sincero comigo
e me digas o que pensas, sentes e o que fizeste do que descobrir
pelos outros, por muito que me magoe. -
Pedro hesitou, talvez fosse melhor contar-lhe que ele se havia
envolvido com Sofia há poucos dias, mas sabia que isso a iria
destruir por completo, iria fazê-la sofrer tanto como ele sofria, e
ele gostava demasiado dela para lhe sujeitar a essa dor.
-Só
não te contei nada disto, não foi por não querer, mas simplesmente
não encontrava as palavras certas e a altura ideal, entendes?
-Entendo,
mas para a próxima sê completamente sincero comigo, desde o início.
(Passado
algumas horas)
Pedro não queria acreditar... A
mulher que mais amava estava nos braços de uma pessoa que
considerava amigo e ambos arracaram-lhe o coração, pelas costas,
despedaçaram-no e queimaram-no, mesmo à sua frente e ele nada podia
fazer. A rapariga que o amava estava deitada na cama, completamente
despida e depois de lhe ter entregue a sua primeira vez. Mesmo assim
não conseguia controlar as suas lágrimas, queria reconstruir e
viver uma nova vida e feliz ao lado de Matilde, mas não conseguia.
Era impossível. Por isso decidiu pegar num papel e escrever:
Filipe,
É
a lutar contra o orgulho de ainda a amar e, saber que para sempre o
farei, mas também com a certeza que ela agora é inteiramente tua
que te escrevo esta carta. Infelizmente não valorizei a Sofia como
ela merecia e quero evitar que o faças também, ela merece ser feliz
e senão o foi comigo, espero que o seja contigo, e por isso peço-te
por favor que nunca a faças chorar, fá-la feliz, para sempre, mas
todos os dias um pouco mais.
Surpreende-a
durante a madrugada. Levanta-te da cama, e vai ter com ela, mesmo que
o frio do corredor te assuste, fá-lo, porque ela acorda a meio da
madrugada a sentir-se sozinha e espera que tu o saibas. Não precisas
de dizer nada, deita-te ao lado dela e conforta-a. Acredita que a
farás feliz com um pequeno gesto como este, porque ela não te quis
acordar para não te incomodar, mesmo que tu lhe tenhas dito milhões
de vezes que nunca o fará, o seu receio é... Que sejam apenas
palavras. Quando estiverem em silêncio há demasiado tempo beija-a e
diz o quanto a amas, porque ela é demasiado pensativa e
provavelmente vai começar a achar problemas onde não os há. Dá-lhe
a mão enquanto estiveres com os teus amigos, acredita que ela nunca
se esquecerá disso, valerá mais esse momento que tantas outras
palavras bonitas que lhe possas dizer no íntimo, para ela é
importante demonstrares a todos que ela é a “tua miúda” e não
a de mais ninguém. A Sofia não fala por palavras mas por gestos,
ela não é daquele tipo de raparigas que fala sobre o seu dia, é
daquelas que espera que chegas ao pé dela e lhe perguntes e mesmo
que ela diga que está tudo bem insiste, provavelmente deverás
abraçá-la e ela irá chorar nos teus braços, escuta-a. Tu és além
de um namorado, um amigo e um companheiro.
Mas
falando de outros assuntos... A Sofia gosta que a acordes com um
beijo no pescoço e comeces a agarrar onde ela gosta, no fundo gosta
de ser surpreendida. Gosta de “rapidinhas” principalmente em
sítios onde pode ser apanhada facilmente. Não te posso revelar
mais, é demasiado perturbante fazê-lo.
Quando
estiverem irritados um com o outro, insiste mas não demasiado,
quando ela se sentir melhor irá ter contigo e irá falar, respeita o
espaço dela. A meio de uma discussão cala-a com um beijo, acredita
que tudo ficará melhor depois disso. Nunca lhe vires a cara, ela vai
entender isso como uma deceção, vai chamar-te desatento mentalmente
e vai virar a cara para o outro lado também. Ela adora surpresas,
não precisa de ser uma viagem nem de gastares demasiado dinheiro e
tempo numa, basta apenas comprares-lhe um ramo de flores e ires
buscá-la à escola. Vai gostar de te exibir a todos, não pelo teu
aspeto, nem para dizerem que são namorados, mas para mostrar a todos
o quanto és maravilhoso e ela te adora.
Não
lhe faças promessas que nunca podes cumprir, ela chorará dias e
noites por causa disso, e não gosta de ciúmes, eu tive-os
loucamente por tua causa, mas para ela não faz sentido, porque todos
os rapazes são feios e não são nada ao pé de ti, até pode
comentar algo sobre algum outro rapaz ao pé de ti, mas é só para
testar os teus ciúmes.
Talvez
ela nunca tenha recuperado da morte do nosso filho, talvez nunca o
faça, mas deixa-a falar sobre isso, oferece-lhe os teus braços para
ela chorar e deixa-a desabafar, não a julgues por favor. Não a
interrompas, e não digas que entendes quando não o faças, sê
sincero, através de um olhar ela consegue descodificar-te. Ela
entrega-se ao máximo em cada relação e não ama pelas metades, ou
ama por completo ou não, simples. Ela quer apenas encontrar alguém
que cuida bem dela. E não sei dizer-te porque é que é tão
difícil, sabes? Mas tenta cuidar dela porque agora ela é tua. Não
volta atrás nem perde tempo à procura de um amor que foi para algum
lugar que não conhece. Para a Sofia, o amor só pode ser justificado
com amor, acredita em mudanças, mas apenas por amor e para ela, uma
coisa não pode ser boa se a faz chorar mais do que sorrir. Perde-te
nesse sorriso que ela exibe para ti sem receio algum e sente-te
realizado. Sente-te realizado por teres os melhores lábios contigo,
por teres o melhor beijo sem hora nem data marcada. E por favor,
retribui todos os sorrisos dela. A única coisa que ela pede para
retribuir todo este amor é apenas o teu amor.
Ela
pode ter todos os interessados do mundo a seus pés, mas para ela só
existes tu. Vai apaixonar-se ainda mais por ti em cada chamada
inesperada, em cada beijo roubado e por cada elogio sincero e sem
aviso. Não suporta a indiferença. Aprende a respirar fundo e a
organizar as palavras antes de as dizeres porque basta uma palavra
dita no timing errado ou o tom de voz diferente que vais ferir o
enorme mas frágil coração. Acredita que depois da Sofia passar
pela tua vida, nada mais será como antes.
Deixa-a
chamar-te de idiota com um sorriso na cara e chamar-te amor a meio de
uma discussão, ela está a dizer-te que te ama no meio daquela forma
de ser tão pura e ingénua. Ela gosta de praia, da areia a tocar-lhe
na pele e a remexer nos seus dedos dos pés, gosta de passeios à
beira-mar com a brisa do mar a embaraçar os seus cabelos. Gosta que
sejas possessivo mas não em demasia, irá perguntar-te quantas vezes
conseguir se pode vestir-se de forma provocadora, tu deverás
responder que ela só o deverá fazer contigo, ela irá sorrir. Está
sempre à procura de bons motivos para sorrir e dos melhores momentos
para guardar na memória, então dá-lhe motivos de sobra para ela
voltar bem para casa e fá-la encontrar em ti os melhores momentos
que ela possa ter. Não é como a maior parte das raparigas, não
gosta de ir atrás quando a “mandam para trás”, gosta que o
façam para sentir que tu te preocupas. Mas acredita que ela melhor
do ninguém, sabe fingir que não se preocupa e acredita em mim, o
fingimento dói sempre mais. Sê sempre sincero com ela, nunca lhe
mintas, porque tal como eu te disse, através de um olhar ela
consegue descodificar-te.
E
o meu último pedido a fazer-te e o conselho mais importante, ama-a
com todo o teu coração e com toda a tua existência, ama-a sem
limites.
Ama-a
e cuida-a como eu nunca soube fazer.
Pedro Rebocho
Será
que Pedro terá coragem de entregar a carta a Filipe?
Será
que vai lutar por Matilde? Ou tentar reconquistar Sofia?
Olá
ResponderEliminarAdorei *_* O Pedro devia entregar a carta, mas acho que ela ficava melhor com o Pedro hehe
Beijinhos
Catarina
Olá!
ResponderEliminarBem, estes casalinhos andam atribulados (para não variar).
Contudo, acho que a Sofia e o Filipe estão melhor encaminhados. Estao a ser totalmente sinceros e a partilhar coisas que consideram importantes.
Já o Pedro e a Matilde não me parecem nada bem mesmo que ela pense que sim. O Pedro disse coisas muito bonitas mas pouco ou nada verdadeiras. A conversa que teve com a Matilde e a carta que escreveu ao Filipe chocam por completo. Se a Matilde lê-se a carta sentir-se-ia arrasada. O Pedro não está a ser justo nem com ele próprio nem com a Matilde e isto tem tudo para acabar mal.
Espero o próximo!
Beso
Ana Santos
Olá :)
ResponderEliminarGostei muito deste capitulo :)
Espero que o Pedro entregue a carta ao Filipe e sinceramente acho que não irá lutar pela Matilde, porque ele ama a Soff...mas a Soff está tão bem com o Filipe, que eu acho que o ex-casal não irá voltar a ser o que era antes.
Próximo bjs