quarta-feira, 10 de junho de 2015

Capítulo 17 “Tu nunca foste a outra, tu és “a” rapariga”


(Sofia)

-Às vezes tenho dificuldade em perceber se queres o melhor para mim ou se queres à força que lute pelo Pedro, mesmo que ele não seja a minha felicidade. Eu namoro com o Filipe, e se não gostássemos, nem que fosse um pouco, um do outro, não estaríamos juntos, não achas? Ele não é um erro, e mesmo se fosse, é com os erros que aprendemos e crescemos e tu tens de aprender a deixar-me cair e crescer, não me podes proteger para sempre. Avisaste-nos que íamo-nos apaixonar e aconteceu, mas provavelmente se não estivesse com o Filipe, estaria ainda por aí a chorar por causa do Pedro, e foi graças a ele que aprendi que o passado já lá vai, que não passa disso mesmo, de uma altura que já foi, por muito que me marque. O meu passado tem o Pedro, o do Filipe foi com várias raparigas mas eu nem quero saber, provavelmente se eu fosse a ele, e sabendo que é muito giro, faria o mesmo, mas sabes o que nós pensamos? Que estamos juntos e felizes, somos namorados e queremos aproveitar ao máximo!

-E o Filipe está disposto a lutar e a estar ao teu lado mesmo sabendo que amas e provavelmente amarás sempre o Pedro? E se ele algum dia ele quiser voltar para ti, tu vais acabar por magoá-lo?

-Tu tens todas as razões do mundo para estares chateado e magoado connosco, sei bem disso, Diogo. - Disse Filipe surpreendendo todos. - Sei que errei ao envolver-me com essas raparigas, e é normal e compreensível que tivesses medo que o fizesse à tua irmã, mas eu não o faria. Sou amigo dela, ela é a minha Soff. Conheço bem o passado dela, e poderia ter recusado envolvermo-nos, no início, mas não o fiz, ambos estávamos livres, queríamos uns momentos de prazer e não queríamos misturar sentimentos, afinal eu também tinha a Jéssica ou já te esqueceste? Sei que esta minha escolha de me deixar envolver, e depois de nos termos apaixonado, me vai trazer coisas negativas. Que me vai fazer perder algumas amizades importantes e que me deu um castigo pelo Benfica, que provavelmente me irá custar caro, mas valerá a pena, porque corri riscos e vou magoar pessoas, mas vou fazer a tua irmã feliz e é o que mais me importa! A tua irmã pode dar-me mágoas, mas também me pode dar felicidade, assim como eu lhe posso fazer, mas estamos a confiar um no outro para nos entregarmos a sério a esta relação, antes de fazermos o que quer que seja, vamos sentar-nos e discutir o assunto como qualquer adulto, ou pessoa matura faria. A nossa relação também não tem assim tanta diferença da tua relação com a Rita. Ela fez mal à Sofia e a tua irmã perdoou-a, aceitou-a na tua vida e deu-lhe mais uma oportunidade, não achas que também me havias de dar?
-Promete que vais fazer tudo para não a magoar.


-Seria incapaz de magoar quem tanto gosto.

-Também não o vou magoar, está descansado, Diogo Filipe! - Respondeu a irmã.

-Então vamos lá jantar. - Disse Rita que havia sido espetadora durante toda a conversa.

-Primeiro quero levar o Filipe a um sítio. Diz à mãe que demoro uma hora no máximo, vão comendo.

-Onde vais? - Perguntou o irmão, depois de Sofia agarrar na mão de Filipe e de o querer levar para fora do quarto.

-Depois explico-te! - Sofia deu-lhe a mão e sentou-se no lugar do pendura e Filipe no lugar do condutor, e ela começou a dar-lhe as indicações para um local desconhecido, apenas afirmando que iriam a um local que era importante, e que queria que ele conhecesse. Estacionou o carro e foram até à porta do local e o rapaz ficou chocado, não estava nada à espera.

-Quero que conheças a campa onde está o meu filho. - Deu-lhe a mão e levou-o até à pequena campa que existia num pequeno espaço daquele deserto cemitério. - Depois de ter abortado, pedi apenas para darem dignidade ao meu filho e sepultá-lo, o meu pai assim o fez. Pedi também para ficar em Espinho, porque assim sentia-me mais perto do meu filho e também do Pedro, mas saber que o Júnior estava tão próximo e ao mesmo tempo tão longe ainda me fez sentir pior, foi-me matando por dentro. - Filipe abraçou-a e deixou-a chorar nos seus braços.

-Tenho a certeza que o teu filho estará muito orgulhoso e a olhar por ti no céu!

-Espero mesmo que sim. - Filipe limpou-lhe as lágrimas e deu-lhe um curto beijo nos lábios. -Só espero que o teu filho esteja orgulhoso do padrasto que sou.

-Padrasto é uma palavra tão feia Pipo, tenho a certeza que irá ter tanto orgulho em ti como tem no pai.

-Posso perguntar-te uma coisa?

-Diz-me.

-Porque escolheste Júnior Filipe da Rocha Rebocho?

-Eu e o Pedro nunca tínhamos falado de um nome para os nossos filhos e como ele era o nosso júnior, decidi que era o nome indicado. - Respirou fundo e limpou a última lágrima que lhe estava na cara. - Filipe porque é o segundo nome do meu irmão e seria naturalmente o padrinho e tu eras o amigo de quem estava mais próxima enquanto estive grávida, por isso honrava duas pessoas de quem tanto gosto.

-O Pedro não irá gostar de saber que terá um filho com o meu nome.

-Talvez um dia ele me procure para saber mais do filho, até lá nada mais irei dizer.

-E se ele nunca quiser saber?

-É sinal que não me amava como sempre pensei.

-Sofia, eu gosto realmente de ti, acredita em mim. - Disse-lhe estas palavras olhando-a nos olhos e ela pode ver que era realmente verdade o que ele dizia. - Sei que não é o sítio mais indicado para uma declaração de amor, mas assim aquilo que farei será pelos olhos apenas e só do Júnior. - Sofia sorriu orgulhosa. - Tu és o meu ídolo, a única rapariga que alguma vez admirei, a tua força... Não tenho palavras. Incomoda-me só pela sua existência de tão grande e um dia espero ter uma ínfima parte dela, e da tua capacidade de perdoar, incomoda-me pensar como é que és capaz de perdoar quem tanto mal te fez? De pôr tudo para trás das costas a pensar que essa pessoa está arrependida e pensares que nada mais importa. Quando tu gostas é assustador a forma como gostas e o único pedido que me faço em relação a ti é não ouvir-te dizer que gostas de mim, nem o demonstrares, apenas e só preciso de ver-te a falar de mim com o mesmo brilho nos olhos que tens quando falas do Pedro. - Ela abraçou-o.

-Não consigo dizer que te amo, porque seria enganar-te e enganar-me a mim, continuo com o Pedro gravado no meu coração. - Filipe desviou o olhar magoado. - Mas sei que ele é passado. Que hoje, não me faria feliz como alguma vez me fez, que tu me vais fazer e eu aceitei namorar contigo, não para fazer ciúmes ao Pedro, mas para te provar que te estou a dar uma oportunidade e que sinto algo por ti, mas não sei bem dizer o que é, nem consigo sequer explicar, por isso quis, de certa forma apresentar-te ao meu filho para entenderes, um pouco do que sinto. - Ele abraçou-a e beijaram-se.

(Nesse mesmo dia, depois do jantar)

-Vou-me deitar. - Anunciou Sofia depois dos pais irem para o café e de se sentar com o irmão, cunhada e namorado no sofá da sala.

-Já? Mas ainda é tão cedo.

-Eu sei, mas o dia foi repleto de emoções.

-Queres que vá contigo? - Perguntou Filipe.

-Estava à espera que te convidasses, preciso de alguém me aqueça com este frio.

-Encostem a porta do quarto dos visitantes e já agora a do teu quarto também, mana!

-O que é que estás a insinuar?

-Nada que não seja verdade!

-E tu vê lá se também não deixas a minha cunhada a pão e água!

-Eu já jantei mas obrigada pela preocupação, cunhada! - Respondeu Rita.

-A Rita vai dormir a casa dela.

-Deve ir deve. - Respondeu Filipe, encostando já a porta do quarto onde (supostamente) iria dormir e indo para o quarto com a namorada.

-Vamos dormir então meu amor? - Perguntou Filipe abraçando-se a Sofia.

-Estava a pensar noutras coisas...

-Sabes que demasiado sexo prejudica a vida de um atleta não sabes?

-Acho que não falei em sexo.

-Falaste em aquecer os pés. - Esta expressão fazia-o sorrir. - Não quero que a nossa relação seja apenas e só à base disso.

-Não é, sabes melhor que ninguém que é bem mais que isso. - Dito isto beijou-o. - Quero mostrar-te uma coisa. - Sentou-se em cima da cama e afastou as calças do seu tornozelo e pode ver-se uma tatuagem no tornozelo com uma peça de puzzle com um coração no centro e dois pedaços que o faziam completar-se com outra peça.

-Tu fizeste esta tatuagem com o Pedro?

-Sim. - Respondeu calmamente, falando tranquilamente sobre o seu passado, surpreendendo Filipe, todo aquele dia havia sido uma total surpresa para si. -Nós acreditávamos que éramos almas gémeas e não fazia sentido viver um sem o outro, que éramos como puzzles. O coração no centro significa o amor que sentíamos um pelo outro, e os quatro encaixes simbolizam os quatro vértices essenciais, na nossa opinião, para uma relação: amor, confiança, amizade e respeito. E sabes porque escolhemos fazer neste sítio? Porque é próximo do tendão de Aquiles e segundo a lenda era o único ponto fraco do quase invencível Aquiles, conheces a história?

-Não.

-Então eu conto-te. Aquiles era um herói da Grécia, que participou na Guerra de Troia e o maior guerreiro da Ilíada de Homero e segundo a lenda era invencível em todo o seu corpo à exceção do seu calcanhar e foi atingindo exatamente aí por uma seta envenenada e morreu.

-Tu e o Pedro estão para sempre marcados na vida um do outro... - Anunciou chocado e com dor, não era apenas a tatuagem, mas o facto deles terem tanto em comum e de uma pequena parte de Pedro (mais uma) estar marcada no corpo dela.-Nunca conseguirei fazer-te feliz, fazer-te amar-me ou completar-te como ele te fez.

-Filipe, não precisas de me completar ou amar, tu já me fazes feliz apenas por estares na minha vida e eu gosto de ti assim, não peço mais nada, o passado é o Pedro, mas eu quero olhar para o meu futuro e presente e esse está aqui à minha frente. - Dito isto beijou-o e quando separaram os lábios, passou-lhe a mão pela face. - Tu és tão bonito. És lindo por dentro, com essa tua coragem e com essa tua determinação, por fora és um verdadeiro deus grego. - Beijou-o com intensidade e com uma carga de sentimentos à mistura, despertados nos beijos que depositavam. -Sabes que és muito importante para mim não sabes? - Filipe murmurou positivamente e acabou por levar as suas mãos até ao interior da blusa da sua namorada, e só ele sabia o quanto lhe agradava chamá-la por este nome... Por muito que Pedro a tivesse marcado, ele também estava a marcá-la e ela sentia algo por ela.

Despiu-lhe a camisola e ela levou as suas mãos até ao interior da t-shirt dele e só ele sabia o quão bem aquilo lhe soubera, com o ritmo do momento acabaram por ficar apenas em roupa interior e não tiveram medo de admirar o corpo um do outro. Apesar de já o conhecerem e de já não ser a primeira vez que se envolviam aquele nível, era a primeira vez que existia uma carga emocional tão forte. Filipe encheu-lhe o corpo de beijos em todas as partes e quando terminou voltou para os seus lábios onde não se importava de beijá-los quantas vezes quisesse, de todos, era o seu sabor preferido. E ela acabou por fazê-lo sofrer um pouco, danço-lhe apenas em lingerie, de forma a deixá-lo completamente perdido de amores e desejoso de fazê-la sua, na primeira altura em que ela se distraiu, ele agarrou nela e despiu-a, despiu-se também de forma desajeitada e começou a explorar o seu corpo de uma forma que só ele sabia fazer e o que começara com algo tão habitual entre eles, fê-los conhecer algo novo... Em conjunto. Já não era apenas sexo, não era um momento de orgasmo, era amor e era um misto de emoções que os deixava surrealmente felizes e entregues um ao outro.

(Matilde)
Matilde conhecia a história de Pedro quase desde que o conhecera, e, desde o primeiro momento que oferecera toda a sua ajuda para ultrapassar. Nunca quis que ele a esquecesse, apenas poderia partir dele essa decisão, mas queria pelo menos que ele lutasse pela sua felicidade e recuperasse do sofrimento que havia vivido. Com todo o apoio e ajuda que lhe prestou, tornou-se num dos principais, senão o mais importante pilar, para ele recuperar, e da “simples” amizade que os uniu, nasceu um amor e cresceu embora que de proporções completamente distintas.

-Matilde? - Perguntou Pedro enquanto caminhavam de mãos dadas. - Estavas a pensar em quê, meu bem?

-No jogo de há pouco. Foi importante esta vitória na véspera de um jogo tão importante.

-Não precisas de me mentir, eu conheço-te.

-Vamos para minha casa falar, é melhor. - Tinha acabado há poucos minutos o jogo da equipa de Pedro e haviam saído do Caixa Futebol Campus em direção ao carro dele, onde entraram e foram em direção à casa dela.

-Quando voltam os teus pais?

-Amanhã à noite, hoje vais dormir comigo, amor!

-Mas nem trouxe roupa para dormir, nem para vestir amanhã.

-Para que precisas de roupa? Eu tenho uma desculpa para não a teres.

-Não tenhas pressa em fazeres nada, só quando tu tiveres preparada e que o vamos fazer, Matilde, eu não me importo de esperar.

-Eu estou preparada e quero fazê-lo contigo. Mas antes de me entregar a ti, como nunca o fiz precisamos de ter uma conversa franca e honesta.
Passado alguns minutos, Pedro estacionou o carro na garagem do prédio e foram de mãos dadas até casa dela. -Vamos para o meu quarto. - Sentaram sobre a cama dela e Pedro respirou fundo, sabia que era altura de ser completamente sincero com a sua namorada, mas também que o iria magoar e gostava dela, não o queria fazer. - Eu sei que a tua ex-namorada é da minha turma. - Pedro ficou chocado. - Fiquei desiludida por nem tu, nem a Sofia me terem dito.

-Não era fácil dizer-te que estavas tão perto de uma pessoa que me foi tão importante.

-A Sofia ainda é uma pessoa importante para ti, não precisas de o negar.

-É verdade, mas já a esqueci, agora estou contigo e é contigo que quero estar.

-Também gosto mesmo muito de ti, mas conheço-te a ti e ao teu passado, conheço a Sofia e não sou burra para saber que vocês ainda gostam um do outro.

-Sofri muito por causa dela, ainda hoje sofro por tudo o que me fez passar, mas não me posso esquecer que a amei, que cresci muito ao lado dela e que fomos muito felizes, ela marcou-me isso não o posso negar.

-Conta-me por favor tudo, desde o início.

-Mas eu estou feliz contigo Matilde, eu gosto realmente de ti, acredita.

-Quero saber mais do teu passado, quero que me contes tudo, eu preciso de saber e acho que me deves isso.

-Tens a certeza?

-Mais do que a certeza.

-Lembro-me muito bem daquele dia. - Sorriu ao pensar. -Era 1 de Setembro, estava um calor infernal e estávamos de folga porque na véspera tínhamos chegado de um torneio que tivemos no estrangeiro e eu, o Diogo e o Filipe, decidimos passar o dia à praia, mas só no próprio dia é que o Diogo nos avisou que ia levar a irmã, e desde o primeiro olhar que trocamos que havia algo nela muito especial. Houve uma atração entre os dois instantânea. Os olhos dela cativaram-me, o corpo chamava-me a atenção e ela parecia prender-me ainda mais com cada palavra que dizia, não tiramos os olhos um do outro e quando tivemos de nos separar, trocamos contactos e ficamos dias e noites a falar, a conversa flui-a tão naturalmente que nem dávamos conta das horas passarem. Acreditas que bastou apenas uma semana para nos apaixonarmos perdidamente? Mas só alguns dias depois de ambos termos assumido é que lhe pedi em namoro, bastaram apenas 3 semanas para começarmos a namorar desde que nos conhecemos, o que para a cabeça de muita gente fazia confusão mas para nós não, o que eles diziam pouco importava. E não foi preciso muito até nos entregarmos a outro tipo de nível... Mais físico. Na verdade bastaram apenas alguns dias para o fazermos. Havia medos, receios e todo um misto de sentimentos que queriam contrariar o que fazíamos, mas entregamo-nos, apenas a confiar um no outro e foi bom, não porque o fizemos, mas porque nunca o tínhamos feito e foi uma entrega única e especial, foi algo só nosso. Mas nem tudo foram rosas, os ciúmes começaram a dominar a nossa relação, a degradá-la e o que começou por ser especial, tornou-se rodeado pelos ciúmes. Ela tinha demasiado medo de me perder, tinha medo de perceber que era apenas mais uma para mim, e eu tinha um medo de morte de a perder para o Filipe, ainda por cima eles eram os melhores amigos. E ele é bonito, consegue as raparigas que quer, tinha medo que ela se fartasse de mim e acabássemos, estivemos a um passo que isso acontecesse, nenhum de nós queria, mas para nós, era inevitável, só não queríamos assumir, mas um dia decidi preparar-lhe uma surpresa. Convidei-a para irmos à praia e jantarmos por lá e fiz com um conjunto de letras “Fica Comigo”, apesar de simples, foi o que nos fez reacreditar no nosso amor e na nossa relação e foi a partir daí tu já sabes...

-Continua Pedro.

-Tens a certeza?

-Quero saber tudo, até ao pormenor que parecer mais desinteressante.

-A nossa relação começou a mudar. Começamos a acreditar um no outro, a falar sobre tudo, a confiar tanto em nós mesmos, como um no outro, e foi a partir desse momento que mencionamos o que para nós eram as quatro bases para um romance: amor, confiança, amizade e respeito, e por isso tatuamos isto. - Ergueu a perna e afastou as calças da zona do seu tornozelo. - As peças do Puzzle porque acreditávamos que éramos almas gémeas e não fazia sentido viver um sem o outro.

-Nunca pensaste esconder a tatuagem?

-Sinceramente queria fazê-lo bem no início, mas é algo que faz parte do meu passado, alguém que me marcou muito mesmo e me mudou e me fez crescer de uma forma brutal, com quem vivi momento realmente realmente bonitos e felizes, mas também sofri, por isso não tenciono apagar, remover ou até esconder, seria estar a esconder algo que realmente significa para mim por algo que não significaria nada.

-Vou-te fazer uma pergunta e quero que sejas completamente sincero comigo.

-A Sofia marcou-me muito, mas estou magoado, desfeito, ferido e mutilado de sentimentos por ela, agora ela é um vazio no meu coração, ela encheu-me de carinho e paixão, mas depois deixou-me um buraco maior e tu encheste-o com toda a tua essência, amor e ternura, com tudo aquilo que és, e significas para mim. Tu nunca foste a outra, tu és “a” rapariga.

-Sabes que gosto muito de ti, não sabes? - Sentou-se ao colo dele e deu-lhe um rápido beijo nos lábios.

-Sei, porque esse sentimento é completamente recíproco.

-Escondi-te uma coisa importante, e quero que o saibas.

-Estás-me a assustar, Pedro.

-A Sofia escreveu uma carta e deixou-ma na caixa de correio, apesar de não ter remetente, logo no inicio entendi que era ela. Sabes o que dizia?! - Disse já com as lágrimas nos olhos. - Que quando me deixou estava grávida, e que ela se limitou a matá-lo. - As lágrimas já lhe corriam pelo rosto sem conseguir contê-las e Matilde limpava-lhe as gotas de água que escorriam pelo rosto e apertava-lhe a mão. -Ela matou-o, como matou o nosso amor, decidiu apagar-me da vida dela do dia para a noite sem nada me dizer. E sabes o que me custa mais? Eu dava a minha vida por ela, fazia-a tudo o que ela me pedisse, beijava o chão que ela pisava se quisesse, e a minha recompensa foi esta... Eu pensava que a conhecia, mas ela revelou-se. O nosso maior sonho era sermos pais e ela quis abdicar dele... Sem me consultar? E não teve sequer a dignidade de mo dizer na cara, escreveu numa puta de uma carta. - Disse já não magoado, mas revoltado. - E ainda me culpa! - Deu um sorriso sarcástico. - Diz que quando voltou ao Seixal queria vir ter comigo, mas como me viu contigo, envolveu-se com um amigo nosso. Só prova que ele não é meu amigo, nem dela, mas sim um verdadeiro playboy! Como é que ele conseguiu ir para a cama com ela, sabendo de tudo? Eles metem-me nojo! Mas continua sempre a dizer que não me esqueceu, e o maluco sou eu? E eu não consegui simplesmente não reagir, peguei no meu carro, procurei-os durante algum tempo, estacionei o carro à pressa e espetei um soco naquele gajo, e disse-lhe que ela me metia nojo, só podia ser ele, eu sabia ! Mas o sacana respondeu-me e ela tentou separar-nos mas não conseguiu, eu pouco depois é que decidi ir embora a pensar em ti, meu bem. Sei que provavelmente não deveria ter respondido com a violência, mas reagi a quente. Eu sou contra a violência, mas não pensei, o meu coração estava demasiado despedaçado, e o mister acabou por descobrir e pôs-nos de castigo. Começou por ser duas semanas sem jogar ou treinar, mas o mister acabou por mudar de ideias e reduzir o nosso castigo para metade, só que para não mancharem a minha reputação e do Filipe e com a necessidade de justificar o injustificável inventaram esta lesão.

-Provavelmente no teu lugar faria o mesmo. - Pedro olhou para Matilde completamente surpreendido, esperava tudo menos aquelas palavras. - Não sei se o Filipe é realmente teu amigo ou não, prefiro não me meter, mas esta atitude não foi de amigo. Ele sabia que ela ainda mexia contigo e mesmo assim não parou para pensar que aqueles momentos de orgasmo lhe iriam custar caro, e ela contou-me, não sei se foi por te amar ou não, não faço ideia, no lugar dela não o faria, por isso no teu lugar faria exatamente o mesmo, acho que lhe espetava bem mais que um soco e era bem merecido!

-Não me estás a censurar por o ter agredido?

-Claro que não. Aliás até te dou razão, o que ele fez não foi de amigo e tu tinhas de te defender e reagiste a quente, não pensaste! O que ele te fez é a pior traição que se pode fazer a um amigo, e ela também não é nenhuma santa, mas não fez tanto mal, afinal ela é teu passado, tua ex, mas ele é teu amigo. E acho que no teu lugar faria o mesmo, deixava-o ainda em pior estado e a ela, acredita que o que tu disseste, parece simpático. - Pedro ficou completamente surpreendido com o que acabara de ouvir.

-Tu aceitas e compreendes o que fiz?

-Na totalidade meu bem. - Passou a mão sobre a face dele. - Não sei se ele realmente é teu amigo, e nem sei se ela também te ama, mas compreendo o teu lugar perfeitamente, o lugar de quem realmente gosta e o que tu fizeste foi incrível. - Pedro abraçou-a, completamente emocionado com o que ela havia dito.

-Não estava nada à espera que dissesses isso... Acredita que me deixou completamente feliz.

-Pedro, meu amor. - Pousou a sua mão sobre a dele. - Somos amigos, lembraste? Prefiro que sejas totalmente sincero comigo e me digas o que pensas, sentes e o que fizeste do que descobrir pelos outros, por muito que me magoe. - Pedro hesitou, talvez fosse melhor contar-lhe que ele se havia envolvido com Sofia há poucos dias, mas sabia que isso a iria destruir por completo, iria fazê-la sofrer tanto como ele sofria, e ele gostava demasiado dela para lhe sujeitar a essa dor.

-Só não te contei nada disto, não foi por não querer, mas simplesmente não encontrava as palavras certas e a altura ideal, entendes?

-Entendo, mas para a próxima sê completamente sincero comigo, desde o início.

(Passado algumas horas)
Pedro não queria acreditar... A mulher que mais amava estava nos braços de uma pessoa que considerava amigo e ambos arracaram-lhe o coração, pelas costas, despedaçaram-no e queimaram-no, mesmo à sua frente e ele nada podia fazer. A rapariga que o amava estava deitada na cama, completamente despida e depois de lhe ter entregue a sua primeira vez. Mesmo assim não conseguia controlar as suas lágrimas, queria reconstruir e viver uma nova vida e feliz ao lado de Matilde, mas não conseguia. Era impossível. Por isso decidiu pegar num papel e escrever:

Filipe,
É a lutar contra o orgulho de ainda a amar e, saber que para sempre o farei, mas também com a certeza que ela agora é inteiramente tua que te escrevo esta carta. Infelizmente não valorizei a Sofia como ela merecia e quero evitar que o faças também, ela merece ser feliz e senão o foi comigo, espero que o seja contigo, e por isso peço-te por favor que nunca a faças chorar, fá-la feliz, para sempre, mas todos os dias um pouco mais.
Surpreende-a durante a madrugada. Levanta-te da cama, e vai ter com ela, mesmo que o frio do corredor te assuste, fá-lo, porque ela acorda a meio da madrugada a sentir-se sozinha e espera que tu o saibas. Não precisas de dizer nada, deita-te ao lado dela e conforta-a. Acredita que a farás feliz com um pequeno gesto como este, porque ela não te quis acordar para não te incomodar, mesmo que tu lhe tenhas dito milhões de vezes que nunca o fará, o seu receio é... Que sejam apenas palavras. Quando estiverem em silêncio há demasiado tempo beija-a e diz o quanto a amas, porque ela é demasiado pensativa e provavelmente vai começar a achar problemas onde não os há. Dá-lhe a mão enquanto estiveres com os teus amigos, acredita que ela nunca se esquecerá disso, valerá mais esse momento que tantas outras palavras bonitas que lhe possas dizer no íntimo, para ela é importante demonstrares a todos que ela é a “tua miúda” e não a de mais ninguém. A Sofia não fala por palavras mas por gestos, ela não é daquele tipo de raparigas que fala sobre o seu dia, é daquelas que espera que chegas ao pé dela e lhe perguntes e mesmo que ela diga que está tudo bem insiste, provavelmente deverás abraçá-la e ela irá chorar nos teus braços, escuta-a. Tu és além de um namorado, um amigo e um companheiro.
Mas falando de outros assuntos... A Sofia gosta que a acordes com um beijo no pescoço e comeces a agarrar onde ela gosta, no fundo gosta de ser surpreendida. Gosta de “rapidinhas” principalmente em sítios onde pode ser apanhada facilmente. Não te posso revelar mais, é demasiado perturbante fazê-lo.
Quando estiverem irritados um com o outro, insiste mas não demasiado, quando ela se sentir melhor irá ter contigo e irá falar, respeita o espaço dela. A meio de uma discussão cala-a com um beijo, acredita que tudo ficará melhor depois disso. Nunca lhe vires a cara, ela vai entender isso como uma deceção, vai chamar-te desatento mentalmente e vai virar a cara para o outro lado também. Ela adora surpresas, não precisa de ser uma viagem nem de gastares demasiado dinheiro e tempo numa, basta apenas comprares-lhe um ramo de flores e ires buscá-la à escola. Vai gostar de te exibir a todos, não pelo teu aspeto, nem para dizerem que são namorados, mas para mostrar a todos o quanto és maravilhoso e ela te adora.
Não lhe faças promessas que nunca podes cumprir, ela chorará dias e noites por causa disso, e não gosta de ciúmes, eu tive-os loucamente por tua causa, mas para ela não faz sentido, porque todos os rapazes são feios e não são nada ao pé de ti, até pode comentar algo sobre algum outro rapaz ao pé de ti, mas é só para testar os teus ciúmes.
Talvez ela nunca tenha recuperado da morte do nosso filho, talvez nunca o faça, mas deixa-a falar sobre isso, oferece-lhe os teus braços para ela chorar e deixa-a desabafar, não a julgues por favor. Não a interrompas, e não digas que entendes quando não o faças, sê sincero, através de um olhar ela consegue descodificar-te. Ela entrega-se ao máximo em cada relação e não ama pelas metades, ou ama por completo ou não, simples. Ela quer apenas encontrar alguém que cuida bem dela. E não sei dizer-te porque é que é tão difícil, sabes? Mas tenta cuidar dela porque agora ela é tua. Não volta atrás nem perde tempo à procura de um amor que foi para algum lugar que não conhece. Para a Sofia, o amor só pode ser justificado com amor, acredita em mudanças, mas apenas por amor e para ela, uma coisa não pode ser boa se a faz chorar mais do que sorrir. Perde-te nesse sorriso que ela exibe para ti sem receio algum e sente-te realizado. Sente-te realizado por teres os melhores lábios contigo, por teres o melhor beijo sem hora nem data marcada. E por favor, retribui todos os sorrisos dela. A única coisa que ela pede para retribuir todo este amor é apenas o teu amor.
Ela pode ter todos os interessados do mundo a seus pés, mas para ela só existes tu. Vai apaixonar-se ainda mais por ti em cada chamada inesperada, em cada beijo roubado e por cada elogio sincero e sem aviso. Não suporta a indiferença. Aprende a respirar fundo e a organizar as palavras antes de as dizeres porque basta uma palavra dita no timing errado ou o tom de voz diferente que vais ferir o enorme mas frágil coração. Acredita que depois da Sofia passar pela tua vida, nada mais será como antes.
Deixa-a chamar-te de idiota com um sorriso na cara e chamar-te amor a meio de uma discussão, ela está a dizer-te que te ama no meio daquela forma de ser tão pura e ingénua. Ela gosta de praia, da areia a tocar-lhe na pele e a remexer nos seus dedos dos pés, gosta de passeios à beira-mar com a brisa do mar a embaraçar os seus cabelos. Gosta que sejas possessivo mas não em demasia, irá perguntar-te quantas vezes conseguir se pode vestir-se de forma provocadora, tu deverás responder que ela só o deverá fazer contigo, ela irá sorrir. Está sempre à procura de bons motivos para sorrir e dos melhores momentos para guardar na memória, então dá-lhe motivos de sobra para ela voltar bem para casa e fá-la encontrar em ti os melhores momentos que ela possa ter. Não é como a maior parte das raparigas, não gosta de ir atrás quando a “mandam para trás”, gosta que o façam para sentir que tu te preocupas. Mas acredita que ela melhor do ninguém, sabe fingir que não se preocupa e acredita em mim, o fingimento dói sempre mais. Sê sempre sincero com ela, nunca lhe mintas, porque tal como eu te disse, através de um olhar ela consegue descodificar-te.
E o meu último pedido a fazer-te e o conselho mais importante, ama-a com todo o teu coração e com toda a tua existência, ama-a sem limites.

Ama-a e cuida-a como eu nunca soube fazer.
Pedro Rebocho

Será que Pedro terá coragem de entregar a carta a Filipe?

Será que vai lutar por Matilde? Ou tentar reconquistar Sofia?

3 comentários:

  1. Olá

    Adorei *_* O Pedro devia entregar a carta, mas acho que ela ficava melhor com o Pedro hehe


    Beijinhos


    Catarina

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  2. Olá!
    Bem, estes casalinhos andam atribulados (para não variar).
    Contudo, acho que a Sofia e o Filipe estão melhor encaminhados. Estao a ser totalmente sinceros e a partilhar coisas que consideram importantes.
    Já o Pedro e a Matilde não me parecem nada bem mesmo que ela pense que sim. O Pedro disse coisas muito bonitas mas pouco ou nada verdadeiras. A conversa que teve com a Matilde e a carta que escreveu ao Filipe chocam por completo. Se a Matilde lê-se a carta sentir-se-ia arrasada. O Pedro não está a ser justo nem com ele próprio nem com a Matilde e isto tem tudo para acabar mal.
    Espero o próximo!

    Beso
    Ana Santos

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  3. Olá :)
    Gostei muito deste capitulo :)
    Espero que o Pedro entregue a carta ao Filipe e sinceramente acho que não irá lutar pela Matilde, porque ele ama a Soff...mas a Soff está tão bem com o Filipe, que eu acho que o ex-casal não irá voltar a ser o que era antes.
    Próximo bjs

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