sábado, 12 de abril de 2014

Capítulo 03: “Ele... Ele... Tem... Outra...”


Filipe não estava á espera de uma história tão intensa, não podia nunca imaginar que o pai dela, lhe fizesse uma crueldade tão desumana. Diogo sabia de quase toda a história. Sabia que o pai nunca gostara de Pedro e que obrigara Sofia a ir para Espinho para a afastar dele, mas não podia nunca, nem imaginar, que a tinha forçado a abortar. O sonho da irmã podia-se ter tornado realidade, senão fosse as atitudes questionáveis do pai.
O primeiro a reagir foi Filipe, que limitou-se a abraça-la como não era abraçada há muito tempo. E Sofia chorou durante bastante tempo, não havia ninguém á excepção da mãe que sabia toda a história desde o começo. Por isso mesmo, não havia ninguém que lhe pudesse dar todo o apoio que necessitava.

-Sofia. – Sussurrou-lhe. – Não sei o que te dizer. Só me apetece abraçar-te e nunca mais te largar. – Disse apertando-a mais nos seus braços. Diogo pousou a mão sobre a mão da irmã.

-Eu não acredito que ele te fez isso. – Disse sem reação possível. –Ele não pode, não tinha coragem... – Disse agonizado e mal disposto só de pensar naquela hipótese. Sofia foi mais forte, controlou as lágrimas e encarou pela primeira vez o problema, não o evitando.

-Mas fez Diogo. Magoou-me muito e nunca pediu desculpa ou mostrou um sinal de arrependimento. Mereço este sofrimento, mas quem deixei para trás não merecia... – Sofia não conseguiu manter a pacificidade e começou a chorar, ainda não era forte o suficiente para conversar sobre o que se havia passado sem chorar, sem sentir uma repulsa e uma náusea por si própria. Sempre que falava sobre o que havia passado, era como se os cortes se voltassem a abrir e a dor agoniante voltasse. Depois de alguns largos minutos a chorar é que conseguiu acalmar-se e exausta por tantas lágrimas derramadas, da longa viagem que fizera e todas as emoções que sentira adormeceu com a cabeça pousada no colo do irmão e com os pés sobre as pernas de Filipe.
Acordou passado algum tempo com o corpo a doer-lhe, apesar de ter adormecido numa posição que lhe parecera confortável. Mas ao contrário de quando tinha adormecido, a sua cabeça não estava pousada no colo do irmão, mas sim numa almofada e os pés estavam descalços e sobre o sofá.

-Diogo, Pipo. – Levantou-se e começou a procurá-los pela casa.

-Querida vem á cozinha! – Ouviu uma voz bastante simpática e convidativa chamar por si e começou a percorrer a casa á procura donde viria aquela voz, assim que encontrou, deparou-se com uma senhora de meia idade que formou um sorriso na cara quando a viu.– Presumo que sejas a Sofia.

-Sim. – Respondeu envergonhada. –E presumo que seja a mãe do Filipe. – Disse não mencionado a alcunha pela qual o chamava.

-Sim, querida. O Filipe foi só levar o teu irmão ao centro de treinos e já deve estar a chegar.

-Obrigada e desculpe o incómodo. Vou só esperar que o Filipe chegue e já me vou embora.

-Sofia senta-te aqui. – Puxou uma cadeira da mesa da cozinha e apontou para a cadeira ao seu lado, como que convidando-a para se sentar. Sofia obedeceu. – O Diogo e o Filipe, Pipo como tu chamas, estiveram-me a explicar a tua situação e estou disposta a ajudar-te, podes ficar aqui o tempo que quiseres. – Disse voluntariamente. – Não temos mais camas cá em casa e o sofá não é tão confortável quanto parece. – Bem que o diga! Comentou Sofia para si mesma. – Mas logo á noite vou ter com o meu marido ao trabalho e vamos comprar um colchão para o Filipe dormir enquanto aqui estiveres. Tens é de partilhar o quarto com ele, e acredita quanto te digo que ele não é um bom exemplo de arrumação. – Sorriram.

-Só iria incomodar e dar problemas, não se incomode, arranjarei outro sítio para ficar.

-Levo a mal senão aceitares o meu convite. – Sofia deu-se por vencida.

-Então faço questão de lhe pagar, por enquanto não tenho muito mas é uma boa ajuda. E quando tiver mais, juro que pago todas e quaisquer despesas que dê.

-Deixa-te estar querida. Faço-o de boa vontade, não quero nada em troca.

-Não sei como lhe agradecer por tudo. De coração. E nem sequer sei o seu nome... – Disse ainda mais envergonhada.

-Maria. Maria Nascimento. E nada de donas, nem senhoras, o meu primeiro nome é Maria. – Sorriram e Sofia entendeu logo o que a mãe de Filipe queria dizer. – Queres ajuda para levares as tuas coisas para o quarto Sofia?

-Não se incomode. – Antes de virar costas repetiu. –Obrigada mais uma vez por tudo.

-É de boa vontade que te ajudo. Querida, tens no quarto do Filipe um armário que ele não usa, não é muito grande, mas sempre podes lá guardar as tuas coisas e as malas podem ir para o armário dele.

-Se lhe agradecer mais alguma vez é capaz de se chatear, por isso, se me dá licença vou arrumar as minhas roupas. – Sorriu e foi até á sala buscar as malas e foi até ao quarto e pousou-as no chão. O quarto era bastante grande, por isso havia espaço para deixar as malas e para colocar um colchão. Procurou o armário que Maria tinha falado e depois de o encontrar começou a arrumar as roupas.

-Olá Soff! – Disse Filipe a entrar no quarto. – Desculpa não te termos dito nada mas estavas a dormir tão bem que te deixei estar. E o Diogo teve mesmo de ir embora.

-Mas já é assim tão tarde?

-Não. São 19h e pouco.

-Tive pena de não lhe dar um beijinho mas eu depois falo com ele.

-Amanhã só temos treino á tarde, se quiseres podemos passar o dia juntos.

-Tenho é que ir á escola de manhã, preciso de saber se está tudo bem com a minha matrícula, ver qual é a minha turma e horário e quais os livros que preciso e claro, se há alguma forma de os ter sem pagar, ou a pagar menos.

-Estás a tirar que curso?

-Estou em letras, porquê?

-No décimo segundo ano, certo?

-Sim.

-Ficas então com os meus livros do ano passado, duvido que tenham mudado.

-Obrigada Pipo! Não sei como te agradecer por tudo!

-Para que servem os amigos?

-Mas os teus pais não têm e não deviam sustentar-me, e tu estás a ser incansável comigo. Obrigada! – Deu-lhe um abraço e um beijinho e com a proximidade que havia, acabou por tocar nos ombros de Filipe. Naquele último ano, tinha desenvolvido bastante. A voz estava mais grossa, o corpo outrora magro, dera lugar os músculos e os ombros estavam mais largos e Sofia não conseguiu evitar tocar-lhe. Era um grande amigo seu, talvez o melhor depois do seu irmão, mas como era possível ficar-lhe indiferente? Durante aquele último ano não tinha deixado que nenhum rapaz se aproximasse, afastara todos os interessados e não olhou para nenhum rapaz, iria ser fiel a Pedro. Mas Filipe era tão bonito, por dentro como por fora. E ela, estava carente. Mas não iria trair o seu namorado, não iria estragar uma amizade e magoar duas pessoas que tanto gostava somente por causa de uma atracção física.

-Meninos, mesa! – Anunciou a mãe de Filipe. Separaram-se e foram até á cozinha onde jantaram e Maria depois de terminarem a refeição, foi embora ter com o marido para comprarem o colchão e depois, começaram também a arrumar a roupa que Sofia havia trazido pelo quarto.

-Se soubesse que estavas em Espinho, tinha ido ter contigo.

-Não tinhas como saber. Mas acredita que nunca desconfiei do valor da nossa amizade.

-Podia ter feito tantas coisas mais, podia ter pressionado mais o teu irmão, podia ter ido até Espinho á tua procura, nem que fosse para perguntar aos teus pais.

-Não te sintas culpado, o meu pai nunca te iria dizer, e o meu irmão não te poderia dizer, porque nem ele sabia.

-Como é que e possível? Ele é teu irmão...

-Sim. Mas o meu pai disse-lhe que fui para um colégio interno.

-Os teus pais já te ligaram? – Perguntou Filipe, mudado de assunto rapidamente.

-Não. Não são meus pais. Ela é minha mãe, mas aquele... Monstro, não é meu pai. Demito-me a acreditar que ele é sangue do meu sangue, senão não me teria feito o que fez. Mas não quero falar sobre isto. – Disse com a mágoa bastante presente na voz.- Mas sim, já me ligaram umas quantas vezes mas nunca atendi.

-E algum dia, ou alguma vez vais atender?

-Não sei. Estou é a pensar mudar de número.

-Põe-te no lugar da tua mãe, não ias gostar de não saber onde está a tua filha.

-A minha mãe é a pessoa que menos culpa tem, e não merece isto. Mas por enquanto, não tenho coragem de falar com ela.

-Mas sabes que é provável que ela desconfie que estejas aqui.

-Depois penso nisso. – Disse claramente a mudar o rumo da conversa. E depois de arrumarem a cozinha, verificaram se os livros estavam todos em ordem, claramente usados mas em bom estado para serem reutilizados.
Sofia estava exausta e Filipe não parou quieto durante o dia, por isso estavam com sono e acabaram por se deitar na cama dele e adormecerem. Era uma cama de solteiro, não era confortável para duas pessoas, mas tentaram ao máximo manter a distância. Filipe acordou quando os pais chegaram, ao contrário de Sofia.
Com o cansaço deixaram-se adormecer até às 11h, e depois de prontos, puseram-se a caminho da escola, Filipe optou por ficar no carro a ler um livro, enquanto Sofia vou verificar a sua turma, os horários e se a transferência tinha sido totalmente aceite. Depois de tudo preparado saiu da escola confiante que iria recuperar a vida que tivera outrora, aquele era o primeiro passo. Quando ao sair deparou-se com algo que nunca imaginara. Algo que partiu o coração em milhões de pedaços.


Pedro estava a beijar outra rapariga. Pedro tinha outra pessoa... E Sofia sentiu  o seu mundo ruir mesmo por debaixo dos seus pés. Não o podia censurar por ter outra pessoa, ela tinha-o abandonado e ele estava a lutar pela sua felicidade. Ela não o iria abandonar, não iria matar um filho, talvez ele a merecesse como não merecia Sofia, e talvez ela iria limitar-se a amá-lo e a fazê-lo feliz. Ele estava feliz, era o que mais importava, mas não podia sentir-se feliz com a felicidade dele, ao lado de outra pessoa. Foi até ao carro, sem nunca derramar uma lágrima e entrou para o lugar do pendura.
Entrou no carro sem dizer uma única palavra, nem cumprimentar o amigo, só conseguia pensar no que acabara de ver. Ele estava feliz... Mas aquela felicidade, custara-lhe a sua felicidade.

-Que se passou Sofia?

-Não fales por favor. Leva-me apenas para casa. – Filipe obedeceu ao pedido de Sofia e conduziu até casa, ligou o rádio mas ela desligou-o. Queria apenas sair daquele sítio, em silêncio absoluto.
Filipe estacionou o carro enquanto caminhavam até casa, ele sentia-se a cada momento mais impotente, mas iria respeitar o pedido da amiga.
Quando chegaram a casa, almoçaram num silêncio assustador e profundo, depois de terminaram Sofia pediu para arrumar a cozinha sozinha e Filipe obedeceu, deixando-a sozinha. Mas ela sabia bem o porquê daquele pedido, iria pôr um termo á vida. Abriu a gaveta dos talheres e tirou de lá a maior faca que existia, olhou para ela e pensou:

“Se tu falhares não sei o que mais me mata”

Continuou a olhar e a perguntar a si mesma se faria mais cortes nos pulsos, como havia feito antes e tinha acabado por sobreviver, ou se faria na garganta,  que sem dúvida seria fatal.
Mas Filipe regressou á cozinha e disse:

-Tens a certeza que não queres ajuda? – Mas ao entrar na cozinha deparou-se com aquela cena.Sofia tinha uma grande faca na mão, e estava a olhar para ela e a colocá-la junto á pele. Correu até ao seu encontro e abraçou-a. – Sofia, não te vou perder outra vez, ouviste? – Disse atirando a faca para o chão, e abraçou a amiga com toda a força. –Por favor, explica-me o que se passou.

-Ele... Ele... Tem... Outra... – Sofia não conseguiu conter as emoções. 

-A única pessoa que merece as tuas lágrimas é a única que nunca te fará chorar. – E começou a limpar as lágrimas que corriam a face de Sofia, mas o corpo dela continuava a tremer, com os nervos que sentia. – Tem calma, eu protego-te. – Agarrou nas mãos de Sofia e olhou-a. – Não me voltes a deixar, promete-me. – Filipe suplicara-lhe com as palavras e com o olhar. Aquele momento tornou-se mais do que um momento de amizade, porque num impulso beijaram-se. Mas Filipe depois de inicialmente se ter deixado levar, acabou por separa os lábios e dizer. –Não Sofia, estás carente. – Mas ela não lhe deu ouvidos. Continuou a beijá-lo e desta vez mais nenhum parou com o que viria a ser uma série de beijos. Não exista um amor que os unisse, apenas existia um sentimento de desejo.
Filipe fez Sofia sentar-se na mesa da cozinha de pernas aberta para si, e enquanto se beijavam, começou a explorar-lhe o corpo. A tocar-lhe em zonas que nunca pensara, explorando as suas ancas e as pernas. Sofia conhecia bem qual era o rumo que tomava e decidiu despiu-lhe a t-shirt. Que lhe respondeu também despindo-a. Ergueu-se da mesa e colocou-se a mão no peito dele e fê-lo ir até ao quarto. Quando lá chegaram, Sofia saltou para o colo dele, ficando presa apenas com as pernas no corpo dele. Os beijos eram intensos mas deixavam de ser nos lábios, Filipe começou a ser mais ousado e a explorar o peito de Sofia, que a levava a sentir pequenos espasmos de prazer. Tão depressa como tinha tudo surgido aquele momento de loucura, as calças de Filipe sairam do seu corpo e os calções dela foram de encontro ao chão. Estavam já em roupa interior, e deitados na cama quando ele disse:

-Isto é um erro. – Tarde demais, pensou Sofia para si mesma.

-Cala-te! – Ordenou e beijou-o e com os desejos carnais bem presentes. Não pensaram em mais anda, apenas em saborearam aquele momento ao máximo. A (pouca) roupa que tinham no corpo desapareceu, e o desejo já antes presente começara a ganhar enormes preporções. Colocaram o preservativo bastante á pressa, sem tomarem em atenção o facto de ficar bem ou mal posto e começaram a fazer sexo. Não era amor, sabiam-no, era apenas os desejos carnais a vencerem a racionalidade e a lógica.
Sexo selvagem, louco e prazeroso foi o que viveram durante imenso tempo, de todas as formas loucas e imagináveis. Deram ouvidos a uma série de loucuras que tinham em mentes e conheceram sentimentos que de todo desconheciam. Nunca tinham vivido algo assim e nunca tinha acontecido envolverem-se com uma pessoa que não amassem. Ambos estavam apaixonados por outras pessoas e acabaram por deixar isso bem claro, enquanto Sofia gritava por Pedro, Filipe gritara também Jéssica. Nenhum deles deu importância ao que gritavam. Aquele era somente um momento prazeroso e sem compromisso da vida de ambos, que pela primeira vez se cruzara.

Não sabiam ao certo a que horas chegava a mãe de Filipe e a loucura da luta contra o tempo ainda lhes dava mais vontade de arriscar, de desafiar o perigo. Só terminaram quando os corpos já não aguentavam mais.

-Uau. – Disse Sofia sentando-se na cama enquanto Filipe vestia os boxers. –Isto foi uma loucura que soube mesmo bem.

-Mais tarde falamos sobre isto. - Disse envergonhado e nervoso á procura das roupas que estavam espalhadas pelo quarto e vestindo-as ao ritmo que as encontrava. Olhou para o relógio. – Vou chegar atrasado ao treino e neste estado. – Disse referindo-se á suor que lhe escorria pelo corpo. – Senão te importares dá um jeitinho ao quarto que eu tenho mesmo de ir. – Deu-lhe um beijo na testa e foi-se embora e Sofia ficou novamente sozinha, sem saber o que fazer.

Como ficará a relação de Sofia e Filipe?
Será que Diogo vai descobrir? Será que Sofia vai ter de deixar a casa dele?

4 comentários:

  1. Olá...bem...que capitulo :O
    Estou completamente KO :o
    Depois disto...espero que a relação de amizade do Filipe e da Sofia não se estrague e se avançar para algo mais...que avance...porque ambos merecem pessoas melhores que tiveram nas relações anteriores.
    Se o Diogo descobrir...que não reaja mal e espero que a Sofia não deixe a casa onde mora :)
    Espero pelo próximo sff bjs

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  2. Fabuloso...

    Quero mais... Continua...

    Tou super curiosa para ver o próximo...

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  3. Uma palavra : wow !
    Isto eu não estava a espera. Quer dizer da parte do Pedro ter outra pessoa eu esperava. Até te tinha dito isso acho eu. Se não disse pensei!
    Mas fiquei completamente parva quando li que a Sofia pensou em matar se e desta vez parecia mais segura do que nunca. No fundo "percebo-a" no sentido em que ela passou o último ano a tentar arranjar condições para recomeçar a sua vida e depois sente que já não vem a tempo de recuperar quem mais ama!
    Mas esta cena com o Filipe nem nos meus maiores momentos de imaginação eu poderia adivinhar! Jasus eles fizeram-no! E com muita vontade diga se de passagem.
    Posta rapidinho que eu quero as respostas aquelas perguntas finais!

    Besito
    Ana Santos

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  4. Olá

    Adoreiiiiiiiii *_*


    Beijinhos


    Catarina

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