Sofia sentia-se sozinha no
mundo. Tinha de enfrentar, uma vez mais, uma dura e triste realidade. Mas, ao
contrário da primeira vez, tinha de enfrentar olhos nos olhos uma realidade que
escolhera. Ninguém a obrigara a “dormir” com Filipe, tinha sido ela a escolher
fazê-lo. E tinha de lidar com as consequências dos seus actos. O que acontecera
com Filipe, tinha sido um impulso, um desejo de se sentir amada, porque depois
de ver Pedro a beijar outra rapariga e a tocar-lhe como tocava a si, sentiu-se
traída e humilhada. E tentou tapar a ferida, nem que fosse durante algum tempo,
com Filipe. Mas a ferida iria abrir e sangrar mais uma vez.
As lágrimas começaram a
escorrer-lhe pelo rosto e Sofia não conseguia pará-las, sentia que tinha traído
Pedro, que tinha “usado” Filipe e tinha magoado a si própria, não tinha
resistido aos seus pensamentos e aos seus desejos carnais, embora o coração
dissesse que amava Pedro e que sempre o amaria. Sofia sentia que tinha falhado,
que não o devia ter feito. Por isso só podia fazer uma coisa, ir-se embora, Era
o melhor que fazia. Detestava despedidas como ninguém e não consegui-a dizê-lo
em voz alta, por isso enviou uma mensagem de texto a Filipe a dizer:
“Pipo, desculpa a forma como me despeço, tu sabes tão bem
como eu o que aconteceu e que o melhor é agradecer-te por tudo e seguir o meu
caminho. Sabes que és um dos meus melhores amigos e que apesar de tudo não
quero perder esta amizade. Agradece aos teus pais e obrigada também por tudo.
Beijinhos”
Depois de enviar a mensagem,
pegou também num papel para deixar uma mensagem para os pais de António e Maria
Nascimento.
“Obrigada pela vossa simpatia, pela estadia, e pela
atenção que me deram. Motivos mais fortes, obrigaram-me a despedir-me de vocês
mais cedo do que o previsto. Desculpem mais uma vez o incómodo e prometo que
não me esquecerei de vocês. Quando poder pago a despesa que causei e com juros!
Beijinhos e mais uma vez obrigada, Sofia Rochinha”
Deixou o papel em cima da
cama de Filipe e começou a arrumar os seus pertences, não sabia para onde iria,
e muito menos como ficaria, o mais certo era dormir na rua até encontrar um
sítio onde viver. Sabia que podia contar com Diogo, mas não o queria desiludir.
Arrumou o quarto e despediu-se daquela casa. Mas não sem antes, enviar uma
mensagem a Filipe:
“Ficaram algumas coisas minhas em tua casa, quando puder
e tiver como, vou buscá-las”
Saiu de casa, e as lágrimas
escorriam-lhe pelo rosto, magoava-a estar assim. Ainda conseguiu ver António a
entrar em casa, mas fintou-o de forma a ele não a ver. Não conhecia muito bem o
local onde estava, nem para onde ir, sabia apenas que queria um local
minimamente seguro onde pudesse descansar.
Apenas se conseguiu lembrar
de um sítio que seria o seu apoio, alguém que em tempos, fora como um melhor
amigo. A praia. Como não conhecia nenhum local próximo e não podia contar com o
apoio de ninguém, apanhou um táxi. A praia mais próxima era a meia-hora de
carro, por isso teve de tentar falar com um taxista e negociar um preço mais
baixo e conseguiu. Por 20€ conseguiu chegar até á Praia das Maçãs. Assim que
chegou, tirou as malas do carro, pagou ao taxista e começou a caminhar o
passeio que separava a estrada do areal, descalçou-se e sentiu a areia tocar
nos seus dedos dos pés.
O areal... Era bom sentir a
areia a tocar nos seus dedos dos pés, a brisa do mar a bater na sua pele e o
cheiro intenso da maresia . Sentir a brisa fria do mar bater na sua pele e
causar um calafrio, era bom sentir-se novamente em casa, sentir todas aquelas
sensações que não sentia há um ano. A sua casa em Espinho era próxima do mar,
mas nunca tivera a coragem de ir á praia depois do que tentou fazer e era bom
matar saudades do mar, aquele que já fora um dos seus melhores amigos.
Aproximou-se do mar e pousou as malas no chão, sentou-se e nada a fazia
sentir-se melhor, era uma sensação de calma e pacificidade que não conseguia
explicar. Respirou fundo e pela primeira vez, desde há muito tempo, sentiu-se
verdadeiramente bem. Sorriu e ficou a conversar com o mar durante bastante
tempo, sentia saudades daqueles momentos, daquelas respostas que o mar lhe dava
através da força das ondas, ou da ausência delas.
As horas foram passando e o
telemóvel continuava a tocar, Sofia nunca atendia. A mãe já lhe ligara várias
vezes, o pai também, mas se á sua própria progenitora não atendia a chamada,
não iria conversar com o homem que lhe dera vida, era em parte, ele o culpado
por muito do que lhe acontecera. Mas continuava a olhar para o telemóvel e
acabou por atender. Não o deveria fazer, mas não conseguiu ignorar a chamada de
Filipe.
-Sim? –
Disse Sofia mas não deixou o amigo responder. – Pipo se me vais pedir para voltar a tua casa desiste, depois do que
aconteceu sabes que é o mais acertado que posso fazer.
-Diz-me apenas onde estás. – Respondeu calmamente.
-Praia das Maçãs.
Sofia não iria, nem
conseguia mentir ao seu amigo Filipe. E também não teve de esperar muito tempo
por ele. Bastaram apenas vinte minutos. Quando chegou sentou-se junto á amiga e
falou:
-Sofia, não te vou obrigar a voltares para casa, já te disse que as
portas de minha casa estarão sempre aberta para ti. – Ambos deixavam os
olhares cravados no mar. -O que
aconteceu, já passou, estou disposto a esquecer tudo. E espero que tu também
estejas. Mas sabes que neste momento sou a única pessoa a poder ajudar-te e
quero que aceites a minha ajuda, porque é de coração.
Olharam um para o outro, e
sorriram. Aproximaram-se, sem nunca afastar os olhares e Sofia sussurrou,
baixando a cabeça.
-Não pode voltar a acontecer. – Mas ergueu a cabeça olhando para Filipe.
-É a última vez. –
Disse pousando a mão sobre a sua bochecha esquerda e beijando-a de seguida, e
ela não recusou, retribuiu de igual forma inclusivé.
As roupas que traziam no
corpo rapidamente voaram (mais uma vez), e acabaram por repetir a proeza
daquela tarde. Sabiam que não o deveriam ter feito e aquele local, era público,
qualquer pessoa podia aparecer, mas estavam dispostos a arriscar.
Quando terminaram o que já
tinham feito por diversas vezes naquela tarde, vestiram-se sem nunca trocarem
uma palavra, não sabiam o que dizer, por isso optaram por um silêncio profundo
onde apenas se ouvia as ondas do mar. Filipe embora não tivesse pedido a Sofia
para regressar a casa, ela incentivou-se a ir com ele. Pousaram as malas no
carro e a jovem colocou-se no lugar ao lado do condutor, Filipe ligou o rádio e
começou a conduzir em direção a casa. Não sabiam o que dizer, mas ele sabia que
tinha de falar, tinha de fazê-lo.
-O Diogo está lá em casa. – Respondeu não tirando os olhos da estrada.
-Vai lá jantar? –
Respondeu baixinho, quase que sem coragem de abordar qualquer tema com aquele
que era um dos seus melhores amigos.
-Sim, vai lá jantar e dormir. – Respondeu sereno enquanto a jovem da jovem de Espinho
tremia, assim como o seu corpo, devido a uma série de sentimentos que o seu
coração a fazia sentir. – E acho que ele
merecia saber, Sofia. Pelo que aconteceu... Duas vezes. – Sofia não queria
nem pensar no que tinha acontecido, na desilusão que iria dar ao irmão, mas
sabia que era o mais certo dizer, mas não queria desiludi-lo também a ele.
-Eu preferia não fazê-lo. Sei que o vou desiludir. Mas tu
ainda não lhe disseste? – Tentava esconder o
nervosismo e o medo que tinha a pensar nas palavras com que abordava aquele
tema e na melhor forma de lhe dizer.
-Não, ele só vai saber se tu concordares em dizer. – Respondeu aproximando-se cada vez mais da vila onde
moravam. – Eu acho que ele merecia
saber, compreendo que não queiras dizer mas acho que é melhor ouvir pelas
nossas bocas do que descobrir mais tarde.
-Tenho medo de o desiludir, só o tenho a ele e a ti do
meu lado.
-Posso mentir-te e dizer que ele vai gostar do que vai
ouvir, mas só sabemos depois de lhe dizer qual será a reação dele.
-E se ele deixar de me apoiar? E se ele me abandonar como
fez o Pedro?
-O Diogo gosta imenso de ti, és mais que uma irmã dele,
és uma amiga e ele nunca te vai abandonar.
-Claro que tenho medo que ele me abandone, preciso dele
mas o meu maior medo é ver que o desiludi. E será uma dor maior que todos os
cortes que fiz.
-Há pouco percebi
dos teus cortes... – Não queria dizer
quando o tinha descoberto e não precisou porque rapidamente entendeu. – E quem gosta de ti realmente, vai gostar
acima de qualquer corte ou qualquer outra marca no teu corpo. Não sei como é
que ele vai reagir e sei que vamos desiludi-lo, mas antes isso do que mentir ou
omitir.
-Então vamos lá. –
Filipe estacionou o carro e Sofia continuou a conversar. – Pipo, não quero que os teus pais saibam de nada do que aconteceu. –
Referia-se á sua saída de casa e aos momentos que tinham vivido juntos.
-Nem eu quero que eles saibam, Soff. Sinceramente, acho
que eles pensam que ainda sou virgem.
-Tu eras virgem?
-Não, claro que não.
-Eu também não, descansa. – Sorriu.
Filipe relembrou-se do
momento em que Sofia contara a história do seu último ano de vida mas acabou
por não dizer, sabia que a magoava e imaginava que fosse doloroso falar sobre
ele. Por isso preferiu mudar o rumo da conversa.
-Não te importas de ficar sem as malas até amanhã? É que
se as levarmos os meus pais vão perguntar.
-Não. Amanhã quando vieres do treino diz-me para vir
buscá-las.
-Está bem. Pronta para falarmos com o Diogo?
-Não estou preparada mas vou fazê-lo.
-Vamos, Sofia. –
Relembrou Filipe olhando para a amiga que sorriu. – Não vais fazê-lo sozinha, assim como também não o fizeste.
-Obrigada Pipo. – Tocou
com os dedos na mão do amigo. – E se os
teus pais perguntarem porque é que não tive em casa? – Abrandou enquanto
subiam as escadas da vivenda.
-Dizes que foste tratar de umas coisas da escola mas que
entretanto me esqueci de te ir buscar.
-É uma desculpa um bocado esfarrapada.
-Vai ter de servir Soff.
-Então vamos. –
Acabaram de subir as escadas que davam acesso á casa.
-Olá a todos! –
Disse Filipe entrando em casa e cumprimentou a mãe com dois beijos e
cumprimentado o pai e o amigo com um “passou-bem”. Sofia aproximou-se de todos
e cumprimentou com dois beijos.
-Então que te aconteceu Sofia? – Perguntou Maria, a mãe de Filipe.
-Fui tratar da minha transferência para a escola e o Pipo
esqueceu-se de mim.
-Achas isso bem Filipe Guterres Nascimento?
-Esqueci-me, desculpem! – Respondeu envergonhado.
-Enquanto eu preparo o jantar, vão lá instalar o Diogo
enquanto o teu pai também põe a mesa.
Obedeceram e foram até ao
quarto.
-Vou ter de dormir no sofá ou há espaço aqui no quarto?
-Eu posso ir dormir para o sofá e tu dormes na minha
cama. – Respondeu Filipe.
-Nada disso. –
Respondeu Sofia. – No colchão cabemos os
dois, até porque não és propriamente muito grande. – Disse Sofia brincando
com a baixa estatura de Diogo e Filipe respondeu rindo-se juntamente com ela.
-Hei! –
Disse Diogo chamando a atenção. – Deixem
lá o meu 1,66 em paz!
-Mas agora falando de assuntos sérios. – Disse Filipe. Sofia levantou-se e sentou-se ao lado dele,
deixando Diogo sozinho no colchão, que rapidamente entendeu que o assunto era
bastante sério e envolvia ambos.
-Meninos para a mesa!
– Disse Maria.
-Dá-nos 10 minutos e já vamos mãe!
-Que é que se passou? Foi algo de grave?
Será
que vão conseguir dizer o que se passou?
Será
que vai aceitar bem o que aconteceu ou ficará desiludido? O que ditará o futuro
de Sofia?
Olá :)
ResponderEliminarGostei muito deste capitulo :)
Sinceramente já me ocorreu que a Soff merece ficar com o Pipo...mas o pedro é o pedro :)
Epah!...detesto quando se vai começar uma conversa séria e alguém chama :p
Espero que consigam dizer o que se passou por duas vezes, espero que o Diogo aceite bem e espero também que isto não dite nada d emau para o futuro da Soff, ela já sofreu muito e não merece mais sofrimento :)
Próximo sff bjs
2 vezes? Eh la! Isso já não é carência, eles tomaram -lhe o gosto :p
ResponderEliminarNão sei o que esperar para o futuro desta história! Ela pode tombar para qualquer lado. Nunca se sabe que se com estes deslizes começam a aparecer outro tipo de sentimentos para não falar que nunca se sabe se os meninos foram ajuizados para que daqui a 9 meses não hajam surpresas! E ainda falta ver como tudo vai ficar quando o Pedro souber que a Sofia voltou, quando a voltar a ver! Aiiii quero o próximo!
Beso
Ana Santos
Olá
ResponderEliminarO Filipe é tão querido *_*
Mais ...
Beijinhos
Catarina