sexta-feira, 2 de maio de 2014

Capítulo 04: “Simplesmente... Aconteceu”


Sofia sentia-se sozinha no mundo. Tinha de enfrentar, uma vez mais, uma dura e triste realidade. Mas, ao contrário da primeira vez, tinha de enfrentar olhos nos olhos uma realidade que escolhera. Ninguém a obrigara a “dormir” com Filipe, tinha sido ela a escolher fazê-lo. E tinha de lidar com as consequências dos seus actos. O que acontecera com Filipe, tinha sido um impulso, um desejo de se sentir amada, porque depois de ver Pedro a beijar outra rapariga e a tocar-lhe como tocava a si, sentiu-se traída e humilhada. E tentou tapar a ferida, nem que fosse durante algum tempo, com Filipe. Mas a ferida iria abrir e sangrar mais uma vez. 
As lágrimas começaram a escorrer-lhe pelo rosto e Sofia não conseguia pará-las, sentia que tinha traído Pedro, que tinha “usado” Filipe e tinha magoado a si própria, não tinha resistido aos seus pensamentos e aos seus desejos carnais, embora o coração dissesse que amava Pedro e que sempre o amaria. Sofia sentia que tinha falhado, que não o devia ter feito. Por isso só podia fazer uma coisa, ir-se embora, Era o melhor que fazia. Detestava despedidas como ninguém e não consegui-a dizê-lo em voz alta, por isso enviou uma mensagem de texto a Filipe a dizer:

“Pipo, desculpa a forma como me despeço, tu sabes tão bem como eu o que aconteceu e que o melhor é agradecer-te por tudo e seguir o meu caminho. Sabes que és um dos meus melhores amigos e que apesar de tudo não quero perder esta amizade. Agradece aos teus pais e obrigada também por tudo. Beijinhos”

Depois de enviar a mensagem, pegou também num papel para deixar uma mensagem para os pais de António e Maria Nascimento.

“Obrigada pela vossa simpatia, pela estadia, e pela atenção que me deram. Motivos mais fortes, obrigaram-me a despedir-me de vocês mais cedo do que o previsto. Desculpem mais uma vez o incómodo e prometo que não me esquecerei de vocês. Quando poder pago a despesa que causei e com juros!
Beijinhos e mais uma vez obrigada, Sofia Rochinha”

Deixou o papel em cima da cama de Filipe e começou a arrumar os seus pertences, não sabia para onde iria, e muito menos como ficaria, o mais certo era dormir na rua até encontrar um sítio onde viver. Sabia que podia contar com Diogo, mas não o queria desiludir. Arrumou o quarto e despediu-se daquela casa. Mas não sem antes, enviar uma mensagem a Filipe:

“Ficaram algumas coisas minhas em tua casa, quando puder e tiver como, vou buscá-las”

Saiu de casa, e as lágrimas escorriam-lhe pelo rosto, magoava-a estar assim. Ainda conseguiu ver António a entrar em casa, mas fintou-o de forma a ele não a ver. Não conhecia muito bem o local onde estava, nem para onde ir, sabia apenas que queria um local minimamente seguro onde pudesse descansar.

Apenas se conseguiu lembrar de um sítio que seria o seu apoio, alguém que em tempos, fora como um melhor amigo. A praia. Como não conhecia nenhum local próximo e não podia contar com o apoio de ninguém, apanhou um táxi. A praia mais próxima era a meia-hora de carro, por isso teve de tentar falar com um taxista e negociar um preço mais baixo e conseguiu. Por 20€ conseguiu chegar até á Praia das Maçãs. Assim que chegou, tirou as malas do carro, pagou ao taxista e começou a caminhar o passeio que separava a estrada do areal, descalçou-se e sentiu a areia tocar nos seus dedos dos pés.

O areal... Era bom sentir a areia a tocar nos seus dedos dos pés, a brisa do mar a bater na sua pele e o cheiro intenso da maresia . Sentir a brisa fria do mar bater na sua pele e causar um calafrio, era bom sentir-se novamente em casa, sentir todas aquelas sensações que não sentia há um ano. A sua casa em Espinho era próxima do mar, mas nunca tivera a coragem de ir á praia depois do que tentou fazer e era bom matar saudades do mar, aquele que já fora um dos seus melhores amigos. Aproximou-se do mar e pousou as malas no chão, sentou-se e nada a fazia sentir-se melhor, era uma sensação de calma e pacificidade que não conseguia explicar. Respirou fundo e pela primeira vez, desde há muito tempo, sentiu-se verdadeiramente bem. Sorriu e ficou a conversar com o mar durante bastante tempo, sentia saudades daqueles momentos, daquelas respostas que o mar lhe dava através da força das ondas, ou da ausência delas.

As horas foram passando e o telemóvel continuava a tocar, Sofia nunca atendia. A mãe já lhe ligara várias vezes, o pai também, mas se á sua própria progenitora não atendia a chamada, não iria conversar com o homem que lhe dera vida, era em parte, ele o culpado por muito do que lhe acontecera. Mas continuava a olhar para o telemóvel e acabou por atender. Não o deveria fazer, mas não conseguiu ignorar a chamada de Filipe.

-Sim? – Disse Sofia mas não deixou o amigo responder. – Pipo se me vais pedir para voltar a tua casa desiste, depois do que aconteceu sabes que é o mais acertado que posso fazer.

-Diz-me apenas onde estás. – Respondeu calmamente.

-Praia das Maçãs.
Sofia não iria, nem conseguia mentir ao seu amigo Filipe. E também não teve de esperar muito tempo por ele. Bastaram apenas vinte minutos. Quando chegou sentou-se junto á amiga e falou:

-Sofia, não te vou obrigar a voltares para casa, já te disse que as portas de minha casa estarão sempre aberta para ti. – Ambos deixavam os olhares cravados no mar. -O que aconteceu, já passou, estou disposto a esquecer tudo. E espero que tu também estejas. Mas sabes que neste momento sou a única pessoa a poder ajudar-te e quero que aceites a minha ajuda, porque é de coração.

Olharam um para o outro, e sorriram. Aproximaram-se, sem nunca afastar os olhares e Sofia sussurrou, baixando a cabeça.

-Não pode voltar a acontecer. – Mas ergueu a cabeça olhando para Filipe.

-É a última vez. – Disse pousando a mão sobre a sua bochecha esquerda e beijando-a de seguida, e ela não recusou, retribuiu de igual forma inclusivé.
As roupas que traziam no corpo rapidamente voaram (mais uma vez), e acabaram por repetir a proeza daquela tarde. Sabiam que não o deveriam ter feito e aquele local, era público, qualquer pessoa podia aparecer, mas estavam dispostos a arriscar.
Quando terminaram o que já tinham feito por diversas vezes naquela tarde, vestiram-se sem nunca trocarem uma palavra, não sabiam o que dizer, por isso optaram por um silêncio profundo onde apenas se ouvia as ondas do mar. Filipe embora não tivesse pedido a Sofia para regressar a casa, ela incentivou-se a ir com ele. Pousaram as malas no carro e a jovem colocou-se no lugar ao lado do condutor, Filipe ligou o rádio e começou a conduzir em direção a casa. Não sabiam o que dizer, mas ele sabia que tinha de falar, tinha de fazê-lo.

-O Diogo está lá em casa. – Respondeu não tirando os olhos da estrada.

-Vai lá jantar? – Respondeu baixinho, quase que sem coragem de abordar qualquer tema com aquele que era um dos seus melhores amigos.

-Sim, vai lá jantar e dormir. – Respondeu sereno enquanto a jovem da jovem de Espinho tremia, assim como o seu corpo, devido a uma série de sentimentos que o seu coração a fazia sentir. – E acho que ele merecia saber, Sofia. Pelo que aconteceu... Duas vezes. – Sofia não queria nem pensar no que tinha acontecido, na desilusão que iria dar ao irmão, mas sabia que era o mais certo dizer, mas não queria desiludi-lo também a ele.

-Eu preferia não fazê-lo. Sei que o vou desiludir. Mas tu ainda não lhe disseste? – Tentava esconder o nervosismo e o medo que tinha a pensar nas palavras com que abordava aquele tema e na melhor forma de lhe dizer.

-Não, ele só vai saber se tu concordares em dizer. – Respondeu aproximando-se cada vez mais da vila onde moravam. – Eu acho que ele merecia saber, compreendo que não queiras dizer mas acho que é melhor ouvir pelas nossas bocas do que descobrir mais tarde.

-Tenho medo de o desiludir, só o tenho a ele e a ti do meu lado.

-Posso mentir-te e dizer que ele vai gostar do que vai ouvir, mas só sabemos depois de lhe dizer qual será a reação dele.

-E se ele deixar de me apoiar? E se ele me abandonar como fez o Pedro?

-O Diogo gosta imenso de ti, és mais que uma irmã dele, és uma amiga e ele nunca te vai abandonar.

-Claro que tenho medo que ele me abandone, preciso dele mas o meu maior medo é ver que o desiludi. E será uma dor maior que todos os cortes que fiz.

-Há pouco percebi dos teus cortes... – Não queria dizer quando o tinha descoberto e não precisou porque rapidamente entendeu. – E quem gosta de ti realmente, vai gostar acima de qualquer corte ou qualquer outra marca no teu corpo. Não sei como é que ele vai reagir e sei que vamos desiludi-lo, mas antes isso do que mentir ou omitir.

-Então vamos lá. – Filipe estacionou o carro e Sofia continuou a conversar. – Pipo, não quero que os teus pais saibam de nada do que aconteceu. – Referia-se á sua saída de casa e aos momentos que tinham vivido juntos.

-Nem eu quero que eles saibam, Soff. Sinceramente, acho que eles pensam que ainda sou virgem.

-Tu eras virgem?

-Não, claro que não.

-Eu também não, descansa. – Sorriu.

Filipe relembrou-se do momento em que Sofia contara a história do seu último ano de vida mas acabou por não dizer, sabia que a magoava e imaginava que fosse doloroso falar sobre ele. Por isso preferiu mudar o rumo da conversa.

-Não te importas de ficar sem as malas até amanhã? É que se as levarmos os meus pais vão perguntar.

-Não. Amanhã quando vieres do treino diz-me para vir buscá-las.

-Está bem. Pronta para falarmos com o Diogo?

-Não estou preparada mas vou fazê-lo.

-Vamos, Sofia. – Relembrou Filipe olhando para a amiga que sorriu. – Não vais fazê-lo sozinha, assim como também não o fizeste.

-Obrigada Pipo. – Tocou com os dedos na mão do amigo. – E se os teus pais perguntarem porque é que não tive em casa? – Abrandou enquanto subiam as escadas da vivenda.

-Dizes que foste tratar de umas coisas da escola mas que entretanto me esqueci de te ir buscar.

-É uma desculpa um bocado esfarrapada.

-Vai ter de servir Soff.

-Então vamos. – Acabaram de subir as escadas que davam acesso á casa.

-Olá a todos! – Disse Filipe entrando em casa e cumprimentou a mãe com dois beijos e cumprimentado o pai e o amigo com um “passou-bem”. Sofia aproximou-se de todos e cumprimentou com dois beijos.

-Então que te aconteceu Sofia? – Perguntou Maria, a mãe de Filipe.

-Fui tratar da minha transferência para a escola e o Pipo esqueceu-se de mim.

-Achas isso bem Filipe Guterres Nascimento?

-Esqueci-me, desculpem! – Respondeu envergonhado.

-Enquanto eu preparo o jantar, vão lá instalar o Diogo enquanto o teu pai também põe a mesa.

Obedeceram e foram até ao quarto.

-Vou ter de dormir no sofá ou há espaço aqui no quarto?

-Eu posso ir dormir para o sofá e tu dormes na minha cama. – Respondeu Filipe.

-Nada disso. – Respondeu Sofia. – No colchão cabemos os dois, até porque não és propriamente muito grande. – Disse Sofia brincando com a baixa estatura de Diogo e Filipe respondeu rindo-se juntamente com ela.

-Hei! – Disse Diogo chamando a atenção. – Deixem lá o meu 1,66 em paz!

-Mas agora falando de assuntos sérios. – Disse Filipe. Sofia levantou-se e sentou-se ao lado dele, deixando Diogo sozinho no colchão, que rapidamente entendeu que o assunto era bastante sério e envolvia ambos.

-Meninos para a mesa! – Disse Maria.

-Dá-nos 10 minutos e já vamos mãe!

-Que é que se passou? Foi algo de grave?

Será que vão conseguir dizer o que se passou?

Será que vai aceitar bem o que aconteceu ou ficará desiludido? O que ditará o futuro de Sofia?

3 comentários:

  1. Olá :)
    Gostei muito deste capitulo :)
    Sinceramente já me ocorreu que a Soff merece ficar com o Pipo...mas o pedro é o pedro :)
    Epah!...detesto quando se vai começar uma conversa séria e alguém chama :p
    Espero que consigam dizer o que se passou por duas vezes, espero que o Diogo aceite bem e espero também que isto não dite nada d emau para o futuro da Soff, ela já sofreu muito e não merece mais sofrimento :)
    Próximo sff bjs

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  2. 2 vezes? Eh la! Isso já não é carência, eles tomaram -lhe o gosto :p
    Não sei o que esperar para o futuro desta história! Ela pode tombar para qualquer lado. Nunca se sabe que se com estes deslizes começam a aparecer outro tipo de sentimentos para não falar que nunca se sabe se os meninos foram ajuizados para que daqui a 9 meses não hajam surpresas! E ainda falta ver como tudo vai ficar quando o Pedro souber que a Sofia voltou, quando a voltar a ver! Aiiii quero o próximo!

    Beso
    Ana Santos

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  3. Olá

    O Filipe é tão querido *_*


    Mais ...


    Beijinhos


    Catarina

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